O Governo da Madeira criou uma reserva estratégica de cereais para antecipar possíveis quebras no abastecimento do setor da panificação. Esta ação conta com um investimento mensal de 60 mil euros.

O secretário regional da Economia, Rui Barreto, declarou que esta ação tem como base a recuperação de um “um conceito já existente no passado de reserva estratégica de cereais na região, aumentando, através de uma forma contratual, a capacidade de stock para que não haja ruturas no abastecimento, sobretudo ao setor da panificação”.

O titular da pasta da Economia do Governo da Madeira (PSD/CDS) adiantou, numa conferência de imprensa conjunta com o secretário regional das Finanças no Funchal, que “esta medida passará a vigorar a partir do quarto trimestre deste ano, perdurará durante um ano (são quatro trimestres) e terá um custo mensal a rondar os 60 mil euros”.

Segundo Rui Barreto “o objetivo é garantir que não há qualquer quebra de abastecimento e que está salvaguardado o interesse da região, nomeadamente para a indústria da panificação, porque o pão é matéria sagrada para o Governo Regional da Madeira”, acrescentando que é possível que “o preço do trigo aumente mais de 40% este ano, atingindo máximos históricos em termos nominais” já que o mundo vive “em gritante escassez devido à guerra na Ucrânia e ao bloqueio do transporte marítimo de cereais”.

O secretário regional da Economia esclareceu ainda que a Reserva Estratégica de Armazenagem de Cereais possibilitará, através da capacidade logística de armazenagem e de distribuição instalada, sustentar o normal e regular abastecimento ao mercado regional por um período temporal, nunca inferior a dois meses, com o objetivo de impedir que ocorra uma interrupção da cadeia de abastecimento ou uma rutura de stocks no referido horizonte temporal.

A reserva situar-se-á nos silos de armazenagem de cereais localizados no Porto do Caniçal, Zona Franca e Industrial do Caniçal, na freguesia do Caniçal, concelho de Machico, que pertencem à sociedade Silomad – Silos da Madeira, S.A.

Diminuição da produtividade e acréscimo dos custos

É de referir que o governante mencionou que de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal tem um grau de autoaprovisionamento de trigo inferior a 10% e a balança comercial de trigo nacional é “cronicamente deficitária: em 2021, apenas 6,3% da utilização interna de trigo (consumo humano, alimentação animal, utilização industrial, etc.) era satisfeita pela produção nacional”.

No que diz respeito às previsões agrícolas relativas à capacidade de produção nacional em 2022 é perceptível uma diminuição da produtividade em cerca de 10% face ao ano anterior. Aliás, como revelado pelo responsável, as mais recentes importações de cereais contratadas pelos operadores da Madeira nos mercados internacionais, em dezembro de 2021, “representaram, comparativamente às anteriores, um acréscimo de custo, quer em termos de preço da matéria-prima como de logística e transporte, superior a 55%”.

Desta maneira, por existir uma grande dependência do transporte por via marítima, o Governo Regional alegou que existem “riscos específicos e concretos de interrupção de abastecimento decorrentes do contexto global e da condição insular e ultraperiférica”.

Vale a pena lembrar que o capital social da Silomad é parcialmente detido pela Insular – Produtos Alimentares, que é a entidade importadora de cereais a granel na região e que possui um direito de exclusividade na armazenagem de cereais destinados a alimentação humana.