Se tivesse de apostar, diria que o conceito de E-commerce é já do conhecimento da maioria das pessoas, pelo menos das gerações mais jovens. Habituadas a fazer login em plataformas ou sites para comprar o que mais precisam e, posteriormente, receberem encomendas em casa, após um ou dois dias, estes são os grupos que têm presente o E-commerce, ou comércio eletrónico, quase diariamente na sua vida.

Mas esperem, um ou dois dias? É cada vez menos compreensível que este seja o tempo estimado para uma encomenda chegar ao destino. É certo que a pandemia veio potenciar a tendência do comércio online, já que forçou as pessoas a realizarem mais compras por esta via. Segundo o Recovery Insights – Small Business Reset, estudo desenvolvido pela Mastercard, desde o início do ano, o E-commerce já atingiu a nível mundial os 900 mil milhões de euros, mais 6 pontos percentuais comparativamente ao período pré-pandemia.

Este crescimento fez, porém, aumentar a exigência dos consumidores relativamente à rapidez com que as encomendas lhes chegam a casa. Hoje, as pessoas são cada vez menos compreensivas sobre as limitações da logística e da tecnologia e, face a isto, surge um novo desafio: criar um comércio online mais rápido, que permita ter encomendas à porta de todos, mas em minutos.

Foi exatamente isto que forçou o surgimento do Quick-Commerce, ou comércio rápido (se não gostar de estrangeirismos). Em Portugal, pode parecer algo recente, mas o certo é que este é um modelo de negócio já validado em países como os Estados Unidos da América, Turquia e Rússia. Mas o que é ao certo? Da forma mais simples possível, o Quick-Commerce é o tipo de comércio em que as entregas de bens essenciais são feitas em menos de 15 minutos.

Conhece a Bairro, a Getir, a Bolt Market ou outras empresas que andam aí? São todas plataformas de Quick-Commerce, mas como funcionam? Primeiro, o cliente realiza uma encomenda numa destas aplicações. Depois, esta é preparada por um funcionário, que agrega todos os produtos numa única embalagem e, por fim, o estafeta leva a encomenda para casa do cliente, num percurso célere e de poucos quilómetros.

Se pensarmos bem, este parece ser o modelo de uma empresa de entregas normal, pelo menos nos grandes centros urbanos, mas há uma diferença. A magia para que tudo isto seja mais rápido está exatamente no local onde a encomenda é preparada: a Dark Store. Pelo nome, parece saída de um filme de terror, mas não! É o espaço que torna o Quick-Commerce possível. A Dark Store é, tal como qualquer outro sítio onde se localiza um supermercado, um armazém onde se encontram todos os produtos disponibilizados numa aplicação ou site, mas que não permite o atendimento ao público, e onde está presente apenas o profissional responsável por preparar todas as encomendas. Normalmente, situa-se numa zona residencial e com bons acessos, sendo precisamente todos estes motivos aliados que permitem o aceleramento do processo de preparação e permite a entrega em menos de 15 minutos.

Mas existem mais benefícios, que vão da rapidez. O recurso a estas plataformas permite ainda um menor desperdício de produtos, já que a oferta existente é adaptada em função dos itens mais procurados pelos consumidores. Ao contrário dos supermercados, onde a quantidade reina, este novo modelo de negócio concentra-se em tipos específicos de produtos, permitindo um controlo mais apertado sobre alimentos perecíveis, como alimentos frescos, e uma gestão mais eficiente do inventário.

Agora que já sabe o que é o Quick-Commerce, ou assim espero após este artigo, vale a pena pensar sobre o seu futuro, que, a meu ver, espelha-se brilhante, impactando todo o universo do retalho. A expectativa é que um comércio online cada vez mais rápido permita entregar em minutos mais e mais produtos, que irão muito além dos essenciais. Uma extensão, um cabo elétrico de vários tipos, um telemóvel de última geração – quase tudo será possível receber em casa, até mesmo produtos de segmentos ditos mais tradicionais. Vejo que isto, certamente, impactará atores dos mais diversos setores, desde o retalho, à distribuição, passando mesmo pela logística, sendo que todos estes terão o desafio de se reinventarem, de forma a acompanharem o que será o futuro do consumo rápido e cómodo, respondendo às preferências dos atuais e futuros clientes.

Indo mesmo além da vertente económica, acredito que o Quick-Commerce terá um papel de extrema importância na construção das cidades inteligentes, através das novas tecnologias que utiliza para tornar a maioria dos processos de encomenda e entrega de bens mais rápidos, cómodos e sustentáveis para empresas e consumidores, bem como melhorando do início ao fim a experiência de compra destes últimos. Tudo isto, tornará as cidades mais ágeis e interligadas, de um ponto ao outro, mas em minutos, e à distância de um clique.

Assim, acredito que o tão rápido tempo do Quick-Commerce nos permitirá a todos ganhar mais tempo, mas uma coisa é certa: sei que não teremos de esperar muito tempo para ver o que se segue.

João Lopes | COO e cofundador | Bloq.it