A Guerra na Ucrânia para além do nada absolutamente dramático que envolve o mundo, na última semana de fevereiro, tirou à família da logística uma peça única, o Antonov-225.

O AN-225 era o maior avião cargueiro do mundo, foi construído na década de 80 com o propósito de integrar a missão espacial Buran.

Buran foi o programa espacial da União Soviética para fazer frente ao programa espacial norte-americano. O projeto era semelhante dos dois lados, a NASA utilizou um B 747 para o transporte, a União Soviética não tinha um equipamento para realizar o transporte e, por essa razão, o regime desenvolveu um projeto único, AN-225. Na realidade foi colocada em marcha a construção de dois AN-225, mas só um viu a luz do dia.

O AN-225 foi construído em cerca de 5 anos e o seu primeiro voo foi registado a 21 de dezembro de 1988. Era um avião com uma envergadura de 88 m, 6 motores, 32 rodas, carga máxima de 250 toneladas com capacidade para 43.3 x 6.4 x 4.4 m, não passava despercebido nem em terra nem no ar.

A fabrica responsável pelo AN-225 bem como a empresa responsável pela sua gestão (Antonov Airlines) está no espaço geográfico que corresponde ao território da Ucrânia, razão pela qual, ouvimos várias vezes fizerem que o avião é Russo e a gestão é Ucraniana.

O fim da União Soviética, nos anos 90, marcou o momento em que o programa espacial perde importância e interesse, por conseguinte, um avião com estas características desproporcionais, até para os dias de hoje, perde a razão de ser. Contudo, no início do novo milénio foi identificada a vantagem competitiva dadas as potenciais necessidades do mercado global, o Antonov 225 pelo valor de 35.000 USD/hora passou a ser uma presença assídua nos céus, com o registo de centenas de records, tanto pelo transporte da mercadoria mais pesada como pelo transporte da mercadoria mais comprida do mundo. Para o AN-225 era habitual o transporte de pás eólicas, carros de combate, turbinas ou mega geradores, até ao dia 5 de fevereiro, registo do seu último voo.

Segundo algumas notícias, por necessidade de manutenção, o avião estava no Aeroporto de Hostomel, na Ucrânia, no momento em que despoletou a guerra, e como será de calcular uma ação de manutenção de um avião com estas características não poderia ser, colocar a chave na ignição e partir, e, como consequência dos bombardeamentos de que o aeroporto foi alvo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, confirmou a destruição do AN-225. Segundo Ukroboronprom, o custo de um potencial restauro seria de 3 bilhões de dólares e levaria cerca de 5 anos.

Não existe um cargueiro que possa substitui o trabalho do AN-225, o mais próximo seria o Boeing 747 Dreamlifter, que por muito grande que seja, serão necessários 2 aviões para fazer um AN-225.

A história é feita de várias perdas e esta é uma perda para a história da Logística.

Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa