A Inteligência Artificial foi o grande tema em debate no Techlogistics, organizado em parceria pela Supply Chain Magazine, a Devlop e a Microsoft cuja terceira edição, a 25 de junho, teve como palco a sede da multinacional tecnológica, em Lisboa. Afinal, num evento centrado no papel que a tecnologia desempenha na logística, os mais recentes desenvolvimentos e as suas implicações não podiam ficar de fora. 

O dia começou com a abertura de Filipe Barros, executive manager da Supply Chain Magazine, e Hugo Duarte da Fonseca, managing partner da Maeil, que destacaram os temas a abordar durante o dia, e a sua relevância para o desenvolvimento tecnológico atual.

David Geleia, Técnico Superior, IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes, foi o primeiro orador convidado a subir a palco, com o tema “A digitalização no transporte de mercadorias”. Foi com este mote que o responsável do IMT abordou o regulamento eFTI, que irá envolver várias medidas regulatórias para permitir aos operadores económicos uma partilha de informação em formato eletrónico com as autoridades competentes, facilitando a comunicação entre as partes durante os transportes rodoviário, ferroviário, fluvial e aéreo, dentro da União Europeia (UE). A sua aplicação será feita em 2027, havendo posteriormente uma adesão progressiva dos operadores.

Seguidamente, Mário Maia, country manager da Generix, trouxe o tema “Collaborate, Learn, React: A Nova Supply Chain Inteligente”, em que explicou a importância dos modelos preditivos, e como a IA pode auxiliar os processos de logística e transportes, através de algoritmos baseados em informação de diversas fontes. Ainda assim, a sua utilização não o descarta de possíveis riscos, e alerta para a importância de dados de qualidade e atualizados nos modelos preditivos.

Atualmente já se encontram diversas soluções no mercado, capazes de apoiar os decisores a agirem proativamente, tendo o responsável apresentado algumas e os seus benefícios para as empresas.

Numa visão mais holística do tema, Paulo Pina Calado, Channel Sales Lead da Microsoft Portugal, sob o mote “AI Empowerment: the moment is now”. O responsável destaca que ainda estamos em momentos de aprendizagem, mas que já começamos a entrar numa fase de realização, devido à importância que a IA começa a ter no nosso dia a dia para a resolução de problemas complexos.

O Channel Sales Lead considera que esta tecnologia tem capacidade para ser a mais impactante, atualmente, e que o momento de avançar é agora, que já passou a fase inicial de projetos-piloto e provas de conceito. As empresas já estão na corrida à implementação nas suas soluções e operações, seja através de IA, IA generativa ou agentes IA, e é preciso conciliar as pessoas e os seus conhecimentos com esta tecnologia.

 

“[A mudança] está a acontecer. O momento para fazer esta transformação é agora, ou pelo menos para começar, porque está aí para ficar e vai ser um dos maiores pontos de diferenciação em qualquer indústria, e também na logística e nos transportes.”

– Paulo Pina Calado, Microsoft Portugal.

 

A primeira mesa-redonda também se debruçou sobre a “Transformação Digital na Logística – Da Visão Estratégica à Execução”, tendo o olhar de Raquel Marques, da Leroy Merlin, Hernani Duarte, da ULSLO – Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, EPE, João Rocha, da Santos e Vale, e Rui Silva, da Casa Peixoto, sob a moderação de Daniel Baptista, da Cegid.

Durante esta sessão, foi abordada a transformação acelerada que se verificou desde a pandemia, e as mudanças sentidas desde então, devido à imprevisibilidade dos mercados. Começaram a surgir maiores dificuldades na previsão devido a conflitos geopolíticos, e foi necessário readaptar as cadeias de abastecimento, tendo a tecnologia tido um papel essencial.

Os oradores olharam para a transformação digital como uma aceleradora e otimizadora de processos, através de visibilidade de stocks, rastreabilidade ou mapeamento dos processos, no entanto, não é um processo tão fácil para empresas mais pequenas ou familiares, seja pelo investimento, seja pela alteração dos processos.

Também os fornecedores passaram a ter um papel essencial, passando a haver uma maior colaboração entre as partes através de modelos digitais, porém, as diferentes maturidades digitais são ainda hoje um entrave, pois enquanto uns fornecedores estão a trabalhar em papel, outros têm os processos totalmente automatizados.

A formação das pessoas teve também destaque, pois necessitam de acompanhar o progresso, sendo necessária uma maior formação tecnológica, não só nas funções existentes, mas também nas novas, visto algumas terem sido substituídas por ferramentas tecnológicas.

Apresentados os desafios e as oportunidades, os oradores apontaram as diferentes implementações de IA previstas nas suas organizações, e quais os benefícios que esperam conseguir.

 

“É necessário definir uma estratégia. Digitalizar os processos existentes e torná-los mais eficientes. Antes era um comboio que tínhamos de apanhar, agora é um TGV, mas temos de ver em que carruagem queremos estar. Se formos à frente, o custo é muito alto, mas chegamos primeiro. Se formos atrás, é mais barato, mas os outros já lá chegaram todos. No nosso caso, queremos estar num meio-termo.”

