Ainda sem fim à vista, mas de forma mais controlada, a pandemia deu tréguas e possibilitou à APLOG realizar presencialmente o seu 23.º congresso de logística, que decorreu nos dias 9 e 10 de Novembro, no PT Meeting Center, em Lisboa.

Sob o mote ‘Da Resiliência à Recuperação’, que reflecte o percurso de tantas empresas durante a pandemia e os objectivos para uma realidade no ‘pós’, foram muitos os temas indispensáveis que se debateram, desde a resiliência das operações, à sustentabilidade e tecnologias, passando pelo e-commerce. Agilidade, resiliência, optimização, colaboração, foram algumas palavras-chave que prevaleceram durante o congresso e que fazem parte do dia-a-dia dos ‘logísticos’.

A primeira sessão contou com profissionais de empresas que enfrentaram grandes desafios durante a altura mais crítica da pandemia, nomeadamente José Fortunato, administrador do pelouro de marketing e de operações da SONAE MC, Rui Baptista, logistics business manager da Volkswagen Autoeuropa, José Miranda, director de operações de supply chain da Leroy Merlin e Luís Menezes, CEO da Unilabs Portugal,

Um ano verdadeiramente atípico. Esta foi uma realidade transversal a todas estas empresas. “Foi necessária uma grande capacidade de adaptação”, confessa José Fortunato, relembrando que tiveram quatro/cinco semanas durante a pandemia que igualaram a época natalícia. Um trabalho exigente que dependeu da resiliência dos trabalhadores, aos quais o responsável agradeceu. “As pessoas estão no centro de tudo na resiliência e operações”, salienta José Miranda, acrescentando que também tiveram de se adaptar à realidade que se impunha. “Todos os dias era um dia novo, com um novo planeamento”, conta. Por sua vez, Luís Menezes, revela que a maior transformação logística que fizeram foi a entrega de produtos, sendo o papel central das operações logísticas. Aproveitou também para evidenciar a colaboração entre o público e o privado que se verificou durante a pandemia, mostrando, porém, o seu pesar por ter durado tão pouco. Rui Baptista explica que, “contra a natureza” da Autoeuropa, viram-se obrigados a parar a produção devido à rápida propagação do vírus, mas assume que “mesmo com todas as incertezas, tomámos as decisões certas no ano de 2020”. Neste momento, o maior constrangimento para a Autoeuropa prende-se com a falta de semicondutores, permitindo apenas produzir consoante a disponibilidade dos mesmos. “Precisamos de trabalhar a agilidade e flexibilidade dos nossos fornecedores”, revela.

A sustentabilidade e os seus desafios também não foram esquecidos. Jean Barroca, da Deloitte, abordou o futuro das cidades que actualmente enfrentam desafios económicos, sociais e ambientais, após o que se seguiu uma mesa redonda composta por Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, Vítor Ferreira de Almeida environmental manager da Jerónimo Martins, e Cláudia Simões, coordenadora de desenvolvimento sustentável da Luís Simões. Todas as empresas identificaram os seus focos e desafios de sustentabilidade. Para Cláudia Simões, o mais importante é serem eficientes para conseguirem servir soluções diferenciadoras. Já Ana Trigo Morais refere que a Sociedade Ponto Verde tem tido o papel de ajudar os clientes a escolher a embalagem que melhor se adeque às suas necessidades, evitando o desperdício alimentar. Vítor Ferreira de Almeida, por sua vez, afirma que “o sector logístico é fundamental para atingirmos a transição energética”, mas deixa algumas questões-chave, como “que veículos utilizar?”, “como vai ser com o hidrogénio?”, “como está o país preparado a nível de infra-estruturas?”.

O e-commerce também teve o seu destaque no congresso da APLOG, numa sessão paralela que contou com Gaspar D’Orey, CEO da Dott, Rui Aragão, director de e-commerce da Wook, David Molino, da Correos, e Luís Delgado, da Mondial Relay. Abordou-se essencialmente a expectativa e exigência do consumidor, que espera rapidez no e-mail de recepção, na entrega, e uma maior proximidade e comodidade, ao mesmo preço. Este pode ser o desafio do comércio online. Contudo, não houve dúvidas em afirmar que este veio para ficar.

