Teve hoje início um novo protesto em Espanha, marcado pela Plataforma de Defesa do Setor do Transporte Rodoviário de Mercadorias, contra o incumprimento da lei que obriga os expedidores a pagarem valores que, pelo menos, cubram os custos dos serviços. Esta já é a segunda paralisação do setor este ano, tendo a anterior ocorrido em março e as suas negociações durado 20 dias, mas ainda não se sabe quando esta irá terminar.

Na passada quinta-feira o ministério já tinha prometido à direção da plataforma reforçar a fiscalização para que os transportadores não trabalhem abaixo dos seus custos, bem como aprovar, durante as próximas semanas, um plano de fiscalização para 2023. A entidade presidida por Manuel Hernández estipulou como prazo a meia-noite do dia do anúncio para apresentação de um documento assinado a referir essas mudanças, o que não aconteceu e levou a que a paralisação se mantivesse.

Embora em Espanha o impacto esperado seja maior, como se viu na manifestação anterior, em que por cada dia de paragem dos transportadores os supermercados apresentaram prejuízos no valor de 130 milhões de euros, em Portugal espera-se uma perda mais ligeira, afetando o abastecimento do mercado, e consequentemente matérias-primas, stocks e disponibilidade de produtos em loja, o que, devido à aproximação da Black Friday e do Natal, agrava o problema. No país vizinho, o professor da OBS Business School, Eduardo Irastorza, apontou que pode ser possível atingir o prejuízo de 600 milhões de euros por dia, devido às épocas de pico, sendo que apenas a Black Friday em Espanha representa um aumento de 706% nas vendas.

O Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) revelou ao site “Multinews” que as rotas de transporte deverão ser afetadas, e adiantou ainda que são esperados episódios de violência no protesto, com ameaças a motoristas portugueses, semelhante à situação vivida em março, em que o bloqueio espanhol afetou motoristas de empresas portuguesas que estavam no país.

A Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) revelou em comunicado que, face à informação partilhada pela ASTIC – Association of International Road Transport, “não se registam para já, nem constrangimentos na circulação rodoviária, nem problemas com piquetes de greve nos acessos aos portos, aos centros logísticos, em áreas de descanso e abastecimento de combustível, bem como nas passagens fronteiriças com Portugal, França e Marrocos”.

A ANTRAM recomenda o acompanhamento da situação em tempo real, caso esta paralisação possa ter impacto nas operações das empresas, sendo possível aceder a alguns sites de apoio no comunicado.

Na semana passada a associação emitiu também um comunicado que referia que apesar de ser, à data, difícil de prever o impacto que a greve iria ter, não deveria ser comparável com a de março, ideia também defendida por Raquel Sánchez, ministra dos Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana, que, segundo revelou o jornal “El Mundo”, considerou que a incidência desta movimentação é “mínima”, tendo já sido destacados 50 mil agentes para evitar distúrbios. A ministra também aproveitou o momento para agradecer às transportadoras que decidiram continuar a sua atividade, e chamou os manifestantes “à atenção”, afirmando que “nenhuma reivindicação pode ser levantada tendo o custo de prejudicar outros setores económicos, e a sociedade como um todo”.

Ao nível dos impactos já causados, o jornal “el Diario” avançou que já se identificaram um incêndio de pneus em Algeciras, de quatro camiões tratores em Villaescusa (Cantabria), que se encontram sob investigação, e alguns furos em Illescas (Toledo). Ao nível dos centros logísticos, até à data verificou-se um acesso normal em todos os principais centros logísticos, sendo que os distribuidores falam em normalidade absoluta, com apenas alguns incidentes menores em MercaJerez, que foram rapidamente controlados.