Um dos erros relacionados com a sustentabilidade é que a cadeia logística não entra na agenda dos conselhos de administração, sendo que esta é uma das maiores responsáveis pelos gases com efeito de estufa, como explica Carlos Mercuriali, vice-presidente e general manager da SAP Procurement Solutions para a região sul da EMEA, ao ECO.

Citando um relatório da McKinsey, Carlos Mercuriali refere que “em média, 90% da pegada de carbono vem da cadeia de abastecimento” e reforça a importância deste tema para as estratégias comerciais. “80% dos consumidores dizem que estão disponíveis para pagar mais por produtos de empresas que têm cadeias de abastecimento sustentáveis”, sublinha.

A título de exemplo, o responsável indica o caso de uma empresa com 30 mil fornecedores, cujo departamento verifica regularmente o grau de cumprimento de toda a cadeia. “Há uma equipa que todos os dias verifica se eles são verdes, amarelos ou vermelhos. Se são amarelos ou vermelhos enviam uma carta a dizer que têm de ter certificação, melhorar isto ou aquilo”, conta. Além disso, esta empresa usa ainda “proactivamente” o poder do volume de compras para forçar mudanças na cadeia de abastecimento. “Olha para todos os fornecedores e diz: queres fazer negócio comigo tens de ser bom na sustentabilidade”, demonstra.

Carlos Mercuriali dá ainda outro exemplo: “Há um fabricante de ténis, que se tornou muito famoso no último ano. Eles estão sedeados em França, fabricam os ténis no Brasil e todos os elementos do ténis têm uma origem sustentável. Além disso, contratam nas comunidades locais. Não estão apenas a ajudar o ambiente, o que é o principal, mas construíram uma marca que tem um propósito. Falamos disso, compras com propósito”.

Para ter cadeias logísticas sustentáveis, a empresa tem de ser capaz de “monitorizar os fornecedores, os fornecedores dos fornecedores, o impacto do transporte marítimo ou por avião”, sublinha. É aqui que interessa o papel da digitalização. O responsável da SAP afirma que digitalizar os processos internos é uma vantagem competitiva, mas é preciso fazer o mesmo com o mundo exterior. “É preciso estar ligado com o consumidor, mas também com os fornecedores e com os parceiros de negócio. Não é uma discussão de backoffice, é uma discussão de ponta a ponta sobre como entrego os meus produtos, na hora certa, no sítio certo, ao preço certo”.