Em paralelo, deu-se um momento dedicado à “Tecnologia na Logística; Catalisador de Recuperação”, contando com a participação de Luís Freitas, business consultant na Zetes, Rui Sequeira, logistics digital solutions na Siemens Digital Logistics, Paola Elizalde, head of solution design South Europe da Körber Supply Chain, e Pedro Gordo, supply chain business developer da Generix. Aqui a abordagem foi diferente. Enquanto no momento anterior o foco estava no cliente final, esta foi a altura de evidenciar como pode a tecnologia ajudar as empresas a optimizar os seus processos e operações.

Apresentou-se ainda um follow up do estudo “A Logística em Portugal – Inovação, Tendências e Desafios do Futuro”, realizado pela APLOG e pela KPMG, bem como alguns desafios discutidos por Fernando Mascarenhas, partner da KPMG, Cristina Jorge, senior project manager da Efacec, e Miguel Pinto, managing director da Continental Antenna Portugal. As tendências identificadas no estudo mantêm-se e apresentaram-se alguns temas-chave para a agenda da supply chain, como a gestão da procura, a visibilidade na supply chain, micro supply chain, plataformas/everything as a service, entre outras. Durante o debate abordaram-se os desafios que a Efacec e a Continental Antenna ainda estão a enfrentar, nomeadamente a volatilidade, a falta de matérias-primas, a dependência de fornecedores asiáticos e a colaboração entre os vários players da cadeia.

O segundo dia começou com Isabel Jonet que apresentou o projecto Unidos Contra o Desperdício, um movimento cívico em que as empresas desempenham um papel social importante e onde podem contribuir para uma melhor e mais eficiente economia circular. A responsável, também presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, apelou à consciencialização das empresas e enumera as diversas vantagens que estas podem obter ao ajudar a causa, incluindo mesmo benefícios fiscais.

Seguiu-se painel Infraestruturas – Mais Resiliência, Mais Crescimento, sob a moderação de José Limão. Este painel contou com José Luís Cacho, presidente da APS, José Matías Sánchez González, subdirector geral da Extremadura Avante, Carlos Fernandes, deputy CEO das Infraestruturas de Portugal, António Nabo Martins, presidente executivo da APAT, e Nuno Araújo, presidente da APDL.

A terminar a manhã, deram-se duas sessões paralelas, uma sobre o tema “Saúde” e outra sobre “Agilidade e produtividade na InterLogística, Robótica & Automação”. O primeiro momento procurou compreender o estado do sector da saúde numa altura “pós” pandemia, contando para isso com a ajuda dos laboratórios e da indústria farmacêutica (Hospital São João, Hospital Lusíadas, Astra Zeneca e Linde Saúde), tendo como moderação o Instituto Superior Técnico. O segundo, numa vertente mais tecnológica, apresentou tecnologias e projectos futuristas de auxílio à logística e à intralogística, contando aí com empresas do ramo das soluções e equipamentos (JPM, DB Schenker e GXO) e ainda uma da área da investigação (INESC TEC), com a moderação da Porto Business School.

Quase a terminar o dia, o “Painel dos Presidentes / CEO’s – Uma Visão de Futuro”, em que a jornalista Rosário Lira conduziu a conversa entre José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, Miguel Almeida, CEO e presidente da Comissão Executiva NOS, e Luís Onofre, presidente da APICCAPS, e onde os responsáveis contextualizaram as suas realidades antes e após a pandemia, e onde para além de olharem para esse passado – não muito distante -, também olharam para o futuro e para os desafios que virão para os sectores das telecomunicações, do calçado e do turismo.

O dia terminou com a intervenção do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, que sumarizou os trabalhos e apresentou uma visão mais global do estado do país e a importância que a logística e os operadores logísticos têm e tiveram, durante a pandemia, para a economia. Destacou ainda como a logística e os investimentos que estão a decorrer, irão ser importantes para uma melhor economia, e a evolução que se sentiu neste último ano e meio. Face às dificuldades sentidas actualmente, o ministro comenta que “o problema que agora temos já não é o mesmo, é o simétrico: temos clientes, mas temos mais dificuldades em responder-lhes”.

“Uma colaboração estreita entre o sector, outros elementos da cadeia de valor e o sector público vão ser essenciais para da melhor maneira enfrentarmos os desafios desta próxima década”, conclui Pedro Siza Vieira.