As cidades portuguesas enfrentam hoje um duplo desafio: garantir a eficiência das entregas urbanas e, ao mesmo tempo, reduzir o seu impacto ambiental. A transformação da logística urbana é inevitável e exige um esforço coletivo que envolva empresas, reguladores e consumidores.

No setor da logística de frio, os desafios são particularmente exigentes. Apesar dos avanços já alcançados, como a generalização das frotas com norma Euro VI — que permite uma redução significativa de emissões face a veículos mais antigos —, a urgência climática obriga-nos a ir mais além. Atualmente, os motores de frio elétricos já são viáveis em veículos ligeiros, mas a sua aplicação a pesados em contexto urbano continua limitada, sobretudo devido à autonomia e ao tempo de recarga. A Europa, neste campo, ainda está muito atrasada face a mercados como os EUA ou China.

É neste contexto que os combustíveis alternativos, como o HVO ou os e-fuels, surgem como solução intermédia, com potencial para reduzir emissões em cerca de 80%. Algumas empresas do setor, em Portugal, já estão a realizar pilotos com HVO e a planear a sua expansão a mais rotas durante 2025 — um passo importante, embora condicionado pelos custos ainda significativamente superiores face ao gasóleo convencional. Para que estes combustíveis se tornem realmente competitivos, será essencial rever a taxa de carbono aplicável e criar incentivos fiscais que acelerem a sua adoção.

Já as entregas last-mile continuam a ser um dos pontos mais críticos. Em cidades como Paris, Madrid ou Bruxelas, as Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) já condicionam o acesso a veículos mais poluentes, promovendo a entrada de frotas elétricas ou movidas a bio combustíveis e de baixo impacto ambiental. Em contraste, Lisboa ainda permite a circulação de viaturas com normas desatualizadas como a Euro III, de 2001. Existe um claro atraso regulatório e torna-se necessária uma evolução faseada que seja discutida e feita com todos os stakeholders. Os apoios a meios alternativos como meios eléctricos, a possibilidade de criação de hubs logísticos nas cidades ou nas suas periferias de proximidade poderão ser soluções. 

As novas exigências de consumo — entregas mais rápidas, produtos mais frescos — intensificam ainda mais a pressão sobre o setor. A adaptação tem de ser estrutural e sustentada por uma visão estratégica nacional. Para que Portugal não fique ainda mais na cauda da Europa, é urgente uma estratégia clara, que combine incentivos fiscais, regulamentação inteligente e investimento em infraestruturas. Só assim poderemos garantir que as cidades portuguesas continuam a ser abastecidas de forma eficiente, sem comprometer o futuro do planeta. 

Se queremos cidades mais limpas e sistemas logísticos mais eficientes, o momento de agir é agora.

Sérgio BatalhaDiretor de Projetos Operacionais | STEF Portugal