O evento nacional da APCADEC, que decorreu a semana passada em Lisboa, focou-se durante um dia na “Next Generation Procurement: tendências e impactos”, um dia que trouxe a palco speakers nacionais e internacionais do sector do Procurement, com uma vasta experiência na área.

A sessão de abertura coube ao presidente da APCADEC, Carlos Lourenço, que começou por destacar a importância que esta área tem dentro das empresas, especialmente no que diz respeito a criação de valor para as organizações.

Miguel Frasquilho, da TAP, a abrir a sessão, destacou desde logo a relação de proximidade que deve existir com os fornecedores, ideia que foi bastante defendida ao longo de todo o dia nas diversas intervenções, e que esta se tem vindo a acentuar nos últimos anos. Explica que gostam de trabalhar com fornecedores portugueses e que estes representam uma grande parte da sua cadeia de abastecimento, procurando promover também as marcas portuguesas ao terem a bordo produtos nacionais para os 16 milhões de passageiros que tem anualmente. Segundo Miguel Frasquilho, “o procurement é uma das mais importantes formas de criação de valor”, e conta que este tem aportado imenso valor para a TAP.

Mantendo esta ideia de criação de valor, Frank Rozemeijer, da Universidade de Maastricht, defende que esse é precisamente o tema principal desta área, e que num mundo cheio de volatilidades, incertezas, complexidades e ambiguidades é necessário arriscar e saber combater os problemas que se impõem nos dias de hoje. “Há muito a acontecer ao mesmo tempo”, complementando também a ideia que defendera anteriormente de que “a melhor forma de prever o futuro é estudando o passado”.

É da opinião que se deve promover esta área junto dos profissionais, ideia que também seria defendida pela audiência e que as universidades representadas no painel da tarde (Nova SBE, Católica, Porto Business School e INDEG-ISCTE) revelaram que tentam fazer, procurando inclusive uma oferta educativa nesta área, mas que o professor José Crespo de Carvalho considerou não se adequar ao caso português, por não existir mercado que o justifique: “andámos 10 anos a debater-nos, mas não havia procura suficiente”.

O orador defende especialmente que esta área tem de envolver grande criatividade, e “não é relativo à criatividade de uma pessoa, mas à criatividade das equipas”, mostrar coragem, seja para enfrentar os negócios ou mesmo para encarar os nossos erros, e manter as equipas conectadas, tanto com os stakeholders como entre si mesmas.

No painel “Desafios da Operação Local actuando no Mercado Mundial” encontravam-se representadas a Siemens, a TAP, a Sogrape e a REN, que entre outras problemáticas, apresentaram a dificuldade de pagamento aos seus fornecedores atempadamente, embora tenham referido que sabiam o quão importante esse factor era, e que este simples acto poderia definir o futuro dos negócios.

“Como os nossos fornecedores são nossos parceiros, temos de os tratar como tal, pagando a tempo e horas” – João Botelho, REN.

Alexandra Reis, da TAP, explica que por vezes têm uma grande responsabilidade em mãos quando ponderam terminar um contrato, pois os pequenos produtores podem depender dele para não abrir falência, e como tal têm essa atenção para com os parceiros de se assegurarem primeiramente de que estes não têm uma necessidade exclusiva.

Marcell Vollmer, Chief Digital Officer da SAP Ariba, foi outra intervenção internacional, falando sobre o “Impacto da Inteligência Artificial no Procurement”, um tema que segundo se prevê, irá criar 58 milhões de postos de trabalho nos próximos dois a três anos. Explica que noutros países já se encontram a ser testadas várias utilizações para esta tecnologia, até mesmo adaptada à vida das pessoas no quotidiano.

“A Inteligência Artificial é a tecnologia mais transformadora dos dias de hoje”, Marcell Vollmer.

Considera que devido à velocidade com que a tecnologia está a avançar, nos próximos anos iremos falar mais com chatbots do que com pessoas, e que os processos que hoje têm mais de três anos já começam a ficar ultrapassados, pelo que é necessária uma actualização constante.

Ainda no tema da Inteligência Artificial, seguiu-se uma mesa redonda que incluiu o orador anterior, acompanhado por Nelson Magalhães (Vortal), Luís Sobral (Mercado Eletrônico) e Alexandra Azevedo (Quay), com a moderação de José Roque (Ey).

Nelson Magalhães defende que a IA é importante para tomar decisões mais rapidamente e descobrir o que o utilizador quer.

Luís Sobral deu o exemplo de uma solução de IA que tenta perceber se um determinado produto é necessário, assumindo o poder de aprovação, mas Alexandra Azevedo comenta que, no caso de strategic procurement, ainda é necessário evoluir, pelo que para já é ainda indispensável que exista uma inteligência real, por existirem demasiadas variantes possíveis.

O representante do Mercado Eletrônico defende que a chave é digitalizar os processos e ter os nossos próprios dados, mas que o processo passa muito pela criatividade, algo que a IA ainda não tem.

Neste dia foram ainda entregues os prémios APCADEC 2019 by EIPM, tendo vencido a EFACEC e tido como finalistas a Bondalti e a ANA Aeroportos, sendo que também a EIPM teve lugar de antena e apresentou as competências que serão necessárias para o sucesso da profissão no futuro.

Bernard Gracia foi o interveniente que representou a EIPM, e destacou que nos tempos que se aproximam, os maiores desafios passarão pela velocidade/agilidade, digitalização, personalização, Big Data, IoT, Inteligência Artificial, inovação, start-ups, responsabilidade corporativa social, globalização, limitação do número de fornecedores e pelo Just In Time.

“O valor é criado pela empresa, fornecedores e clientes, em conjunto”, Bernard Gracia.

O “Next Generation Procurement: tendências e impactos” foi um evento que abordou muito o futuro que se aproxima, a digitalização, Inteligência Artificial, mas acima de tudo, a proximidade com o fornecedor, tema que se está a tornar cada vez mais importante para as empresas e que, na generalidade, todos os intervenientes referiram.