Foi na estação ferroviária do Rossio, na Sala do Rei, que decorreu a II Inovation Lab Talk – The Megacities Logistics Challenge, uma sessão onde se debateu e discutiu o Futuro da Logística.

A responsabilidade de lançar o tema a ser debatido durante aquela manhã coube a Ana Carvalho, professora do Instituto Superior Técnico, que começou por explicar a definição de “Megacidades”: cidades com mais de 10 milhões de habitantes, apontando que apesar de Portugal não se aproximar destas dimensões, enfrenta desafios muito semelhantes nos maiores centros urbanos.

Quais os desafios globais das grandes cidades? Ana Carvalho enumerou-os: necessidades elevadas de serviços básicos e infra-estruturas mínimas, alterações climáticas, mudanças nos padrões de produção e consumo que começarão a colidir devido à falta de recursos naturais, e o tempo de construção das infra-estruturas que poderá não acompanhar o crescimento populacional.

Com estes vêm os desafios logísticos que, numa Megacidade, podem vir a acentuar-se significativamente. Problemas como tráfego, sustentabilidade ambiental e social, mercado logístico competitivo e infra-estruturas com dimensões limitadas são alguns deles.

A boa notícia é que para tantos desafios, também foram demonstradas possíveis soluções, tais como alternativas de entrega quando o cliente não está fisicamente, entregas nocturnas, colaboração entre empresas e stakeholders, entrega através de meios ecológicos inovadores, utilização da IA para analisar, prever e optimizar fluxos de trânsito, distribuição e procura, centros de distribuição robotizados para agilização e flexibilidade de entrega, entre muitas outras.

Seguiu-se a primeira mesa redonda, com o tema “O Desafio Logístico à Entrada da Megacidade”, que reuniu um painel de sete profissionais e especialistas da área: João Russo, das Infraestruturas de Portugal, Miguel Rodrigues, da Siemens Mobility, Ana Leandro, da Auchan, Joaquim Cunha, do Health Cluster Portugal, Ana Rita Queiroz, do Hospital da Cruz Vermelha, Luís Pessanha, da Purever Industries, e Rui Nobre, da DPD Portugal.

A urgência de existirem melhores infra-estruturas que suportem as necessidades logísticas, evidenciou-se. Revelou-se também importante que os centros logísticos tenham acesso ferroviário de forma a aproximá-los das cidades, sem recorrer a veículos produtores de CO2.

A sustentabilidade foi, de facto, um dos tópicos mais discutidos que se alinha com as estratégias das empresas em reduzirem a pegada ecológica, como é o caso da Auchan, que enfrenta o desafio de abastecer as lojas nos centros urbanos a partir do centro logístico da Azambuja, o que se traduz em muitas viagens e, consequentemente, maior impacto ambiental. No entanto, há que potenciar alternativas como, por exemplo, hubs mais próximos das cidades, processo que não poder ser considerado “de forma individual”, segundo Ana Leandro.

Aliado ao desafio da sustentabilidade está o advento do comércio electrónico que se mostra antagónico ao objectivo de descongestionamento e descarbonização da cidade, uma vez que os consumidores querem as suas encomendas de forma rápida e imediata.

No caso da DPD, Rui Nobre refere que, de transporte expresso, existem 400 carrinhas que percorrem a cidade de Lisboa, o que tem de ser repensado sem aumentar os custos. Contudo, a estratégia da empresa tem vindo a reflectir-se nas várias apostas, como é o caso das lojas pick-up que contribuíram para a diminuição de veículos na cidade. Irão ainda apostar em pequenos depots em zonas estratégicas com 500 metros quadrados, para armazenar encomendas. Em relação aos transportes, este orador lembrou que em Paris já só realizam entregas com veículos eléctricos.

A área da saúde também teve o seu destaque no debate, até porque estamos perante um sector que vai passar por grandes mudanças, como é o caso da personalização dos tratamentos, nomeadamente ao domicílio e “para isso é necessário que a logística funcione bem”, afirma Joaquim Cunha.

Por sua vez, Ana Rita Queiroz explica que o grande desafio da logística é realmente melhorar a qualidade do serviço na área da saúde, que passa pela capacidade de resposta de um hospital perante um paciente cuja doença requeira cuidados imediatos, como é o caso de doenças oncológicas. Apontou ainda o facto de não haver entregas nocturnas de produtos farmacêuticos aos hospitais, que funcionam 24 horas por dia.

A segunda mesa redonda abordou “O Desafio Logístico na Megacidade” e contou com a participação de Manuel Pizarro, da APP Advanced Products, Pedro Machado, da Câmara Municipal de Lisboa, Pedro Pinto da Cooltra Motos, Pedro Antunes, da Delivery Express, Filipe Themudo, da Dott, e Carla Pereira, da ACEPI, para discutirem temas como o desenvolvimento de sistemas de transporte interligados, de forma a fornecer flexibilidade e eficiência à população.

O e-commerce voltou a ser protagonista, em conjunto com a tecnologia e o poder dos dados. Os consumidores portugueses têm receio em relação aos dados, à segurança ou pagamentos online. Existe alguma desconfiança que também passa pelos comerciantes não conhecerem os métodos de vender online e, consequentemente, não se mostrarem nas plataformas digitais.

Mas os consumidores, por seu turno, também devem ser ‘educados’, quer através de regulamentação ou apenas consciencialização, sobre as suas encomendas online. Devem considerar ‘é mesmo urgente ter a minha encomenda hoje? Poderei esperar alguns dias?’, porque este tipo de questões contribui para uma menor pegada ecológica em relação à distribuição.

Foi ainda discutida a coexistência entre os humanos e os robots, os prós e contras. Carla Pereira refere que “atrás dos robots estão sempre as pessoas”. A ascensão da robotização não deverá ofuscar a figura humana, pois os benefícios só se mostram através desta colaboração.