Os protestos anti-bloqueio têm surgido em múltiplas cidades da China e as novas restrições Covid estão a assombrar mais uma vez as cadeias de abastecimento e a deixar preocupados os seus gestores.

Um incêndio que matou 10 pessoas em Urumqi, capital da região ocidental de Xinjiang, parece ter desencadeado a agitação generalizada e as subsequentes repressões por parte das autoridades chinesas. A cidade estava fechada à chave há mais de 100 dias e os manifestantes tomaram as ruas, culpando as restrições de Covid por atrasarem a resposta à tragédia por parte dos serviços de emergência e apelando ao fim do encerramento.

Protestos semelhantes eclodiram durante o fim de semana em cidades como Xangai, Pequim, Guangzhou, Wuhan e Chengdu. Numa mostra sem precedentes de desobediência civil, os manifestantes em Xangai cantaram: “Abaixo o Partido Comunista Chinês, abaixo o Xi Jinping”, relatou a Reuters. Outros manifestantes ergueram folhas de papel em branco para “representar tudo o que não podem dizer” e já houve quem se referisse à iniciativa como “o maior ato de rebeldia desde a Praça Tiananmen”.

A desobediência civil segue-se a violentos confrontos que tiveram lugar na fábrica de iPhones da Foxconn em Zhengzhou na semana passada, onde os bloqueios dificultaram a produção e reduziram os envios da Apple a partir da China.

Thomas Gronen, da Fibs Logistics, com sede em Xangai, disse ao The Loadstar: “os protestos são ações muito locais. O que vai ter impacto na cadeia de abastecimento, mais cedo ou mais tarde, são as novas restrições Covid impostas. Temos lockdowns em Pequim, Wuhan, Chongqing e uma recomendação de “trabalho a partir de casa” em Shenzhen. Há também dificuldades de acesso local em Suzhou, Guangzhou e Tianjin, na sua maioria relacionados com os requisitos de testes para camionistas. Há muito mais cidades a enumerar, mas estas são as mais importantes”.

A crescente agitação civil e incerteza económica leva os analistas a questionarem-se sobre o que será preciso, exatamente, para a China suavizar a sua posição sobre a Covid. As medidas de prevenção epidémica da China são as mais restritivas do mundo, ao abrigo da política de ‘zero casos’ de covid-19 e a estratégia inclui o isolamento de todos os casos positivos e contactos próximos, o bloqueio de bairros ou cidades inteiras e a realização constante de testes em massa.