Durante a sua intervenção no painel de debate do segundo dia da SCM Digital Conference, que ocorreu nos passados dias 2 e 3 de Junho, Sandra Augusto, Logistics Manager South America da Volkswagen Brasil comentou que os problemas que sente no país da América do Sul, relacionados com a pandemia de Covid-19 pelo mundo, são um pouco distintos dos sentidos na Europa.

“Esta pandemia teve um impacto significativo. Grande. Enorme”. Foi com esta gradação que a responsável começou por explicar aquilo pelo que estão a passar.

Sandra Augusto salienta que a pandemia ajudou a perceber a complexidade da cadeia de abastecimento e o quão interligadas todas as cadeias estão. “Não é o tier 1, muita vezes, mas quando começamos a olhar para o tier 2 e o tier 3 percebemos o quão longas as cadeias são”, lembra a responsável.

Trabalhando mais directamente com os mercados brasileiro e argentino, Sandra Augusto fala de alguns problemas destes mercados, como, desde logo, a significativa desvalorização monetária do real e peso, moedas brasileira e argentina, respectivamente, o que aumentou em muito os custos relacionados com trocas internacionais. “É um tema específico de países com moeda fraca”, comenta.

Segundo sublinha, começaram por sentir impacto quando os fornecedores chineses não voltaram após as celebrações do ano novo chinês, e isso criou desde logo algumas preocupações. Na altura ainda não se sabia bem o impacto que esta pandemia viria a ter, e as questões eram imensas. “Quando é que eles irão voltar?”, “Como é que vamos reagir?” ou “Como é que vamos voltar a encher o pipeline?” foram algumas das perguntas que surgiram. E tiveram de procurar alternativas.

“Naquela altura o pipeline da Ásia, que é longo, esgotou. Permitiu-nos continuar a produzir enquanto tivemos condições locais para produzir.”

Logo após o problema com o mercado asiático, o europeu também foi afectado, quando a Europa começou a entrar em quarentena, os fornecedores começaram a fechar, como foi o caso da Itália, onde se localiza grande parte dos fornecedores da indústria automóvel. Uma semana depois, pararam no Brasil, tendo voltado ainda esta semana a produzir com a reabertura das suas duas últimas fábricas nesse país. Agora, a incerteza está no mercado mexicano, que também está a ser bastante afectado pela pandemia e onde tinham também uma fábrica.

Explica que neste momento a tendência é apostar na localização, procurar um fornecimento de proximidade, e que vai contra a tendência que tem sido mais comum, desde economias de escala, compras centralizadas ou locais onde a produção é mais barata. “Todos esses paradigmas neste momento têm de ser reavaliados e equacionados”, comenta Sandra Augusto, explicando que faz parte do trabalho que se encontram a desenvolver na empresa.

“Neste momento eu penso que o que ficou claro para todos nós é que a cadeia de abastecimento que nós temos não é flexível, é uma cadeia longa. Quando é preciso acelerar é difícil, quando é preciso travar também é muito difícil.”

Também defende a importância das ferramentas mais modernas de apoio à digitalização. “Precisamos de digitalizar todo o seguimento da nossa cadeia. Houve muitas horas de trabalho manual de analistas que tiveram de fazer a análise em Excel”, comenta, explicando que este trabalho manual se deveu ao facto de a ferramenta informática da empresa estar personalizada “para quando as coisas estão a fluir”, e que nestes casos é difícil de gerir.

Em termos de incremento de custo, Sandra Augusto destaca os transportes, pois passaram a ter de utilizar alguns meios aéreos, e tiveram também alguns custos acrescidos de inventários.