O impacto da logística e da distribuição para atingir a neutralidade carbónica em 2050 é um tema importante tendo em conta que uma parte significativa das emissões de CO2 dos transportes são provenientes dos transportes de mercadorias, sendo este um dos sectores onde são precisas mais soluções para reduzir as emissões de CO2.

Só que, enquanto nos transportes privados uma das soluções para baixar as emissões passa por reduzir a circulação, nos transportes de mercadorias é necessário encontrar formas de minimizar as emissões ao mesmo tempo que se pretende aumentar a circulação e distribuição de todo o tipo de bens, uma vez que esse é um factor que contribui para a economia. Estas necessidades e preocupações foram discutidas num dos debates ‘50 para 2050’, uma iniciativa do Expresso e da BP.

O aumento do transporte de mercadorias intensificou-se por causa da pandemia, não tanto na distribuição e entrega de longo-curso, mas na de curto e médio-curso, nomeadamente de bens alimentares, refeições e outro tipo de bens comprados através do comércio online, uma tendência que veio para ficar e que poderá, ou não, aumentar os níveis de emissões de CO2. “É uma pressão boa que requer uma adaptação à nova realidade, por exemplo aumenta o transporte, mas as pessoas deslocam-se menos para ir às lojas”, refere Gonçalo Lobo Xavier, director-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).

Independentemente das dificuldades e do impacto da pandemia, as metas para o sector dos transportes estão definidas no Roteiro para a Descarbonização 2050 (RNC2050) e têm de ser cumpridas. Nesse ano, pretende-se atingir uma redução de 98% das emissões nos transportes, começando por alterar os tipos de combustíveis usados. Nos carros privados a aposta tem sido na electricidade, mas nos transportes de mercadorias esta opção não tem sido considerada a melhor porque a tecnologia ainda não permite que os carros eléctricos façam longas distâncias.

Ainda assim, e apesar de e nível financeiro não ser ainda viável, segundo Gonçalo Lobo Xavier, ainda há muita investigação a ser feita na utilização de novos materiais, como o hidrogénio, que parece ser uma solução consensual não só no transporte rodoviário, mas também na aviação e no transporte marítimo.

Nos transportes rodoviários, enquanto não há soluções a electricidade ou hidrogénio, o Gás Natural Veicular (GNV) tem sido uma opção e há já várias empresas de transportes de mercadorias a usar este combustível.

Além disso, há outras formas de ajudar a reduzir as emissões e é aqui que entra a logística, havendo, neste sector, várias formas de atuação. Uma delas passa por uma maior repartição modal, ou seja, reduzir o papel da rodovia e “reafirmando o papel do transporte marítimo e fluvial conjugado com o transporte ferroviário”, pode ler-se no RNC2050. Mas aquela em que mais se tem apostado nos últimos anos é a digitalização e aumento da eficiência dos processos logísticos.

Actualmente já é possível controlar todo o processo de forma digital, desde a monitorização dos stocks ou da quantidade de mercadorias que se transporta, passando pelo tipo de embalagem e pela forma como se acondicionam as mercadorias nos carros. Porque a forma como as mercadorias estão acondicionadas e são arrumadas pode ser a diferença entre usar um ou dois camiões, por exemplo. E, à partida, um camião terá menos emissões que dois.