A GS1 organizou o primeiro Congresso Internacional de Sustentabilidade no passado dia 23 de janeiro, no Centro Cultural de Belém. No leque de temas abordados, entre os quais a sustentabilidade ambiental esteve sempre em destaque, a descarbonização do setor da logística e transporte também foram evidenciados.
“Supply chain, sustainability and due diligence obligations” foi o primeiro tema do evento relacionado com a cadeia de abastecimento, abordado por Patrik Jonasson, sustainability senior director governament affairs & public policy da GS1, e Francesca Poggiali, vice-president global public policy da GS1 Global.
Patrik Jonasson começou por referir que a sustentabilidade já faz parte da GS1 há mais de 10 anos, mas apenas recentemente é que foi estabelecida como um programa do Global Office. Para isso, foi efetuada uma pesquisa da qual resultaram algumas conclusões importantes. A primeira é que a importância da sustentabilidade está a mudar na Europa, pois passou de compromissos voluntários a um tema integrado nas operações centrais das organizações, orientado por dados. Já se trata da resiliência do negócio, em vez da pressão de investidores. É no setor do retalho que se concentram 90% das suas emissões (âmbito 3) e, por vezes, chegam a atingir os 98%. É um setor com grande pressão e, a área da supply chain é fulcral para alcançar transparência, nomeadamente através de rastreabilidade e certificações.
“Ciência dos dados aplicada à descarbonização dos transportes e da logística” foi o tema que Tiago Henriques, da DSPA, trouxe ao evento, referindo que os dados são importantes para alcançar os objetivos de sustentabilidade. Apresentou alguns dados de um estudo da KPMG, que indicam que descarbonizar os transportes e logística é crucial, pois este setor responde por cerca de 23% das emissões globais de GEE. 52% dos executivos afirmam que a sua organização está mais preocupada com a visibilidade da cadeia de abastecimento do que no ano passado. Por sua vez, 61% considera o desenvolvimento de mais visibilidade na cadeia de abastecimento uma prioridade máxima e 52% considera reduzir o numero de fornecedores localizados em geografias geopoliticamente instáveis uma prioridade máxima. Já 53% considera o sustainable sourcing uma prioridade máxima.
As cadeias de abastecimento irão enfrentar desafios sérios no futuro: desafios de mercado e desafios operacionais. Assim, o data science surge como uma estratégia para otimizar o planeamento de cenários e desenvolver um caminho mais sustentável. Tiago Henriques destaca o ESG, a robótica avançada e automatização, e a mão de obra na supply chain como o futuro das cadeias de abastecimento, ainda que surjam desafios de descarbonização como custos de capitais elevados, custo da transição, instabilidade geopolítica, pressão do mercado, barreiras tecnológicas e dependência de combustíveis fósseis.
“Roteiro para a neutralidade carbónica: descarbonizar e gerar valor” foi o tema que juntou Ana Esteves, vice-presidente da APLOG, Eduardo Moura, senior ESG advisor da EDP, João de Castro Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal e Joana Veloso, diretora do departamento de alterações climáticas da APA. A moderação da mesa redonda esteve a cargo de Luísa Schmidt, investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
De todas as intervenções destacaram-se a de Ana Esteves que, embora seja vice-presidente da APLOG, abordou os desafios da descarbonização num negócio como o da Salsa, do qual é head of supply chain. Começou por referir que a descarbonização impacta os custos das empresas, mas que já começa a haver uma mente mais aberta para este tipo de questões. “Todos nós estamos muito atentos à sustentabilidade, mas ainda há muita insustentabilidade”, referiu. Assim, identificou algumas das medidas adotadas pela Salsa Jeans, que consistem em privilegiar as entregas em pontos pickup ou lojas, a diminuição das caixas em vazio no transporte, e a otimização de contentores. Referiu ainda a importância de as empresas terem fornecedores próximos.
Por sua vez, Eduardo Moura, explicou que, na EDP, a abordagem da energia renovável iniciou-se em 2006 e, até ao momento, Portugal tem 92% de energia renovável. Contudo, só mais tarde é que a abordagem se expandiu até a áreas como a sustentabilidade nos edifícios ou gestão de frotas. O que começou a acontecer na EDP é que as emissões da cadeia de valor aumentaram porque a empresa optou por fornecedores de equipamentos de energia que se encontravam em localizações distantes. Este é um exemplo de como as emissões indiretas dos negócios estão a aumentar, enquanto que as diretas estão a diminuir, na União Europeia.
O último momento do evento foi a entrega dos prémios Lean & Green, atribuídos ao Grupo Carreras, à Terra Alegre e à Leroy Merlin. O Grupo Carreras foi distinguido pela elaboração de um plano ambicioso com o objetivo de reduzir 20% das emissões de gases de efeito estufa nos próximos 5 anos em âmbito logístico e de transporte. Algumas das medidas foram a renovação da frota própria, formação de motoristas com técnicas de condução eficiente, utilização de biocombustíveis avançados, e projetos de colaboração com clientes.
A Terra Alegre alcançou uma redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa em ambiente logístico e de transportes. Para este projeto foram incluídas tanto as emissões a montante como a jusante da cadeia de valor. Destacam-se medidas nas instalações e logística interna, tais como instalação de uma central de frio amoníaco, sistema bioclimático para climatização, painéis solares fotovoltaicos, serviço de backhauling Jerónimo Martins.
Por fim, a Leroy Merlin conseguiu uma redução superior a 30% nas emissões. A empresa focou-se na descarbonização do transporte, tendo implementado medidas que equilibram a sustentabilidade ambiental e viabilidade económica, nomeadamente a transferência para o centro de distribuição nacional, a centralização das operações logísticas para otimizar os fluxos de transporte, a incorporação de veículos high volume na frota, a adição de link trailer à frota para melhorar a capacidade de carga e reduzir as emissões, e o incremento da frota movida a HVO.