Ocorreu no passado dia 22 de Maio a terceira edição do Pharma Supply Chain, um evento da Supply Chain Magazine que este ano ocorreu na Nova School of Business and Economics (Nova SBE). Foi sob o tema “Tendências e Transformações para Criar Valor”, que Carcavelos recebeu a conferência dedicada ao sector farmacêutico e healthcare, onde cerca de 140 profissionais se reuniram para assistir a apresentações e painéis, fazer networking e partilhar experiências.

Em debate este ano estiveram importantes temas como a digitalização, criação de valor, tendências e transformações do sector, características e impacto da distribuição farmacêutica, procurement, importância da logística, desafios, impacto da tecnologia e, um tema bastante actual, a directiva sobre medicamentos falsificados, que entrou em vigor há cerca de 3 meses, e cujos impactos já são agora visíveis na cadeia.

Após a abertura, coube a primeira intervenção a Francisco Rocha, Service Delivery Senior Manager na Capgemini Portugal. “Moving to the digital era” foi o mote que lançou este momento de contextualização, onde foram apresentados, em especial, os desafios e as tendências do sector das tecnologias, pois segundo conta, este irá tomar uma posição cada vez maior, e isso já é visível nos dias de hoje.

Francisco Rocha explica que a tecnologia traz consigo novos modelos de negócio e de produtos, mas também traz informação desinformada. Segundo explica, a Internet tem trazido muitas fake news, e a velocidade de informação que se vive nos dias de hoje é impressionante, mas revela que aos poucos esta se vai tornando cada vez mais confiável, pois apenas precisamos de fazer uma pequena pesquisa para verificar se a informação é correcta através de outras fontes. Defende que se deve continuar a combater as notícias falsas, pois as marcas dependem muito da confiança dos seus clientes.

“Quando surgiu a televisão não nos passava pela cabeça que alguém lá pudesse estar a contar uma mentira”, Francisco Rocha, Capgemini Portugal

“Há clientes que não compram caso não gostem das marcas”, revela, e explica que por isso é necessário haver um maior foco no cliente final e uma transparência que lhe traga essa confiança necessária, bem como aos parceiros de negócio. Segundo o consultor da Capgemini, hoje não se vêem muitas marcas que vão de uma ponta à outra da cadeia de abastecimento, pois agora existe uma grande aposta em colaborações, e é importante apostar nesse modelo e na inovação como factores de diferenciação para criar competitividade.

Após esta introdução, a Francisco Rocha juntaram-se Paulo Barradas Rebelo, CEO da Bluepharma e Paulo Lilaia, CEO e Administrador Executivo da Generis Farmacêutica e deu-se início ao primeiro momento de debate, moderado por Marina Caldas, Directora Geral da FDC Consulting. Tendo por base o tema da conferência, este momento debruçou-se sobre os tópicos anteriormente apontados pelo orador.

“Temos de viver em constante actualização”, defende Paulo Lilaia, justificando que os tempos estão cada vez mais rápidos, a tecnologia avança e com ela os clientes tornam-se mais exigentes, pelo que é importante fazer chegar o produto o mais depressa possível ao seu destino, conseguindo ao mesmo tempo manter a qualidade do serviço.

Paulo Barradas Rebelo diz mesmo que esta mudança está tão acelerada que é difícil acompanhar, mas que as empresas que não se conseguirem adaptar irão ter dificuldades, e no futuro, os clientes irão ter um maior sentido de conveniência. Paulo Lilaia comenta esta ideia dizendo que devemos evitar cair na “super-exigência”, caso contrário não será possível manter o nível de serviço e a qualidade exigida.

O CEO da Bluepharma suporta a ideia defendida anteriormente por Francisco Rocha relativamente à confiança do cliente na marca, mas vai mais longe: no próprio produto. Defende a importância da transparência na supply chain, e o responsável da Capgemini acrescenta o valor que a blockchain tem tido neste sentido.

Francisco Rocha conta que vivemos numa era em que temos interesse de informações, mas que partilhamos apenas o que achamos que não nos possa trazer problemas. Comenta que as plataformas colaborativas são formas de combater essa dificuldade de partilha de informação, ideia suportada por Paulo Lilaia, mas que considera que as empresas vivem de interesses particulares, e o ideal para estas seria poderem esconder os seus dados e manter o acesso aos das outras.

“Trabalhar em cooperação traz vantagens para todas as partes envolvidas”, Paulo Lilaia, Generis Farmacêutica

De seguida, o Presidente da Associação dos Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA), Diogo Gouveia, revela que nos encontramos abaixo da média europeia relativamente ao que investimos na saúde, e que “em média pagamos primeiro à indústria e depois à farmácia”. Explica que este mercado se encontra em crescimento devido ao envelhecimento da população e que a entrega às farmácias de medicamentos que não se encontram em stock é feita em média em 2,8 horas.

