Se a primeira tarde da SCM Conference ficou marcada pelo pensamento estratégico e pela liderança, o segundo dia focou-se mais nas operações, na tecnologia e nas pessoas. Ao longo do dia assistimos a palestras e mesas redondas que deram a conhecer projetos importantes que estão a decorrer, como são feitas algumas operações portuguesas com impacto internacional, desafios e soluções ou novas tendências do setor.

Hélder Guerreiro, managing director europe da Tilray, foi o primeiro a pisar o palco da SCM Conference 2023. Traçando um caminho pela sua carreira, explicou “como é que a supply chain pode tornar um profissional num ‘todo o terreno’”. Desde cálculos matemáticos para melhorar a eficiência da cadeia a forecasts, uma das palavras do dia foi “pragmatismo”. “Na logística ou aprendemos a ser pragmáticos ou falhamos”, afirma o responsável, acrescentando que “quem sobrevive na logística sobrevive em qualquer setor”.

Seguidamente, Pedro Silva Caldeira, guest speaker da Nova SBE Executive Education, Jorge Calado, co-founder and partner da SCORE, e Pedro Sousa, diretor de materials management da The Navigator Company, apresentaram um projeto de Smart Contracts que estão a desenvolver em parceria. Este projeto, com recurso a blockchain, trará transparência, rastreamento e visibilidade em tempo real da pegada ambiental dos produtos, redução de riscos e automatização dos processos de procurement. “A tecnologia tem de assumir um posicionamento de destaque para que nós possamos gerir os contratos digitais”, afirmou Pedro Silva Caldeira.

Olhando para o procurement a nível estratégico, Isabel Martins, global procurement manager da Daufood, empresa responsável pela Domino’s Pizza em Portugal, Europa central e do sudeste da Europa, explicou como através de Portugal conseguem gerir toda a cadeia nacional e internacional das lojas Domino’s, e a importância que o procurement tem para esta gestão. “Se olharmos para as compras de uma forma mais estratégica dentro da empresa, é uma área que a faz crescer”, afirma.

Seguindo-se no programa, Susana Ratinho, partner & founder da Cross Logistics, e Pedro Sá, vending business director da Delta Cafés, explicaram a realidade do setor de vending da Delta, e de como funciona toda a logística de aprovisionamento das lojas. Foram explicados vários dos desafios que têm, envolvendo desde a dificuldade de aprovisionamento das próprias máquinas a questões de temperatura controlada, e a importância de um bom forecast para o sucesso das operações. “Um pedido mal feito por cima gera desperdício alimentar. Por baixo gera redução nas vendas”, afirma Pedro Sá.

Partindo de Portugal para o mundo, Fidélio Alegria, diretor-geral da Sjaak van Schie, empresa que, de Pegões, exporta milhões de flores para todo o mundo, apresentou os desafios que enfrentam, e como os pilares que definiram como principal foco de adaptação a esta nova realidade: inovação, digitalização, operações e sustentabilidade. “Para nós não faz sentido importarmos coisas de outros países quando em Portugal sabemos fazer tão bem ou melhor que os outros, e conseguimos reduzir a nossa pegada ambiental”, afirmou o responsável, lançando ainda a importância das equipas e das sinergias entre gerações.

Fábio Santos, national business development manager da Modula, apresentou três business cases que implementaram, e as vantagens operacionais obtidas através da implementação dos sistemas da empresa. Adicionalmente, apresentou um caso curioso em que foi utilizado um módulo como “Modula Farm” para a produção de morangos, possível graças ao controlo de temperatura e de humidade, e de luz artificial. No final, concluiu que “até morangos nós podemos criar dentro dos módulos”.

Com o desafio de falar sobre “A supply chain do futuro”, Tiago Fernandes, senior business developer (Industry 4.0) da SAP, deixou alguns casos em que grandes organizações utilizam a tecnologia para otimizar as operações, e “simplificar as suas vidas”. Durante a sua apresentação, explica que temas como risco, segurança, visibilidade, transparência ou otimização operacional podem ser solucionados através de machine learning, metaverso ou inteligência artificial. “São tecnologias muito interessantes, onde cada vez mais é fundamental que os responsáveis de supply chain olhem para estas temáticas de uma forma um pouco mais assertiva, porque de facto vê-se aquilo que é o valor associado”, comenta.

