De acordo com o novo relatório da Nielsen, “A Nova Normalidade chegou: o “reset” do consumo mundial”, a pandemia teve um impacto profundo nas necessidades dos consumidores, na dinâmica de compras de Fast-moving Consumer Goods (FMCG) e na definição de novas tendências na relação entre as empresas e os consumidores.

Scott McKenzie, responsável pela Intelligence Unit da Nielsen, destaca que “as condições únicas originadas por uma pandemia que conduziu a uma recessão económica estão a forçar os consumidores a repensarem o modo como compram e o que compram. O ser humano conta, normalmente, com meses ou anos para se ajustar a novas condições. Mas este já não é o mundo em que vivemos. Perante as novas necessidades dos consumidores, as marcas devem ser altamente focadas e ágeis nas suas respostas”.

O relatório começa por comentar que durante o primeiro trimestre do ano sentiu-se uma mudança no consumo a nível global, relacionada directamente com a pandemia de COVID-19 e as tendências de consumo, envolvendo desinfectante para as mãos, alimentos básicos e produtos de limpeza. Após os primeiros tempos, esse grande aumento teve um ligeiro declínio, mas “isto não significa, contudo, que os consumidores tenham recuado na compra deste tipo de bens. Significa apenas que a sua compra já não é reflexo das notícias sobre o aumento das taxas de transmissão do vírus”, explica o comunicado.

De acordo com a Nielsen, esta mudança observada nos últimos meses traz aos consumidores a necessidade de reavaliar os seus hábitos de consumo, no entanto, refere que esse impacto não será homogéneo, e que os “constrained spenders, aqueles cujos rendimentos foram negativamente impactados pela COVID-19, vão gastar para sobreviver”, e os “insulated spenders podem ajustar momentaneamente os seus gastos, apesar de os seus rendimentos terem permanecido inalterados pela pandemia”.

“Os consumidores, quer se encontrem empregados ou não, estão menos optimistas acerca do futuro. Esta cautela vai obrigar a reconciliar hábitos de compra adoptados ao longo dos últimos anos com uma nova realidade em que a saúde e o valor percepcionado nos produtos são os factores prioritários”, comenta ainda Scott McKenzie.

Ao nível da mudança, a Nielsen identificou quatro padrões que podem ajudar a prever os futuros factores a impactar a decisão de compra, nomeadamente o “basket reset”, reconfiguração da cesta, “homebody reset”, o do-it-yourself, “rationale reset”, mudança no racional de compra, e o “affordability reset”, uma maior atenção para com o valor dos produtos. O estudo da Nielsen também aponta que os quatro pilares que irão transformar o consumidor serão “o quê?”, “onde?”, “porquê?” e “quanto?”, ligando-os aos factores anteriores, respectivamente.

Relativamente ao “o quê?”, o relatório considera expectável que os consumidores reavaliem os produtos que fazem parte da sua cesta de compras. O “onde?” relaciona-se com o do-it-yourself, no sentido de que durante a pandemia houve uma mudança em determinadas áreas do consumo, que algumas pessoas começaram a fazer de forma caseira, referindo, por exemplo, áreas de padaria, barbearia ou culinária. O “porquê” refere-se à parte “racional” da compra, no sentido económico da compra, em que o consumidor pondera se realmente necessita do produto e procura poupar em determinadas áreas. Por fim, o “quanto” envolve o repensar do valor do produto, também associado ao clima económico anterior, no entanto, numa parte mais prática.

Segundo o estudo, “as marcas e retalhistas que se mostrarem incapazes de oferecer produtos que se possam ajustar a uma disponibilidade financeira mais limitada e a sensibilidades acrescidas a respeito de preço podem perder tracção a longo-prazo junto de consumidores essenciais para assegurar o seu negócio”, e acrescenta que este “é um desafio que exige capacidade de antecipação, compreensão de uma nova realidade e reestruturação da oferta num “Novo Normal” ”.

Ao nível do consumo, o estudo da Capgemini “Produtos de consumo e retalho: como a sustentabilidade está a mudar fundamentalmente as preferências do consumidor”, também suporta que “a sustentabilidade está a ganhar terreno”, e que para 79% dos consumidores o facto de se tratar de um produto sustentável já é um motivo de preferência, tendo a pandemia sido um factor importante para esta mudança de hábitos. Neste sentido, 67% dos consumidores afirma que se encontram mais conscientes da escassez de recursos naturais devido ao vírus, e cerca de metade dos consumidores já alteraram as suas compras habituais para marcas menos conhecidas por serem mais sustentáveis. 64% dos inquiridos afirma que comprar produtos sustentáveis os deixa mais felizes com a sua opção, dos quais 72% se encontram entre os 25 e os 35 anos.