O Governo prevê que cerca de um milhão de portugueses poderá perder o seu emprego devido à travagem económica causada pelo Coronavírus.

Há algumas actividades que registam maior procura, como é o caso das entregas em casa, do retalho alimentar, que procura reforços, e o sector da agricultura que quer aproveitar a mão-de-obra que outras indústrias suspensas mandaram para casa.

Em França, onde o sector agrícola diz precisar de 200 mil trabalhadores, e na Alemanha, onde se procuram 300 mil, criaram-se plataformas online para os desempregados ou trabalhadores com contratos suspensos se inscreverem nas colheitas.

Em Portugal também poderá acontecer o mesmo, de forma a que o sector consiga continuar a dar resposta à grande procura que se tem verificado. Assim sendo, esta é uma ideia com potencial segundo Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

No entanto, terá de passar por um plano concertado com o Governo, como refere o líder da CAP “vamos abordar esta situação com o Governo já esta semana. Não vamos montar um esquema destes sem a concordância do Governo, porque estamos a falar de uma situação de saúde pública, mas temos uma mensagem que é: a agricultura não pára. E vemos algum potencial nessa ideia, mas precisamos de falar com três ministérios, o da Agricultura, o da Economia e o do Trabalho”.

Apesar de não ser capaz de quantificar as necessidades dos portugueses, Eduardo Oliveira e Sousa reforça a importância de encontrar soluções porque há colheitas à porta, e muitas explorações não sabem se podem importar trabalhadores de fora, graças às restrições de circulação.

A Randstad coloca muitos trabalhadores estrangeiros no sector agrícola em Portugal e é precisamente esta área que poderá ser encarada como uma oportunidade para muitos trabalhadores que percam o emprego, pois são actividades que procuram um “perfil menos técnico” e “trabalho braçal, menos qualificado”, refere Nuno Troni, Director da empresa.

Ainda assim, é nas exportações que a indústria agro-alimentar se tem ressentido. Já se registou uma quebra de 50% desde o início da crise pandémica, a que soma a quebra nas vendas para o canal horeca, que vale 40% do negócio actual mas que incluindo a área das bebidas representa 60%, refere Jorge Henriques, Presidente da FIPA, ao Dinheiro Vivo.

Março é um mês negativo no que às exportações diz respeito, com quebras em muitos mercados, incluindo Espanha, que vale 30% das vendas para o exterior. As remessas estão a ser dificultadas pelas adversidades no transporte de mercadorias, desde constrangimentos nos portos, a suspensão de cargas aéreas e dificuldades nas fronteiras, e na cadeia logística.

Contudo, não é só nas vendas ao estrangeiro que a indústria está a registar perdas. O encerramento de hotéis e restaurantes tem tido um grande impacto nas vendas, segundo Jorge Henriques.

Exportações à parte, o Presidente da FIPA assegura que a indústria está preparada para garantir o abastecimento regular sem rupturas “independentemente da corrida inusitada aos pontos de venda da semana passada, que obrigou a repor stocks, temos conseguido dar resposta a uma situação desta emergência”. As empresas têm-se aprovisionado de matéria-prima e reforçaram os stocks de produto acabado.