O sector da distribuição foi claramente posto à prova graças à grande procura que assombrou os super e hipermercados. No entanto, não foi por isso que não sofreram com o impacto dos custos das medidas adoptadas para dar resposta a este pico e proteger colaboradores e clientes.

Até ao momento, os grupos de distribuição ainda não quantificaram os custos que tiveram de assumir, mas só no mês de Março, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) admite um crescimento de 15% nas despesas “com colaboradores, nomeadamente salários/prémio, em material e alterações nas lojas, sobretudo protecções em acrílicos, álcool gel e marcas de segurança”, averigua o Expresso.

Para observar as alterações e perceber como se desenrolou o mês de Março na área da logística, o Expresso deslocou-se ao centro logístico da Sonae, no Porto, e ao da Auchan, em Lisboa.

No polo da Sonae MC, na Maia, passam mensagens sonoras contínuas recomendando medidas de higiene e segurança, folhetos, e nos ecrãs de televisão transmitem informações sobre a pandemia e as regras básicas de combate. Todos os colaboradores têm um kit composto por máscaras e viseiras e há ainda uma equipa de voluntários a fazer kits de três máscaras para entregar diariamente a todos os trabalhadores. Existem luvas, pausas frequentes para higienizar as mãos, medição de temperatura à entrada e hora de almoço, atenção no distanciamento entre todos e um levantamento de “redes de boleias” no trajecto casa-trabalho para a eventualidade de existir algum caso. Há ainda novos horários para evitar o cruzamento de colaboradores entre turnos e dar tempo para higienizar os espaços. Por sua vez, os motoristas deixaram de descarregar os camiões e todos os documentos relativos às cargas são entregues via digital para evitar contactos através do papel.

Durante três semanas consecutivas, a empresa esteve, em Março, a trabalhar acima do pico anual de procura que se regista no Natal “a procura triplicou nessas semanas, mas essa é a média geral. Há categorias de produtos em que as vendas multiplicaram por 10 em algumas lojas”, refere a fonte da empresa ao Expresso.

Analisar o cenário de outros países permitiu realizar um planeamento prévio deste pico evitando ruptura de stocks em geral. Apesar de se ter registado a falta de alguns produtos nas prateleiras e “fins de dia mais sofridos em algumas lojas”, houve também reposições e “nunca tivemos uma loja com falhas graves durante vários dias”, confessa a fonte da Sonae.

Ainda assim, foi necessário dar resposta ao aumento da procura no formato online onde o ritmo de entregas triplicou e as tentativas de pedidos de encomendas multiplicaram por 10 e os prazos foram dilatados até três semanas. A fonte refere que a capacidade de reposta está a ser reforçada, tendo introduzido o conceito de fila de espera e ainda a criação de cabazes pré-preparados, facilitando prazos de entrega mais curtos na procura padronizada.

Por sua vez, no centro logístico da Auchan, na Azambuja, a pandemia também obrigou os trabalhadores à utilização de máscaras ou viseiras. Ali trabalham 500 pessoas, por turnos, 24 sob 24 horas, tendo 50 em regime de teletrabalho.

Ana Leandro, Directora de Logística da Auchan Portugal, afirma que “diluímos os turnos, de forma a que as pessoas não se misturem. E colocámos pontos de gel e desinfectante, assim como um lavatório portátil para as mãos”.

À semelhança da Sonae, os motoristas também deixaram de entrar para descarregar a mercadoria e passou a existir um sistema de som electrónico para contactar com eles.

No refeitório o espaço duplicou para aumentar o distanciamento às refeições e nos postos de trabalho fixos foram colocadas divisórias em acrílico. “São coisas que vão ficar”, revela Ana Leandro referindo que a pandemia acelerou uma transformação de processos já expectável.

Durante o mês de Março “os produtos não chegavam a fazer stock, saíam logo. Recebíamos as encomendas e tínhamos logo de reagir, o que foi complicado. A logística está habituada a ter momentos de grande procura, como o Natal. Nós brincávamos e dizíamos que durante aquelas duas semanas fizemos vários Natais. Tivemos dias iguais ao 23 e 24 de Dezembro em termos de volumes. Não foi uma coisa com que nunca lidámos, não estávamos era à espera nesta altura”, acrescenta a Directora de Logística.

O reforço e esforço das equipas foi o um factor crucial para conseguir dar resposta, “entregámos todos os dias produtos nas lojas. Não houve nenhuma interrupção. Neste momento a situação está perfeitamente estável”, garante.