De 31 de Janeiro a 6 de Fevereiro celebra-se o novo ano Chinês. Este ano, o ano do tigre. Se, por um lado, pensamos que possa ser até pouco tempo, ou seja, apenas uma paragem de sete dias; a nível global o impacto é só absurdo. Isto pela brutalidade de indústrias e sectores que são afectados, não só durante essa semana, bem como nas semanas antecedentes e posteriores à grande festa.

E existe muita sede para esta celebração neste país. Relembrar-se-á que no ano passado as celebrações ficaram suspensas por causa da pandemia, o que se traduziu na paragem de circulação de milhões de pessoas a nível interno. Este ano, a pandemia começa a dar tréguas e também já entendemos melhor como controlar este “bicho”.

Para não falar da realização dos Jogos Olímpicos de Inverno, que decorrem de 4 a 20 de Fevereiro em Pequim. E só este evento atrai milhares de apaixonados pelo desporto que não querem perder este evento. No entanto, Pequim ainda não se manifestou sobre restrições a nível de turismo e transporte e como podem ser afetados.

Mas que impacto tem a paragem de sete dias do novo ano chinês na China para o mundo?

Toda a economia é afectada. E quando digo toda é mesmo toda, a nível global. A China detém as maiores fábricas de matérias-primas para as indústrias, assim como produtos electrónicos e produtos de baixo valor. E a Europa é uma grande consumidora deste tipo de bens, importando grande parte da China para o uso na sua produção em fábrica.

Se durante uma semana não existe abastecimento, seja marítimo ou aéreo, isso significa que semanas antes, e depois, todos os fabricantes vão estar ao “rubro”, a tentar importar o máximo possível para ter uma produção contínua. E essa procura começa a aumentar logo nas semanas antecedentes ao Natal, dando continuidade no início do ano.

O que acontece é que, a nível de abastecimento, durante 2020/21 tivemos diversos obstáculos:

  • Início de uma pandemia generalizada em Março 2020;

  • Confinamento global = paragem e redução de produção a nível mundial;

  • Novas variantes da COVID-19 que obrigaram a mais restrições;

  • Vacinas que vieram trazer um novo folgo para a economia;

  • Empresas que voltaram a produzir e a economia global a circular novamente;

  • Novas variantes foram descobertas;

  • Novas restrições a nível de circulação de pessoas e bens;

  • Logística internacional afectada com mais congestionamentos, escassez de equipamentos e transit-times alargados;

  • Novo reforço da vacina recomendado;

  • Nova variante, mais contagiosa que as anteriores;

  • Novos confinamentos, apesar de não alargados, afetam diretamente a economia global;

Temos visto que é uma ongoing situation que nos limita a todos os níveis. E o abastecimento está efectivamente afectado. É expectável que durante os próximos dias, o transporte marítimo de Dalian (CY) até Antuérpia (BE) dure mais de 80 dias. É um aumento de praticamente o dobro do esperado, se compararmos com o período pré-pandemia. Muitas rotas continuam suspensas e o abastecimento do Sul da China está para além do caótico. Tudo contribui para um alargamento de tempos de trânsito que tornam as produções contraproducentes e obriga os fabricantes a procurarem em outros mercados, outras soluções. O problema é sempre o mesmo: o preço de matérias aumenta, bem como do transporte, o que faz com que o custo do produto final aumente.

Transporte aéreo carece do mesmo problema. Ou seja, para além de dezenas de rotas que foram suspensas e não voltaram a operar, o valor por Kg em carga aérea está muito elevado e o tempo de trânsito também não é o ideal. As rotas alteraram-se de tal forma que, um voo que poderia ter uma escala, agora possa ter três ou mais, duplicando e por vezes triplicando o seu tempo de trânsito.

À parte da logística que acaba por ter um efeito dominó, ou seja, se há falta de equipamentos, se os navios e aviões estão a alargar o seu tempo de resposta, então todo o tráfego marítimo e aéreo é afectado. Ao operarmos numa economia circular, faz com que tudo esteja conectado como uma linha de montagem. E se algo falha, tudo é afectado e neste caso isso acontece com o abastecimento. Entregas em outros mercados estão a ser afectadas.Mas isto não é novidade. Todos os anos existe o mesmo problema. Todos os anos por esta altura, existe o pânico de ter ou não ter os produtos atempadamente para dar resposta aos compromissos.

E por isso é tão importante a formalização de um forecast que seja atualizado conforme os contratempos e necessidades que vão ocorrendo. E, para além disso, uma política de procurement que seja dinâmica e que não dependa somente de um fornecedor ou fornecedores da mesma região do globo.

Para além da crise imposta no abastecimento, existe uma crise no mundo do e-commerce que para além de ser afectada pela falta de resposta de abastecimento, também é afectada pelo aumento de procura desde a altura do Natal até esta do novo ano chinês. Os armazéns explodem de encomendas nas fábricas chinesas para entregas internas e externas, o que leva à falta de stocks. Escassez de produto que faz com que, uma vez mais, existam mais atrasos de entrega e de solução para aqueles que procuram e desejam o seu produto.

Ainda sobre o aumento significativo do preço, seja de transportes como do produto em si, que acontece desde Dezembro até +/- duas semanas após o novo ano chinês, que este ano pode ser alargado com a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno. Este aumento de valores existe, seja no produto em si, que acaba por ser inflacionado, como o transporte do mesmo. Os valores de transporte disparam para números absurdos, que acabam por limitar em muito o negócio.

E aqui podemos verificar que existe um poderio da China no ocidente na regularização de algumas regras em relação às  quais nada podemos fazer, nem mesmo dar a volta. São assim controladas e, ou aceitamos, ou não aceitamos.

Não é de todo o ideal, principalmente quando se encara uma pandemia pelo meio, mas efetivamente é um facto e um acontecimento que existe todos os anos e que provoca pânico a nível internacional.

Respirar fundo e deixar passar, controlar da melhor forma todo o planeamento e datas a cumprir, estabelecer políticas alternativas de procurement, garantir, antever o risco e não deixar o negócio parar.

Sara Vera-Cruz Quintas, Sales Consultant Portugal & LATAM |

Nota: A autora escreve segundo a grafia anterior ao novo Acordo Ortográfico.