Num inquérito recente da Gartner, realizado de dezembro de 2021 a janeiro de 2022, constatou-se que 27% dos líderes da cadeia de abastecimento conduziram uma avaliação dos riscos das alterações climáticas para identificar os riscos mais críticos das suas cadeias de abastecimento.

“Os efeitos das alterações climáticas são difíceis de prever, mas é possível modelar os riscos e oportunidades que podem ocorrer”, disse Heather Wheatley, analista sénior da Gartner. “Os principais responsáveis pela cadeia de abastecimento (CSCO) avaliam regularmente vários riscos e oportunidades como parte de negócios normais – isto deve ser feito também para as alterações climáticas”.

De acordo com o inquérito, 44% dos inquiridos tem um sentido geral dos potenciais riscos de alterações climáticas com base em eventos anteriores. Isto significa que compreendem que os riscos das alterações climáticas estão a materializar-se, mas esses riscos não são metodicamente identificados ou quantificados.

“O planeamento de cenários é uma parte crucial do processo, pois realça elementos-chave de um futuro possível e ajuda a chamar a atenção para os fatores decisivos que irão impulsionar desenvolvimentos futuros. Por exemplo, num futuro que inclua escassez de matérias-primas e incerteza comercial, as organizações que dependem de fatores de produção mais resistentes, como culturas resistentes à seca, podem ganhar uma vantagem competitiva”, disse Wheatley.

 

Falta prospeção e tomada de decisão de longo prazo

A adaptação climática deve ser incluída nas decisões de investimento. Por exemplo, se se construir uma nova fábrica, devem ser tidas em conta no projeto futuras ameaças derivadas das alterações climáticas, como ondas de calor ou escassez de água. No entanto, a necessidade de investimento financeiro pode dissuadir a ação. As principais barreiras ao planeamento das alterações climáticas na cadeia de abastecimento incluem um enfoque na tomada de decisões a curto prazo (57%) e uma incapacidade de ligar a causa e o investimento aos benefícios (57%).

“Os investimentos na adaptação às alterações climáticas exigem um certo nível de previsão. Um instrumento cada vez mais popular é o preço sombra do carbono, que aplica um custo nocivo às emissões de gases com efeito de estufa, traduzindo efetivamente um risco futuro num custo operacional atual que atrai a atenção dos líderes empresariais”, disse Wheatley.

Vale a pena salientar que apenas 19% das empresas inquiridas estão a utilizar a tecnologia digital para ajudar a compreender os riscos das alterações climáticas. Das organizações que o estão a fazer, 85% estão a utilizar análises preditivas. Exemplos de ferramentas que poderiam ser utilizadas incluem a análise geoespacial, drones e capacidades de inteligência artificial (IA), tais como simulações ecológicas. Muitas organizações estão também a fazer parcerias com consultores externos para os ajudar a modelar cenários.

“Para as organizações que não estão a recorrer a tecnologia digital, não está claro que informação está a ser utilizada para ajudar a prever cenários e para identificar e avaliar riscos. Os CSCO devem assegurar que este ponto não seja negligenciado”, lembra Wheatley.