O procurement é um custo ou aporta valor para as organizações? E que lugar ocupa? Foram estas algumas das questões que alimentaram o debate “O papel do procurement no futuro da supply chain”, no primeiro dia da SCM Conference 2025, esta terça-feira, 6 de maio. Entre as respostas, a visão de que o caminho para que esta área seja estratégica está em curso, mas ainda há muito a fazer para que seja central nas empresas.

Com moderação de Miguel Nuno Silva, senior consultant & Int’L Trainer in Supply Chain Management, Procurement and Logistics, na Admicami, o debate contou com o contributo de Ana Moirinho Barbosa, head of Procurement na Hightgate Portugal; de José Miguel Almeida, Global Procurement director na Mehler Engineered Products; e Ricardo Ferreira head of Offer – Buying Director na Aviludo (Metro Group).

Lançando o tema, o moderador começou por manifestar a sua convicção de que “o procurement apenas reflete a qualidade da organização ou a falta dela”. Ao mesmo tempo, deixou a visão de que, numa empresa, a ordem dos fatores não é arbitrária: pessoas, processos, tecnologia e execução.

A propósito, Ana Moirinho Barbosa partilhou um caso concreto que mostra como a tecnologia não basta. Dias antes do apagão de 28 de abril, a empresa – que gere 15 unidades hoteleiras em Portugal – recebeu uma diretiva da casa-mãe, nos Estados Unidos, alertando para a necessidade de cumprir as metas de sustentabilidade, nomeadamente a existência de frota elétrica e a desmaterialização dos processos. Proativamente, um estagiário colocou todos os planos de contingência na máquina de destruir papel, pelo que, quando a eletricidade falhou e, com ela, falharam os sistemas, não havia, por exemplo, listas de telefone físicas. O que a leva a afirmar: “É muito importante a tecnologia para o avanço, mas é preciso um cérebro à frente da tecnologia, para que os planos de contingência não acabem no lixo.”

Na Mehler, multinacional alemã de produção de fios e tecidos têxteis técnicos para indústrias como a automóvel e a farmacêutica, desde 2002 que o procurement reporta diretamente ao board, uma decisão tomada por via da entrada em funções de um novo CEO. É, nas palavras de José Miguel Almeida, “uma vantagem competitiva que permite interligar toda a cultura organizacional”.

Também a Aviludo vive tempos de mudança. A empresa portuguesa de distribuição alimentar e não alimentar foi adquirida em 2021 pelo Metro Group, o que trouxe consigo novos processos. “O procurement que encontrámos tinha uma visão de executar ordens de compra. A transformação que temos vindo a fazer é transitar de perfis maioritariamente administrativos e executantes, para perfis mais estratégicos e especializados que se preocupem essencialmente em perceber as tendências de mercado, em estar perto do cliente e construir uma oferta que vá ao encontro das suas necessidades”, enquadrou.

A nota comum é que o procurement carece de estar no C-Level, ao nível de qualquer outra direção da organização, para que possa, efetivamente, ser reconhecido como aportando valor e não como um custo.

 

Poderá ler mais sobre este tema na edição de maio da Supply Chain Magazine.