A greve dos transportadores de matérias perigosas teve início hoje, e várias indústrias já se manifestaram sobre possíveis grandes perdas devido a este problema de abastecimento.

O presidente da Associação dos Industriais de Tomate (AIT), Martin Stilwell, revela à Lusa que “esta greve vai cair no pico da apanha do tomate”, quando são apanhados 25 milhões de quilos de tomate diariamente a nível nacional, uma actividade de vale “cerca de 4 milhões de euros por dia”, valor que juntamente com 4 mil postos de trabalho está neste momento posto em causa.

O representante dos industriais agrícolas apelava já no início do mês para que este sector fosse incluído nos serviços mínimos, visto ser de curta duração e o gasóleo ser necessário em três elos da cadeia, com combustíveis diferentes: para os tractores, para o transporte e para as fábricas.

“Estamos a falar de combustíveis diferentes para a cadeia de um mesmo produto. Se um deles falha põe em risco os outros. E ao colocar em risco todo o sector fica ameaçado”, defende Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, estimando que em três dias os efeitos da greve não afectarão o sector, mas que o quarto dia, quinta-feira e feriado, será o dia D para os agricultores.

“O sector agrícola não tem a capacidade [de se abastecer] porque a natureza funciona independentemente de haver ou não greve”, Eduardo Oliveira e Sousa, CAP.

A CAP teme que os serviços mínimos não resultem e que só reste ao Governo a requisição civil, “porque a cadeia de abastecimento da colheita entra em ruptura e isso provoca imediatamente uma perturbação social de contornos que não conseguimos prever”.

A área da distribuição antecipou-se e tem vindo a preparar-se nas últimas semanas com acções de logística e reforço de stock, como forma de precaver possíveis quebras no ritmo normal de abastecimento às lojas. A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) não notou uma anormalidade de afluência devido à greve anunciada para hoje, e o director-geral da entidade, Gonçalo Lobo Xavier, conta que a reposição tem sido feita normalmente e que tem apelado ao bom senso das partes.

“Se a greve for curta”, a presidente da Associação Portuguesa dos Operadores de Gestão de Resíduos e Recicladores (APOGRR), Quitéria Antão, diz que conseguem dar resposta. Segundo a representante, encontram-se preparados para uma greve de cerca de uma semana, tendo a maior parte dos associados reabastecido os postos próprios “o máximo possível” e mantendo as reservas cheias. “Se se prolongar vamos ter problemas. Os custos vão ser elevados”, defende Quitéria Antão, acrescentando que estes já têm sido elevados devido aos subsídios de férias.

Recorde-se que também a indústria farmacêutica já se tinha manifestado relativamente à greve anunciada.

 

Portugal a meio gás 

O impacto que uma greve deste género tem na vida das pessoas e das empresas não é inédito em Portugal. Estávamos em Junho de 2008 quando uma paralisação das empresas de transporte rodoviário de mercadorias deixou o País com escassez de alguns bens essenciais como carne, peixe, fruta, legumes e em particular combustíveis. Alguns postos de abastecimento venderam num dia o que era suposto e normal em 3 ou 4, pelo que a ruptura de stock aconteceu mesmo e o encerramento de estações de serviço inevitável.

Três dias de bloqueio nas principais estradas nacionais com centenas de veículos pesados de mercadorias parados foi o suficiente para deixar Portugal a ”meio gás”, em especial as regiões centro e Sul.

Na época, na origem da discórdia estava o aumento do preço dos combustíveis e o protesto terminou com um acordo assinado entre a Associação Nacional de Transportadoras Portuguesas (ANTP) – um embrião ainda – , a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) e o Governo, tendo sido negociado um pacote de 16 medidas para minimizar o impacto naquela actividade profissional do referido aumento.

Em 2011, estávamos em Março quando os transportadores rodoviários voltam à contestação e provam mais uma vez que conseguem fazer abrandar e até mesmo parar o País. O protesto termina com a assinatura de um memorando que contemplava um pacote de medidas de apoio à actividade, que já haviam sido acordadas em 2008, mas que não tinham sido respeitadas, como a introdução de descontos para os transportadores rodoviários de mercadorias no pagamento de portagens nas ex-SCUT.