– João Rocha, Santos e Vale

 

A Agenda Nexus é um dos grandes projetos tecnológicos a nível nacional, envolvendo uma rede de 35 membros, desde parceiros, tecnológicos, académicos, operadores e indústria. Nesse sentido, sob o tema “Nexus – Contributo para a resiliência do setor portuário e logístico”, Ana Rita Martins, Chefe de Divisão de Sistemas de Informação e Suporte ao Negócio da APS – Administração do Porto de Sines e Algarve, apresentou os projetos que têm em desenvolvimento, e de que forma todos os membros conseguem obter benefícios através desta interligação entre as partes.

Foi também apresentada a Port Cyber Arena, um centro de formação para a prevenção de vulnerabilidades. Trata-se de uma réplica em pequena escala de tudo o que existe no porto, podendo também ajudar outras empresas a formar as suas pessoas da área da cibersegurança.

A iniciar a tarde de debates, Gonçalo Bastos Sá, Head of Information Technology & Management da Kuehne+Nagel, subiu a palco com o tema “Como a Kuehne+Nagel em Portugal contribui para aplicar tecnologia às cadeias de abastecimento”. Após um contexto empresarial, o responsável apresentou as suas soluções e investimentos que têm feito na área tecnológica. Exemplo disso, são as soluções desenvolvidas no Hub Tecnológico da Kuehne+Nagel, e as suas atualizações ao nível energético.

Seguidamente, Rui Martins, founder and managing director da Sevways, trouxe um caso prático da aplicação das soluções da empresa através de agentes IA com Sage x3. Com o tema “O Fim dos Silos na Logística Marítima: A Revolução Agentic Está a chegar”, o tecnológico apontou o impacto da fragmentação e dispersão da informação nas operações, e como a IA pode apoiar as empresas, exemplificando com o caso das operações marítimas.

Um dos focos da sua apresentação foi a IA Generativa, e a sua capacidade de encontrar pontos ou falhas em que esta tecnologia possa fazer a diferença, dentro da aplicação, como por exemplo através de agentes IA, mostrando serem uma ferramenta capaz de lidar com diversos tipos de tarefas, e podendo especializar-se em áreas específicas.

Nuno Ricardo, digital lab leader da Unipartner, seguiu-se no programa, com um olhar sobre a “Digitalização do Processo Order to Shipping – Aplicação de IA num caso prático”. O orador procurou dar exemplos concretos através de dificuldades reais das empresas, procurando que eles fossem caminhos de orientação e de pensamento para ajudar os participantes a compreender como lidar com a IA.

O responsável destacou a importância de as empresas implementarem agentes IA como forma de suporte, e descansou os participantes que ainda não tinham começado o processo de implementação, porém, considerou preocupante se isso não estivesse nos seus planos nos próximos tempos.

Num painel sobre tecnologia, era impossível escapar ao tema da cibersegurança. Sérgio Silva, CEO e fundador da Cybers3c, trouxe um olhar sobre a importância da segurança digital através do tema “CiberGuerra na Era das Redes de Abastecimento Globais”. Como exemplo, comparou uma guerra cibernética a uma guerra física, e como nos conflitos modernos os ataques a navios, portos, armazéns e softwares são capazes de ter impactos profundos na economia de um país ao paralisar sistemas “sem disparar um único tiro”.

No caso da cadeia de abastecimentos, considera que existe um problema: “somos tão fortes quanto o nosso elo mais fraco”, e apenas o facto de termos um fornecedor que não se preocupa com a segurança, pode comprometer também a nossa empresa.

Sérgio Silva explica que as redes logísticas são apetecíveis para os atacantes por serem:

  • Complexas e interdependentes;
  • Operações críticas com margens de erro mínimas;
  • Integradoras de múltiplos fornecedores e sistemas;
  • Infraestruturas OT (ICS/SCADA) frequentemente desatualizado.

O objetivo, explica, nem sempre é roubar, mas parar: interromper armazéns e transportes, através de uma sabotagem silenciosa de parâmetros industriais e de ataques em momentos estratégicos.

 

“Quem conseguir comprometer a cadeia de abastecimentos consegue, certamente, comprometer a soberania de um país inteiro.”

– Sérgio Silva, Cybers3c

 

A terminar o dia, Katya Ivanova Santos, CEO e co-fundadora da AssetFloow, Eduardo Oliveira, investigador e consultor do INEGI, Silvério Neves, business manager da Optimizer, e Hugo Duarte da Fonseca, reuniram-se para a última intervenção do dia, através de um modelo fora do comum. A última mesa-redonda, com o tema “Inteligência Artificial e Dados em Tempo Real: O Novo Motor da Logística”, moderada por Filipe Barros, lançou aos quatro participantes várias frases sobre IA, ao que eles tiveram de declarar se seria um mito ou realidade, e porquê.

Neste momento foi possível desmistificar algumas das ideias, por vezes erradamente pré-concebidas, por outra não, como o custo de investimento face ao retorno, a supervisão humana da IA, quantidade de dados para a tomada de decisão, barreiras à IA ou a ideia de que esta tecnologia pode substituir sistemas ERP, WMS ou TMS.

Os oradores debruçaram-se também sobre verdades sobre a IA que as pessoas ainda estão a ignorar, tendo destacado: a sua superinteligência, que a IA não irá superar a inteligência humana e a sua crescente velocidade.