Optimizar rotas, tirar partido das tecnologias e criar parcerias com todos os actores envolvidos é a única forma de tornar a distribuição urbana e a última milha competitivas e,  sobretudo, sustentáveis, defenderam os participantes no debate promovido no âmbito do Portugal Mobi Summit, que decorreu a semana passada, em Cascais.

Todos eles trouxeram um conjunto de ideias e propostas inovadoras para tornar as frotas de distribuição urbana sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental, como financeiro. E, por vezes, nem será preciso fazer muitas mudanças ou investimentos nas infra-estruturas, como demonstrou o responsável da Uber: “Se antes tínhamos motoristas a transportar pessoas, hoje, esse mesmo motorista usa a sua proximidade ao local para fazer também entrega de mercadorias”, explica Manuel Pina, especificando que esta pode ser uma solução para reduzir o número de quilómetros percorridos.

Por seu turno, Paulo Humanes adverte que “A distribuição de bens e as deslocações das pessoas têm de ser feitas em articulação com o resto da mobilidade dentro das cidades”, lembrando que a tecnologia tem um papel central para a eficiência dos serviços. Daí que a sustentabilidade das frotas de last mile passe, sobretudo, pela gestão de “todo o ecossistema da mobilidade”, algo que só poderá acontecer com a integração de soluções inovadoras.

Para grandes empresas, como os CTT, o impacto da circulação das suas frotas é gigantesco. Os quatro mil veículos de distribuição a circular pelo país, percorrem todos os dias qualquer coisa como o equivalente a cinco voltas ao planeta Terra. O sistema de optimização das rotas torna-se, por isso, num instrumento indispensável no que diz respeito à eficiência de cada um dos veículos.

Da mesma forma, a electrificação dos transportes é, segundo Paulo Alexandre Silva, uma tarefa que começou há mais de uma década e que alcançará as zero emissões em 2030. “Mas não basta apenas ter veículos pequenos e com baixas emissões, é preciso igualmente desenvolver novos modelos de mobilidade junto com as autarquias para aliviar a pressão sobre o tráfego”, alerta o responsável dos CTT, ressalvando que têm em curso várias parcerias com diferentes autarquias.

Segundo o director de produção, logística e distribuição dos CTT, um bom modelo seria criar “zonas de distribuição dedicadas”. Ou, noutros termos, dividir ou “retalhar” cada município em várias áreas, que ficariam entregues a um único operador de distribuição. Isto permitiria maximizar todas as rotas, reduzindo enormemente os quilómetros percorridos: “Juntando esse modelo de gestão com a electrificação das frotas, a eficiência no last mile atingiria o pico”, defende Paulo Alexandre Silva, revelando que o protótipo já começa a ser testado em algumas cidades europeias.

No caso concreto da Saba – empresa de soluções de mobilidade urbana e gestão de parques de estacionamento – foi a olhar para os parques de estacionamento que surgiu a ideia de os aproveitar para armazenar mercadorias quando não estão a ser usados, ou seja, durante a noite. E tem dado que falar o projecto-piloto que a Saba está a desenvolver em Barcelona.

São 40 os parques de estacionamento da capital da região da Catalunha que de dia servem para estacionar veículos e de madrugada convertem-se em armazéns. Logo pela manhã, toda a mercadoria que entrou no parque durante a noite sai em scooters, bicicletas ou trotinetes eléctricas para distribuição e entrega aos clientes. “Queremos desenvolver este conceito também em Portugal”, salientou o director-geral da Saba.