As cadeias retalhistas presentes no mercado português estão a apostar cada vez mais nos produtores nacionais. Segundo apurou o Dinheiro Vivo, esse valor está entre os 50 e os 90%, dependendo da cadeia.

A Aldi Portugal, que inaugurou recentemente o seu maior centro de distribuição nacional, na Moita, reforçou durante a cerimónia e visita ao espaço a importância desta aposta nos fornecedores nacionais, e contactada pela SCM revelou-nos que “queremos reforçar a nossa oferta de produtos made in Portugal, nomeadamente ao nível dos produtos regionais, como é o caso dos queijos e dos enchidos regionais, artigos que são muito queridos dos consumidores portugueses”, aponta Daniel da Silva, Managing Director Category Management da ALDI Portugal.

Na Aldi, a percentagem de produtos nacionais varia consoante a categoria, época e a capacidade de fornecimento dos produtos. Se por um lado os ovos e a carne fresca são de origem nacional, ao nível das frutas e legumes a granel o valor ultrapassa os 55%. De reforçar que a empresa está a investir numa política para os seus produtos perecíveis de modo a que cheguem às lojas o mais frescos possível.

“Desde o momento em que começámos a apostar em Portugal, que procuramos investir na evolução e inovação do nosso sortido, principalmente na nossa marca própria e na oferta de produtos de origem nacional. Na ALDI, procuramos igualmente privilegiar os produtores nacionais em várias categorias, bem como reforçar a portugalidade dos nossos produtos e o apoio às comunidades locais, que, tendo em conta o contexto que atravessamos e as dificuldades sentidas no setor do retalho alimentar, se torna cada vez mais importante”, aponta ainda o responsável.

Daniel da Silva aponta ainda que a empresa tem dinamizado a sua oferta e dado resposta às diferentes necessidades das famílias portuguesas ao longo de todo o ano, através de “ações e semanas temáticas com produtos nacionais, típicos de determinadas zonas do país e de acordo com a sua sazonalidade”.

Por parte do Lidl, a campanha “Da minha terra”, lançada em Outubro do ano passado, encontra-se na sua segunda edição. Esta iniciativa desafia os fornecedores portugueses a apresentarem os seus produtos e tornarem-se possíveis fornecedores da retalhista, tendo como objetivo principal apoiar os pequenos e médios produtores portugueses.

Esta edição contou com 161 candidaturas de produtores nacionais, tendo sido selecionados cerca de 70 fornecedores que cumpriram a totalidade dos pré-requisitos, e que pela sua potencialidade foram convidados a apresentá-los presencialmente. Depois seguiram-se os processos de degustação, avaliação de potencialidades de cada produtor e respetivos artigos.

Os produtos com maior número de candidaturas foram bolos, laticínios, charcutaria e vinhos, tendo ainda havido candidaturas ao nível de azeite, padaria, doces, bebidas espirituosas, carne e frutos secos.

Alexandra Borges, Diretora Geral de Compras do Lidl Portugal, comentou em comunicado que “é com grande satisfação que prosseguimos com o nosso compromisso no apoio aos produtores nacionais. À semelhança da primeira edição, as candidaturas deste ano superaram as nossas expectativas, revalidando a importância e pertinência desta iniciativa. Estamos expectantes por descobrir ainda mais sobre estes novos produtores que se candidataram, sabendo que resultará na integração de mais produtos portugueses de elevada qualidade nas nossas lojas”.

Todos os produtos selecionados irão contar com a marca “Da minha terra” e o Lidl avança que de “forma de dar a conhecer os seus produtos e potenciar o seu negócio, o Lidl irá manter a marca e nome do produtor, ajudando também, com esta transparência, ao sucesso dos negócios dos pequenos produtores”.

De notar que ainda no final de 2021 o Lidl inaugurou o centro de distribuição de Santo Tirso, e já anunciou que em 2023 irá abrir um novo entreposto logístico em Loures, o maior de Portugal, com 19,80 hectares.

À Lusa, fonte da Sonae MC revelou que em 2021 quase a totalidade dos clientes optou pela marca própria, “o que já vale 44% em quantidade na cesta média de um cliente que compre alimentar (marca própria e marca de fornecedor) nas lojas Continente”, apontou à fonte.

Desde 1998 que a empresa conta com o Clube de Produtores Continente, com 250 membros de norte a sul do país, procurando também a valorização dos fornecedores nacionais. No ano passado este universo representou 422 milhões de euros em compras feitas a produtores portugueses.

A Mercadona, chegada em meados de 2019 a Portugal, conta hoje com 30 lojas no país, e encontrando-se ainda em expansão, estando previstas mais 10 lojas até ao final do ano, em cinco novos distritos. Ainda antes de chegar a Portugal, com lojas apenas em Espanha, o investimento nos fornecedores portugueses já era considerável, superior a 200 milhões de euros, tendo atualmente aumentado para 500 milhões, um aumento de 130% nos últimos anos.

Um dos produtos portugueses recentemente destacados pela marca em Espanha são os lagartos, que já vendem mais de 6.500 unidades por dia no país vizinho, “um sucesso”, como aponta a marca.

A espanhola assinou recentemente um acordo de colaboração com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) para dinamizar a produção nacional.

A Auchan também reforçou recentemente a sua ajuda aos produtores portugueses com o Mercado dos Produtores Locais, que permite que os próprios façam uma venda direta ao cliente num espaço cedido pela marca, ajudando assim os pequenos produtores locais. Esta iniciativa começou na loja de Alfragide em março, e teve como origem uma parceria feita com uma plataforma que faz a ligação e representa os produtores locais da região de Lisboa, a Frutoeste.

À data, a empresa avançou também que já contava com 100 parcerias duráveis e equilibradas com pequenos produtores, num raio de 50km dos pontos de venda, e que entregam loja a loja. Cerca de 90% das compras da Auchan são feitas a produtores nacionais e centenas de artigos comercializados nas suas lojas são de produtores locais.

Durante a pandemia a empresa teve várias iniciativas de apoio aos fornecedores nacionais, como foi o caso da PickUpLocal, um serviço gratuito de pontos de recolha nas lojas Auchan para levantamento de compras feitas aos produtores locais, pequenos comerciantes e artesãos, que durante a pandemia enfrentaram desafios acrescidos. Ainda nesse mesmo ano a empresa criou um formulário no seu site para facilitar e agilizar a comunicação com os produtores locais interessados em trabalhar com a marca.

Ainda no ano 2021, 82% das compras do grupo Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce e das lojas Recheio em Portugal, foram feitas a fornecedores locais. Desde 2012 que o grupo promove a CAP para apoiar os produtores nacionais, membros da confederação, “antecipando para 10 dias, em média, o prazo de pagamento”, pode ler-se no site do grupo, tendo já mais de 370 fornecedores beneficiado desta iniciativa.

José Luís Teixeira, diretor de logística e Supply Chain do Pingo Doce, comentou em entrevista recente à SCM que também contam com um projeto de backhauling, em que reaproveitam as viagens dos seus camiões para que, no percurso de retorno ao armazém, façam também a recolha de produtos aos seus fornecedores, gerando assim poupança e evitando viagens em vazio, uma aposta na sustentabilidade da sua cadeia de abastecimento e na dos seus parceiros.

O Intermarché foi também, no final de 2021, distinguida pelo programa “Portugal Sou Eu”, uma iniciativa do Ministério da Economia que visa dinamizar a valorização da oferta nacional. Esta distinção deveu-se ao seu apoio e incentivo ao consumo de bens de produção nacional, por esta ter vendido o maior número de produtos com o selo que destaca os bens produzidos apenas no território nacional, sendo grande parte das referências provenientes do Programa Origens, iniciativa lançada pelo Grupo que pretende garantir que os clientes tenham acesso a produtos genuinamente portugueses, de elevada qualidade e a preços baixos, estabelecendo parcerias diretas com vários produtores locais.

“Esta é uma distinção que nos deixa muito orgulhosos, principalmente porque destaca o Intermarché como uma marca que se preocupa e confia em Portugal. Apostamos em parcerias locais que nos possibilitem disponibilizar produtos específicos e de elevada qualidade aos nossos clientes. São estas parcerias que nos permitem uma oferta tão variada e diferenciadora, em cada uma das nossas lojas”, comenta Rui Pereira, administrador do Intermarché.

De acordo com dados da Lusa, ao nível dos fornecedores portugueses da marca DIA Portugal, para frutas, verduras, pão, carne, peixe e ovos as compras da empresa atingiram os 93,81%, mantendo a tendência dos primeiros anos de 2022. Ao nível dos restantes produtos disponibilizados nos supermercados, as compras nacionais situaram-se nos 81,21%.

Helena Guedes, diretora comercial da DIA Portugal, comenta à fonte que “a nossa experiência, fruto também da extensa penetração da nossa rede de lojas em todo o território nacional, diz-nos que os portugueses têm uma maior apetência pela aquisição de produtos nacionais, principalmente na área alimentar. Ainda que o preço seja uma preocupação constante e as dinâmicas promocionais que introduzimos nas várias categorias de produtos respondam a esse anseio, sentimos que os nossos clientes, perante situações idênticas, optam pelos produtos fabricados em Portugal”.

Também a Makro, grossista dedicada ao serviço B2B, destaca a importância dos fornecedores portugueses e que tem reforçado o seu posicionamento. Atualmente, 70% dos fornecedores da empresa são portugueses.

“Somos uma empresa comprometida e dinâmica, que queremos, cada vez mais, funcionar como peça fundamental na economia local, fomentando a interação dos diferentes intervenientes do sector – produção, fornecedores, associações, entidades e agentes locais – de forma que a gastronomia portuguesa assuma ainda mais um papel preponderante até mesmo além-fronteiras”, revela o CEO David Antunes à Executive Digest.

O impacto das compras a fornecedores nacionais tem cada vez mais impacto para os clientes, sendo mais valorizadas e tornando-se um fator decisivo no momento da compra.