Nós, que estamos a viver estas gerações de transição de século, podemos dizer que nos aconteceu praticamente de  tudo. Vivemos algo que poderá ser o pior de tudo e que, apesar de já ser muito mau, pode piorar, infelizmente.  

Ainda tenho uma avó com quase 94 anos de vida… e que vida! Sentiu o reflexo da 1.ª Guerra Mundial desde o seu nascimento, no início da vida adulta a 2.ª Guerra Mundial, que apesar de Portugal não ter tido uma participação ativa, a  população passou a ter condições de vida ainda piores do que até então e, para fechar o século XX, a guerra colonial,  que foi o que foi!  

Passou completamente ao lado da evolução industrial, que foi acontecendo no decorrer dos anos, lembra-se de ir a pé  para todo o lado, depois de carroça de cavalos (muito poucas vezes), a “camineta” ou carreira (como era  conhecido na época o autocarro), por fim os carros. Nunca andou de avião (e agora já não vai andar, como ela diz), de comboio e  barco poucas vezes, pois não era um transporte acessível à terra onde vive. O surgimento da eletricidade e água  canalizada… esta foi a evolução vivida e percecionada por ela. Passou muitas dificuldades, a vida foi difícil, mas agora  está melhor que nunca, não lhe falta nada, apesar de viver numa resistente e solitária rotina por sua opção. Durante a  sua já longa vida, o mundo sofreu imensas alterações… a evolução! Também perdeu muito: valores, bravura e  liderança. 

A verdade é que a 2.ª revolução industrial (eletricidade, produção em massa e combustão), teve um impacto real na  vida de todos no mundo e isso ninguém pode negar, mesmo pessoas como a minha avó com as suas humildes  habilitações, usufruíram diretamente dessa evolução. Já a 3.ª revolução industrial (automação, informatização e internet) vem provocar impactos industriais e sociais nunca antes vistos. 

Passamos o século e com todas as dúvidas do que será a continuidade após o ano 2000 e daí para a frente. Que inicio  de século e de milénio! Na ressaca da massificação da computação e do acesso à conetividade global acessível a todos!  Precipitou-se, em consequência, a 4.ª revolução industrial (Indústria 4.0). Utilizo esta expressão pois a 3.ª revolução  industrial foi muito mais curta que todas as outras, arrisco a dizer que a humanidade não teve oportunidade de assimilar  progressivamente as atualizações, o potencial das técnicas e tecnologias desenvolvidas durante esta revolução e o pior  é que deixamos de ter capacidade de reação ao nível do ensino e profissional para responder às necessidades das  empresas e da população. 

Como se não bastasse, surge-nos a pandemia com a COVID-19 e agora a invasão da Ucrânia pela Rússia. 

Ainda a analisar o impacto da COVID-19 na forma de gestão de compras e stock nas empresas, além de todos os  problemas da intermitência do abastecimento da cadeia de abastecimento. Ainda à procura da estabilização da gestão  operacional para garantir os níveis de serviço a que estávamos habituados.

E agora? Como vamos agir? Será que conseguimos ver o mundo e o futuro de forma diferente? Operacionalmente  vamos continuar a trabalhar na incerteza da garantia do nível de serviço? 

Segundo o meu ponto de vista, tentando digerir o que está a acontecer, prevejo um impacto cada vez mais negativo  na operação: 

  • Financeiramente teremos cada vez mais pressão:
  • O efeito da inflação será uma realidade nos próximos anos:
  • O impacto na gestão de stocks, para nós que estamos dependentes direta ou indiretamente do abastecimento global: 

               – vamos ter que criar novos procedimentos de controlo de stocks,
               – desenvolver novos algoritmos para ser ainda mais responsivos e flexíveis. 

  • Criar políticas empresariais de consciencialização do potencial da equipa e do trabalho colaborativo;
  • Desenvolver visão global para todos os colaboradores e stakeholders. 
  • E, por fim, envolver-nos nos sistemas de poder e de gestão. 

Só assim conseguiremos juntos mudar o mundo, se estivermos por dentro dos sistemas, sejam eles políticos,  religiosos ou sociais. 

Tenho verificado durante o desenvolvimento da minha atividade profissional que além do gap técnico que existe no  mercado, há principalmente um gap de boas pessoas. Pessoas inteiras, com valores, integridade, honestidade e  seriedade. Por fim e recorrente, faltam líderes que consigam comunicar com eficácia, consolidando e motivando a  equipa com coesão e alinhamento institucional. 

O futuro apresenta-se difícil, mas só depende de nós… unidos e convictos que é possível melhorar sempre.  Força e coragem!

Rui Silva | Co-founder | COPLOG – Consultores em Operações de Produção e Logística