Um navio porta-contentores perdeu a potência e embateu numa grande ponte em Baltimore, no início da manhã de ontem, 26 de março, fazendo cair ao rio uma equipa de construção e vários veículos. As equipas de salvamento retiraram duas pessoas, mas seis outras foram dadas como mortas. O colapso da ponte fechou o porto de Baltimore, um importante hub, que ocupa o primeiro lugar nos Estados Unidos em termos do volume de automóveis e camiões que movimenta.

A destruição dramática da ponte fechou o porto a todo o tráfego marítimo, que no ano passado representou mais de 52 milhões de toneladas de carga estrangeira, no valor de cerca de 80 mil milhões de dólares, de acordo com uma declaração recente do gabinete do Governador de Maryland, Wes Moore. O acidente perturbou assim as operações de um dos portos mais movimentados do país, sendo provável que as consequências desta disrupção sejam sentidas durante semanas pelas empresas que transportam mercadorias para dentro e para fora do país, e em última instância também pelos consumidores. A perturbação será especialmente notória para os fabricantes de automóveis e produtores de carvão, para os quais Baltimore se tornou um dos destinos de expedição mais vitais dos Estados Unidos.

Enquanto as autoridades começavam a investigar a razão pela qual um navio de carga de quase mil pés embateu na ponte Francis Scott Key a meio da noite, as empresas que transportam mercadorias para fornecedores e lojas lutaram para levar camiões para os outros portos da Costa Leste que recebiam mercadorias desviadas de Baltimore. Os navios ficaram parados noutros locais, sem saber onde e quando atracar.

O encerramento do porto de Baltimore torna-se assim no mais recente golpe para as cadeias de abastecimento globais, que têm sido pressionadas por crises de meses no Canal do Panamá, que teve de reduzir o tráfego devido aos baixos níveis de água, e no Canal do Suez, que as companhias de navegação estão a evitar devido aos ataques dos Houthis a navios no Mar Vermelho.

A indústria automóvel é uma das que enfrenta agora novas dificuldades de abastecimento. No ano passado, 570.000 veículos foram importados através de Baltimore, o equivalente a quase um quarto do atual inventário de carros novos nos Estados Unidos. Vale a pena recordar que em 1963, Baltimore foi o porto de entrada do primeiro Volkswagen Beetle, segundo o site Mayland.gov.

Se as importações de automóveis forem reduzidas pelo encerramento de Baltimore, os inventários poderão ficar baixos, especialmente no caso de modelos com grande procura. “Estamos a iniciar discussões com os nossos vários fornecedores de transporte sobre planos de contingência para garantir um fluxo ininterrupto de veículos para os nossos clientes e continuaremos a monitorizar cuidadosamente esta situação”, afirmou a Stellantis, proprietária da Chrysler, Dodge, Jeep e Ram, num comunicado.

Outros portos têm capacidade para importar automóveis, mas pode não haver transportadores de automóveis suficientes nesses portos para lidar com o novo tráfego, já que é preciso garantir que a capacidade de resposta existe ao longo de toda a cadeia de abastecimento, ou seja, até ao concessionário.

O incidente é mais um alerta para a enorme vulnerabilidade das cadeias de abastecimento que transportam produtos de consumo e mercadorias à volta do mundo. A dimensão e repercussões do acidente vão depender do tempo que for necessário para reabrir os canais de navegação no porto de Baltimore que, sublinhe-se, não é um dos principais portos para navios porta-contentores, pelo que outros portos podem provavelmente absorver o tráfego que se dirigia a Baltimore.

Alexis Ellender, analista global da Kpler, uma empresa de análise de commodities, disse ao New York Times que é expectável que o encerramento do porto cause uma interrupção significativa das exportações de carvão. No ano passado, cerca de 23 milhões de toneladas métricas de carvão foram exportadas do porto de Baltimore, perto de um quarto de todos os embarques marítimos de carvão dos Estados Unidos. De acordo com a Kpler, cerca de 12 navios deveriam deixar o porto de Baltimore na próxima semana para transportar carvão, o que tem um impacto significativo na capacidade de exportação norte-americana. “É possível que os carregamentos de carvão provenientes das minas sejam reencaminhados para outros portos”, afirmou, sendo o mais provável o porto de Norfolk, na Virgínia.

No ranking, este é o nono porto norte-americano em termos de carga estrangeira movimentada e de valor da mercadoria importada e é diretamente responsável por mais de 15.000 postos de trabalho, apoiando quase 140.000 outros.