Após o almoço promovido pela Savills, Tiago Abreu, delivery station manager da Amazon, apresenta dois temas para revolucionarem a última milha: sustentabilidade e automação. Apesar de a automação ser um tema controverso, aponta que os empregos das pessoas não estão em risco, e que serão criados postos diferentes, com novas skills mais tecnológicas. “As pessoas vão transitar de trabalhos mais manuais para trabalhos mais técnicos para operar robôs, pois já têm o know-how”, defende.

Seguindo-se com o tema da cibersegurança, por parte da PwC, Miguel Dias Fernandes, consulting partner, e Catarina Amaral Cunha, cybersecurity manager, apresentaram o tema “cibersegurança e regulação: o (novo) mundo da Tecnologia Operacional”. Uma das questões relacionadas com este tema é ao nível do risco que as empresas correm através da tecnologia, e como se devem proteger, e ter parceiros que também estejam protegidos. Miguel Dias Fernandes afirmou que “nós todos trabalhamos muito em rede. Até podemos trabalhar bem com os nossos parceiros e fornecedores, em rede, mas se houver um elo mais fraco, somos tão frágeis quanto esse elo mais fraco”, Catarina Amaral Cunha reforçou a ideia de que “o impacto de um incidente pode ser muito mais massificado do que anteriormente”, podendo originar problemas como por exemplo uma disrupção na produção, comprometimento da segurança, dano nos equipamentos ou afetar a reputação de uma organização.

Juntos numa mesa-redonda, Pedro Chainho, head of supply chain da Worten, Diogo Carneiro, associate partner da Deloitte, e Artur Santos, diretor de supply chain Portugal na Lactalis & Parmalat, apresentaram o tema “cadeias de abastecimento: desafios tecnológicos da primeira à última milha”, contando com a moderação da jornalista e media entrepreneur da MadreMedia, Rute Sousa Vasco. Vários foram os temas abordados, desde o novo tipo de consumidores, visibilidade em tempo real, ou a importância das parcerias, notando que a proposta de fazer entregas por todo o país implica encontrar este tipo de parceiros capazes de o fazer. “Passámos de uma época em que a supply chain era linear para uma fase em rede”, afirmou Pedro Chainho. Artur Santos destaca ainda a importância da informação, e que “quanto mais fiabilidade tivermos nas nossas previsões e em antever os nossos mercados, estamos mais protegidos e vamos ter capacidade para antever esses riscos”. Diogo Carneiro introduziu ainda o tema da gestão de pessoas, e da sua importância para o sucesso das operações.

Quase a terminar o dia, e mantendo o tema da gestão de pessoas, Andrea Nunes, country general manager da Gesgrup, Anabela Pinto, director of supply chain & regulatory affairs da Bondalti, e Sílvia Franco, supply chain manager da Exide Technologies, debateram o tema “as pessoas no centro: o desafio de encontrar, desenvolver e reter talentos”, contando com a moderação de Isabel Canha, diretora da Executiva. Algo em que todas concordaram foi na dificuldade de encontrar e de reter talento, e que muito mudou desde a pandemia. Andrea Nunes afirma que “hoje as empresas têm de se adaptar à realidade, não as pessoas. Têm de se adaptar às expectativas das pessoas”. Nesse mesmo sentido, Anabela Pinto destaca que “falamos muito da voz do cliente, mas também temos de ouvir a voz do colaborador”, e Sílvia Franco destaca a importância de manter uma diversidade geracional e o envolvimento das pessoas para as manter motivadas e com um propósito.

A terminar o dia, Ana Moirinho Barbosa, supply chain specialist, Miguel Silva, senior partner da Admicami, e Nuno Sousa Santos, CI EMEA Logistics Manager, McCormick & Company, ironizaram o tema da dependência das tecnologias para toda a gestão das cadeias de abastecimento. Empatia, Lógica e Autenticidade (E.L.A.) foram as palavras utilizadas para descrever a importância das pessoas, e a diferença que marcam nas operações.

Veja, ou reveja, alguns dos momentos na galeria de fotos ou através do vídeo final do evento: