Na passada terça-feira o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou que irá suspender o processo de certificação do Nord Stream 2, o gasoduto recém-construído que vai desde a Rússia até ao centro da Europa, através da Alemanha, com vista ao abastecimento europeu de gás. Este ambicioso projeto permitirá importar gás russo suficiente para abastecer 26 milhões de habitações, tem mais de 1.200 quilómetros de extensão e custou 9,5 mil milhões de euros.

O gasoduto tem uma capacidade para transportar 55 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano, e iria duplicar a capacidade de exportação de gás da Rússia para a Alemanha através do Báltico, onde já conta com uma capacidade equivalente desde 2011. Com o Nord Stream 2, a Europa passará a ter uma capacidade superior a mil milhões de metros cúbicos semanais, e que se não for importado pela Rússia, esta terá de importar de outras regiões. A paragem deste projeto e a questão dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia estão a fazer disparar o preço do gás.

Em Portugal, o impacto não será tão grande, visto não estar tão dependente da Rússia como o resto da Europa, cujas importações de gás desta fonte ascendem aos 40%, e onde se irá refletir o aumento do preço. Nesse sentido, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, afirmou a seguinte declaração numa publicação na sua rede social Twitter: “Bem-vindos ao admirável mundo novo onde os europeus muito em breve irão pagar 2.000 euros por mil metros cúbicos de gás natural”. Atualmente, o mesmo volume custa 800 euros.

Para o país, Sines poderá apresentar-se como uma porta de entrada para o gás para a Europa, pois o gás natural que chega a Portugal é transportado, sobretudo, pela via marítima, em navios metaneiros, através do ponto de Sines, para além de que Portugal se encontra no extremo oposto dos conflitos. António Costa referiu recentemente que “o aumento das interconexões entre Portugal e Espanha e de Espanha com o conjunto da Europa” será “absolutamente decisivo para aumentar significativamente a segurança energética da Europa”.

“Temos infraestruturas para acolhimento e exportação para a Europa”, afirmou o primeiro-ministro português, referindo que o único problema passa por fazer o gás chegar a França, e daí ao resto da Europa. O gasoduto existente nos Pirenéus tem pouca capacidade, o que faz com que este acesso entre a Península Ibérica e o resto da Europa seja mais limitado, e António Costa já tinha defendido no passado, em Bruxelas, que deveria ser feito um aumento das interconexões energéticas entre Portugal, Espanha e França.

“Este é um tema que se arrasta há muito tempo e em que é essencial encontrar soluções no quadro europeu. Portugal cumpriu escrupulosamente a antecipação do encerramento de produção de eletricidade a carvão. Portanto, é altura de a França cumprir as obrigações que assumiu de permitir o aumento das interconexões”, afirmou o primeiro-ministro português.

João Galamba, secretário de Estado adjunto e da Energia, também já tinha defendido a posição de Sines como possível recetor de gás americano na Europa, mas também fez notar a resistência da França, relembrando que “a melhor defesa contra a dependência do gás natural é investir mais nas renováveis”.

António Costa reforçou que o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia é uma “ocasião para a UE olhar para a questão da segurança energética numa ótica de 360 graus, e perceber como é fundamental diversificar as fontes de abastecimento de energia à Europa e diversificar as energias utilizadas na Europa, acelerando o processo de descarbonização das energias renováveis”.

O Nord Stream 2 é detido pela Gazprom e financiado pelas Engie, OMV, Shell, Uniper e Wintershall, e funciona como uma “autoestrada” para o gás. Foi licenciada em 2013, e em 2016 o consórcio, homónimo do projeto, avançou com a contratação de fornecedores. Entre 2018 e 2019 foram atribuídas todas as licenças de construção necessárias, tendo inclusive sido necessárias as permissões da Alemanha, Finlândia e Suécia.

A construção iniciou ainda em 2018, no entanto, entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020 esteve parada, devido às sanções impostas pelo Governo de Donald Trump às empresas participantes neste projeto. Foi concluída em 2021, e em outubro já começou a ser injetado gás, como forma de testar e de assegurar volumes mínimos de segurança.