O comportamento dos consumidores evoluiu significativamente, impulsionado por novas tendências, avanços tecnológicos e transformações socioeconómicas. No passado, os consumidores priorizavam a durabilidade e a robustez dos produtos, procurando bens que garantissem longevidade e qualidade. Lembro-me, na minha infância, de ver os meus pais e avós adquirirem produtos, sempre com base na qualidade e durabilidade, valorizando esses fatores acima do design ou da tendência da moda. Porém, em poucas décadas, as prioridades mudaram drasticamente: hoje, o foco não está apenas na qualidade, mas também na acessibilidade, no preço e, sobretudo, na busca por produtos alinhados às tendências de moda, muito influenciados por redes sociais.
Tendo em conta esta tendência, a capacidade de adaptação e flexibilidade das empresas assume um carácter essencial para responder às mudanças rápidas nos requisitos dos consumidores. A gestão eficaz da mudança, longe de ser apenas uma resposta aos desafios, representa uma oportunidade estratégica para as empresas se destacarem no mercado, tornando-se também um fator essencial para a competitividade e sustentabilidade dos negócios.
As mudanças em paradigmas como digitalização, sustentabilidade ambiental, origem de matérias-primas e a projeção massificada nas plataformas digitais têm um impacto direto nas decisões de compra dos consumidores que procuram produtos personalizados e facilmente enquadrados nas tendências do momento, com qualidade, baixo custo e prazos de entrega reduzidos. As empresas, portanto, precisam estar preparadas para acompanhar e responder a essas novas exigências, ajustando os processos e conceitos de produção de forma flexível e eficiente, garantindo tanto a satisfação do cliente quanto a eficiência operacional.
Esta adaptação bem-sucedida exige uma monitorização contínua do mercado, um relacionamento próximo com os consumidores e fornecedores, e o uso de ferramentas analíticas, com dados fidedignos e em tempo real, para prever mudanças e tendências futuras antecipadamente, tanto quanto possível. Porém, esta necessária flexibilidade e adaptação tem muitas vezes custos de ineficiência para as empresas.
Flexibilidade nas Flutuações de Volume e nas Necessidades de Customização de Produtos na Indústria
A crescente volatilidade na procura de produtos é um grande desafio para as indústrias. Oscilações no volume de produção podem ser causadas por fatores externos, como sazonalidade, situação política e económica ou mudanças nas preferências dos consumidores. Além disso, a crescente procura por customização de produtos exige que as empresas sejam capazes de produzir lotes menores de maneira eficiente, sem comprometer a qualidade ou aumentar custos de produção, mantendo ou até aumentando a eficiência das operações industriais e nas cadeias de abastecimento. Uma empresa que permaneça no paradigma da produção massificada, padronizada e pouco flexível, poderá ver o seu mercado diminuir, acabando por perder volumes de produção e eventualmente deixando de ser competitiva ou relevante na sua área.
A resposta a essa necessidade de flexibilidade pode ser alcançada por meio de estratégias como:
- Produção Lean, que permite ajustes rápidos na linha de produção para dar resposta a diferentes configurações de produtos;
- Gestão ágil da cadeia logística, mantendo um fluxo eficiente de materiais e informações, minimizando o impacto das variações na procura;
- Automação e digitalização, que facilitam a adaptação dos processos produtivos e reduzem desperdícios. Adicionalmente possibilitam a obtenção de dados relevantes, ajustes a planos de produção, em tempo real, para tomada de decisões informadas e com base em dados reais.
A mudança é inevitável. Assim como na natureza, as empresas que melhor se adaptam a um cenário de constante transformação são aquelas que têm mais chances de sobreviver e prosperar. Contudo, a mudança não deve ser vista apenas como um desafio, mas como uma oportunidade estratégica para as empresas se diferenciarem no mercado. A capacidade de adaptação às novas tendências de consumo, adotar processos flexíveis de produção e utilizar metodologias ágeis, como o Lean, são passos fundamentais para garantir competitividade e sustentabilidade a longo prazo. Empresas que investem nestas estratégias não só respondem melhor às expetativas dos clientes, como também garantem maior eficiência operacional e sustentabilidade no longo prazo.
Patrícia Martins | Consultora Industrial | Bosch Industry Consulting