Um Barril de Brent em Yuan, por favor.

A estratégia chinesa é, como diz o ditado, ter “paciência de chinês”. O chinês planta uma árvore mesmo sabendo que nunca colherá qualquer fruto, mas irá tratá-la com o maior dos cuidados para que os seus netos possam colher. Este é o pensamento do chinês!

Se olharmos à nossa volta a China está a envolver-nos, à escala mundial, com muita calma e paciência, senão vejamos: a China é o primeiro parceiro comercial do continente europeu com aumentos na ordem dos 4 e 5% que diz respeito às exportações, e 1,5 e 2% nas importações, com reduções de importações/exportações entre países europeus, incluindo o Reino Unido. A China já controla o mediterrâneo portuário e mais de 10% dos portos europeus são controlados por empresas orientais. A China é o primeiro parceiro comercial no continente africano com um crescimento de 8%, e na América do Sul é o segundo maior parceiro com um aumento significativo de investimentos e acordos de comércio, e é já o primeiro parceiro em alguns países da América latina.

Quando falamos de muitos dos países que têm as chamadas democracias híbridas, existentes predominantemente em África e na América do Sul, com um estado muito controlador e uma visão muito estatizante dos mercados, os centros de decisão são personalizados e não um ministério ou um departamento, pelo que será mais fácil encontrar pontos de interesse nos negócios a desenvolver. Estes países têm como principal credor a China e as dívidas são pagas, preferencialmente, com barris de petróleo.

Desde 2013 que a China está a desenvolver o grande projeto de comércio global 一带一路 Belt and Road Initiative (BRI) , e a atual guerra na Ucrânia determinou uma oportunidade inesperada para os chineses porque permitiu que a China e a Rússia estivessem a trabalhar em conjunto no sentido de enfraquecer o dólar numa lógica de enfraquecimento da posição americana na diplomacia e nas instituições internacionais, como diz a Professora Maria João Tomás.

Por outro lado, temos a Rússia a criar soluções financeiras para que os países europeus não quebrem as regras dos pacotes de sanções e cumpram com os pagamentos do gás e dos hidrocarbonetos em euros. O Estado russo disponibilizou duas contas a cada cliente num banco recente (não abrangido pelas sanções), os clientes procedem ao depósito do pagamento na conta em euros e posteriormente a entidade bancária tem autorização para transferir o valor para uma conta em rublos que por sua vez pagará a fatura, ou seja, a fatura na verdade será paga em rublos. Esta solução, enfraquece a moeda de pagamento (euros ou dólares) e aumenta o valor da moeda russa. Dados estes eventos e instabilidade das moedas americana e europeia, a China está perfeitamente disponível para receber os pagamentos que lhe são devidos, em Yuan, e já existem acordos em andamento com países como a Arábia Saudita nas transações referentes à compra e venda de petróleo.

Pelo exposto, estou em crer que poderemos num futuro próximo ouvir nas notícias que o valor de referência do brent está a ser anunciado em Yuan.

命运共同体

Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa