No passado dia 28 de outubro, Lisboa recebeu a edição de 2022 da Procurement Conferência, novamente em formato presencial. Foi um dia de intervenções e conversas que trouxeram a palco 20 profissionais do setor das compras e procurement, onde o foco foi para os temas da atualidade que podem contribuir para que esta área e os seus profissionais possam “Liderar a transformação”. Sustentabilidade, tecnologia, digitalização e blockchain foram apenas alguns deles. Para quem não pôde estar, sumarizamos alguns desses insights e ideias-chave.

Digital Procurement Survey 2022

Logo após a abertura, a PwC, na voz de Mariana Sampaio Lino e Pedro Pinto de Barros, partilhou o Digital Procurement Survey 2022, dando desde logo um contexto atualizado e global do setor. Entre as prioridades estratégicas apontadas pelas empresas, as principais foram a redução de custos, a transformação digital e a gestão de relacionamento com fornecedores.

Outra das ideias apontadas é o crescimento cada vez mais acentuado da transformação digital dentro das empresas, que começa a ter, dentro da área de procurement, mais expressão ao nível da eficiência e simplicidade de processos, da transparência, rastreabilidade e equidade de processos, e contenção de custos. Não obstante, a acompanhar esse crescimento, 90% das empresas apontou como importantes os temas de cibersegurança.

Ao nível dos benefícios, para o procurement vão para além dos processos source-to-pay, e as empresas inquiridas apontaram que 60% deles estão relacionados com procure-to-end e source-to-contract, sendo os restantes pontos percentuais divididos entre análise de gastos e gestões a vários níveis.

Até 2025 as empresas planeiam aumentar o investimento na digitalização de 41 para 70%, e apontam como fatores críticos para o sucesso da digitalização de procurement aspetos organizacionais e humanos.

Mesa-redonda I – Procurement insights: os desafios de quem lidera

Após o primeiro momento de contextualização do setor, António Barbeta, da Tankpor, Luís Sobral, do Mercado Eletrônico, Alfredo Figueira, da Galp, e Hélio Pereira, da Mercedes Benz Portugal, reuniram-se num momento moderado por João Pedro Mendes, da APCADEC, para abordar “os desafios de quem lidera”.

Um dos grandes temas abordados atualmente é a questão energética, visto que a guerra da Rússia com a Ucrânia está a dificultar o abastecimento de gás para a Europa. Alfredo Figueira começou logo por explicar que uma das decisões tomadas pela Galp após a invasão russa foi o corte de relações com empresas russas e com parcerias russas. Um desafio adicional para a empresa energética, que passou não apenas pelo aumento do custo, mas também pela disponibilidade do mercado, que era escassa.

António Barbeta considera que as análises de risco são muito importantes, e que a vertente analítica é bastante importante para a tomada de decisões. Segundo apontou, durante este tempo de maior incerteza, houve uma mudança de mentalidade ao nível da gestão, e que os líderes e decisores procuraram ligar-se mais às operações e compreender mais diretamente as necessidades das suas operações.

Nesse mesmo sentido, e pertencendo a um setor que foi muito afetado pela pandemia, guerra na Ucrânia e transição energética, Hélio Pereira considera importante que o procurement seja parte integrante da estratégia da empresa. “Os riscos mudaram, a complexidade do nosso processo aumentou e, portanto, nós temos de responder a tudo isso”, comenta ainda.

Luís Sobral, da Mercado Eletrônico, por sua vez, aponta que o futuro traz novos desafios para o setor das compras, e que este setor será decisivo para encontrar alternativas, não apenas individuais, mas também conjuntas, onde a tecnologia terá um papel mais do que importante, determinante.

Procurement e marcas próprias – O impacto da sustentabilidade e da digitalização num mundo em transformação

Já com um olhar sobre os desafios para o setor, e debatidas algumas das principais tendências vindouras, Pedro Carmo, da Daymon, fala sobre a mudança de paradigma, em que o procurement passou de ser uma área associada à poupança para uma mais estratégica, e que acrescenta também outro tipo de valor.

Como exemplo, aponta o desafio do Oceanário de Lisboa, que decidiu reformular toda a sua loja de modo a que esta seguisse os padrões de sustentabilidade defendida internamente. A preocupação da empresa mudou da poupança para a sustentabilidade, no entanto, apesar de haver uma menor preocupação com os custos, a loja também teria de ser autossustentável, o que criou uma necessidade de equilíbrio entre estas duas vertentes. Este nível de desafio já está a ser visível em grande parte das empresas atualmente.

Blockchain in procurement: Trust and transparency

Alexandra Azevedo, da Quay, abordou a aplicabilidade da tecnologia blockchain ao setor das compras, e os benefícios que esta pode ter para garantir uma maior fiabilidade e transparência nas operações. A responsável apontou que o setor das compras deve estar mais focado em funções mais estratégicas do que operacionais, e que a tecnologia deve ser encarada como um apoio ao setor.

Como construir uma cadeia de fornecimento mais sustentável, resiliente e ética

A terminar o período da manhã, João Lemos, da Moody’s, teve o desafio de encarar o elefante na sala. Face a todas estas dificuldades, “Como construir uma cadeia de fornecimento mais sustentável, resiliente e ética”?

O responsável abordou a temática da nova diretiva europeia, que agora vem reforçar a necessidade de as empresas avaliarem toda a sua cadeia de abastecimento, e de terem uma visibilidade total dos seus fornecedores, e dos fornecedores dos seus fornecedores, para que todas as regulamentações sociais, ambientais e humanitárias sejam cumpridas.

Mesa-redonda II – Sustentabilidade versus poupança

Iniciando a sessão da tarde, Anabela Pinto, da Bondalti, e Cláudia Monteiro, do Grupo Montepio, juntam-se numa apresentação mais dinâmica e envolvente com a plateia, tendo como principais subtemas as palavras Talento, Ambiental e Risco. Com a ajuda e cumplicidade de Susana Guerreiro, as responsáveis abordaram mais a fundo um tema que também já tinha sido referido por Pedro Carmo: o equilíbrio entre a sustentabilidade e a poupança.

Por um lado, é necessária a preocupação com a sustentabilidade, mas que, tal como Cláudia Monteiro apontou, não deve ser responsabilidade de um único departamento interno nas empresas, mas sim geral. Por outro lado, como salientou Anabela Pinto, é necessária uma maior visibilidade das cadeias de abastecimento para conseguirem reduzir os riscos, pois nem tudo se resume às poupanças. No entanto, tudo isto também depende de pessoas, e isso foi uma das ideias defendidas pelas profissionais em palco, a necessidade de encontrar pessoas com as skills necessárias para a área da negociação. “Negociação de um comercial não é a mesma coisa que negociação de um profissional de compras”, salientou Cláudia Monteiro.

Transformação digital no procurement – Plataforma OMNIA

Voltando à importância da tecnologia para a área de procurement, Hugo Duarte da Fonseca, da MAEIL, abordou as potencialidades da plataforma OMNIA e a forma como esta pode ajudar as empresas na transformação digital das suas áreas de procurement. O responsável apontou que o mercado procurava uma solução ágil e colaborativa, e que através das avaliações das necessidades e dos feedbacks dos clientes, desenvolveram uma solução que lhes permitisse responder e fazer face às dificuldades que as empresas sentiam.

Savings today: Mission impossible?

Rui Oliveira, da One Alliance, fez ecoar a clássica música dos filmes de James Bond, ao abordar o tema da poupança num momento em que tanto se fala em aumentos de custos. Uma das preocupações que o responsável cdefende que as empresas devem ter é, tal como apresentado ao longo do dia, com a tecnologia e transformação digital, enquanto ferramentas que podem apoiar na redução de custos, mas também a implementação de estratégias LEAN nas empresas, de forma a otimizar os processos.

Entre outras recomendações, Rui Oliveira defendeu que é necessária uma revisão end-to-end das operações, e cortar em etapas desnecessárias, avaliar ponto a ponto onde é possível encontrar novas oportunidades de poupança, e nota que, apesar da inflação, é fundamental estar atento aos pequenos detalhes, pois estes podem representar oportunidades de investimento.

Mesa-redonda III – Missão: Negociar

A terminar o dia, coube a Eduardo Almeida, da Bial, Gonçalo Serrenho, do Pestana Hotel Group, Marina Costa, da Portugália Restauração, e Vanda Veríssimo, da NOVA SBE, abordar o tema “Missão: Negociar”, uma das principais características do setor das compras e procurement, e talvez mesmo a mais humana. Com a ajuda de Hugo Gonçalves, da RSDG Human Capital, na moderação do painel, e após um dia repleto de olhares e abordagens ao estado do setor, as tendências futuras e as mudanças pelas quais passou, o próximo passo foi perceber o que falta melhorar e como adaptar as pessoas e as organizações a esta mudança.

Uma das temáticas apontadas desde logo por Vanda Veríssimo foi a das relações , e como estas devem ser verdadeiramente de parceria e não apenas de negociação, procurando uma situação de win-win em que ambos os lados se apoiam mutuamente.

Eduardo Almeida destaca ainda que cada vez mais são necessários profissionais que, para além das capacidades técnicas, também possuam competências relacionais e comunicacionais, e ao nível da negociação, defende que é necessário assegurar algumas questões antes de avançar para o processo propriamente dito.

Adicionalmente, Marina Costa destaca que o setor da restauração passou por uma época difícil durante a pandemia, e foi necessário adaptarem-se, mas que, “ao contrário do que se possa pensar, nem sempre temos de ser reativos, temos de ser, isso sim, muito proativos”, pelo que é necessário equilibrar estas duas vertentes estratégicas consoante as necessidades e áreas de atuação.

A fechar o dia, Gonçalo Serrenho também destaca a transformação digital e a análise de dados como formas importantes de tomar decisões, mas não deixa de lado outro dos temas centrais do dia: a sustentabilidade. Uma das ideias que o responsável procurou transmitir foi a de que o tema da sustentabilidade vai muito além das ações das empresas e das ideias que são passadas para o exterior. Acima de tudo, terá de vir da missão e da visão da empresa o “querer fazer”, e só depois ir ao encontro das expectativas dos clientes.

Foram estes alguns dos momentos altos do evento, mas só mesmo estando presente, fisicamente, para absorver todos os insights que foram sendo deixados, e para estabelecer aquele networking entre pares e com possíveis parceiros. Enquanto não chega a próxima edição poderá ver, ou rever, alguns dos momentos vividos na passada sexta-feira AQUI.