A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que os “países pobres”, assim denominados os países que necessitaram de apoio, recusaram 100 milhões de doses da vacina contra a COVID-19 devido à aproximação da data de fim de validade, e considerou que este ato dos “países ricos” – que apoiaram – é “uma vergonha moral”.

Já não é a primeira vez que a OMS acusa os países ricos de cometerem estes atos, sendo necessário um prazo mais alargado no que é doado, de forma a que os países as possam armazenar por tempo suficiente para poderem planear melhor as suas campanhas de vacinação e imunizar “as populações que vivem em áreas de difícil acesso e em contextos difíceis”, explicou Etleva Kadilli, diretora da Divisão de Aprovisionamento da UNICEF. Um terço das doses fornecidas pela Covax foram doadas por países europeus.

Entre outubro e novembro, 15 milhões de doses doadas pela UE foram recusadas por países pobres, de entre as quais 75% eram vacinas AstraZeneca – que alguns países já começaram a distribuir há alguns meses – cujo prazo de validade, quando chegaram ao seu destino, era inferior a 10 semanas.

Mais recentemente, no passado mês de dezembro, a Nigéria teve de queimar mais de um milhão de doses da vacina AstraZeneca, mas cuja data de validade se aproximava ou tinha mesmo expirado.

Enquanto principal parceiro logístico para a distribuição de vacinas em países pobres, a UNICEF avança que estes países agora recusam-se a receber doses de vacina com um prazo de validade muito próximo. Etleva Kadilli avançou ao Comité de Desenvolvimento do Parlamento Europeu que apenas em dezembro “mais de cem milhões de doses foram recusadas”, e que na sua maioria “deveu-se à data de validade”.

A responsável da UNICEF avançou que muitos países pedem agora que as entregas de vacinas sejam fracionadas e adiadas para o próximo trimestre.

Na passada quinta-feira, num debate em Bruxelas sobre a vacinação contra a COVID-19, com gestores europeus do programa Covax, a Comissão de Desenvolvimento do Parlamento Europeu apelou à aceleração da vacinação em África.

Durante esse momento, Maria-Ange Saraka-Yao, chefe da Vaccine Alliance (Gavi) – que juntamente com a OMS e CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) lidera a Covax -, aproveitou o momento para elogiar os países europeus por terem “estado na vanguarda da luta contra a pandemia”, e realçou que a UE foi o maior doador de doses entregues através da Covax durante o ano passado, tendo todos os 92 países aderentes recebido um primeiro carregamento de vacinas, e já sido administradas 219 milhões de doses da Europa.