João Mateus, Supply Chain Manager da L’Oréal, teve uma intervenção direccionada para a dermocosmética, farmácia e parafarmácia relativamente à health and beauty. Os desafios e oportunidades da empresa passam por simplificar a vida dos clientes, facturação electrónica e pela logística inversa, que já se encontra optimizada. Neste mercado em que existe uma crescente preocupação com a naturalidade e sustentabilidade, a L’Oréal tem tido preocupações ao nível dos consumíveis e reciclagem, novas propostas de produtos e de packaging, com matérias-primas orgânicas, optimização do material expositor no ponto de venda e mesmo a valorização do produto obsoleto, pois quando existe material que não poderá ser reutilizado, este é doado a instituições. Ao nível do e-commerce, João Mateus explica que contam com um packaging ajustado ao B2C, disponibilização das informações de produto e que apostam na rapidez de entrega.

De seguida, Júlio Pedro, Member of the Board do IPO, fala sobre a “Modernização da Função Compras através da Blockchain”, e explica que esta tecnologia pode trazer várias vantagens ao nível de acelerar o processo de compra e garantir uma maior segurança e rastreabilidade da informação.

Por parte da APP – Advanced Products Portugal, Manuel Pizarro, Partner & General Manager da empresa, apresenta casos mais práticos da utilização de algumas tecnologias no sector farmacêutico. Entre entregas por drones, SmartCae, PillPack, Subsistema – Direct to Patient e Sensores de monitorização – Point to Point, foram abordados temas como a farmácia em casa e entregas de produtos fármacos, Inteligência Artificial, monitorização e controlo de temperatura, recargas automáticas e suporte farmacêutico, bases de dados, entre outros.

Maria José Governo, Strategic Business Developer da Inovflow, seguiu-se no painel, apresentando as vantagens do uso do sistema Eyepeak, e Rosa Maria Magalhães, CEO da Decopharma, cliente da Inovflow, apresenta os resultados dessa aplicação e destaca a importância da utilização dos sistemas de informação.

A IQVIA seguiu-se no painel, na voz de Filomena Ribeiro dos Santos, que tocou num ponto importante da cadeia: os medicamentos órfãos. Explica que embora sejam pouco utilizados, a produção destes medicamentos continua a ser importante para os pacientes, tendo como principal desvantagem a dificuldade de continuar os seus estudos, pois a sua rentabilidade não é tão alta que compense esses custos associados. Sugere que exista um local de distribuição específico para este tipo de produtos para que os seus custos de transporte não sejam demasiado altos.

Filomena falou ainda sobre o e-commerce e a entrega de medicamentos, telemedicina, Smart Drug Delivery e Connected Point-of-Care diagnosis, abordando também a importância dos dados e do seu tratamento em toda a cadeia, ou como a tecnologia pode ajudar a farmácia a interagir com os pacientes.

A QuanTTAG apresentou, através de Leandro Vieira, director da empresa, uma tecnologia que desenvolveu, direccionada para os fabricantes e produtores de grande e médio porte, de modo a trazer-lhes soluções logísticas e de controle de produção, stock e distribuição, passando por tópicos importantes como a contrafacção de medicamentos, que tem atingido níveis bastante altos

Perto do fim, o Presidente do Conselho de Administração da Plural, Miguel Silvestre, apresentou os “Desafios de um distribuidor farmacêutico de serviço completo”, sendo a interface entre a indústria farmacêutica e os pré-grossistas, abrangendo farmácias, hospitais unidades de saúde familiares e clínicas. Explicou ainda como são feitas a distribuição e a disponibilização rápidas das encomendas, bem como a logística inversa, e o apoio dado aos clientes, que vai para além das actividades da farmácia.

“Os distribuidores farmacêuticos de serviço completo são invisíveis, mas imprescindíveis ao bom funcionamento do mercado farmacêutico”, Miguel Silvestre, Plural.

Por fim, o dia terminou com uma mesa redonda com Carla Garcez, da Teva Pharmaceuticals, Carla Ana Santos, da Farmavenix, Ana Teresa Freitas, da Ciclum Farma, e João Esteves, da APIEM. Moderada por Silvério Paixão, consultor e representante da AXICON, foi sob o tema “Serialização da Directiva sobre Medicamentos Falsificados – Que impacto na cadeia de valor?” que os responsáveis se debruçaram neste final de dia.

Uma grande questão de debate foi o quinto elemento da Infarmed, o número de registo nacional, e Carla Garcez considera que essa foi a maior dificuldade da directiva. Revela que a implementação não foi em pleno e que ainda existe muito caminho a percorrer neste sentido. Comenta ainda que para haver uma maior rastreabilidade é necessária uma cooperação entre as empresas.

“Daqui a um ano, se nos voltarmos a encontrar, já teremos algo relativo às farmácias. Os hospitais irão demorar mais algum tempo”, Carla Garcez, Teva Pharmaceuticals.

João Esteves comenta que é necessário arranjar uma solução tecnológica para fazer face às obrigações da nova directiva, e tal como Carla sentiu a mesma dificuldade de implementação, mas que ficou concluído, apesar das dificuldades. Defende que hoje é igualmente seguro ir a uma farmácia ou hospital e que a directiva nada significa, pois continua a haver controlo sobre os produtos. A nível mais genérico, considera que a maior dificuldade passará agora por implementar esta directiva nos próximos cinco anos, explica.

Ana Teresa Freitas sente-se mais pronta passados estes primeiros meses, e conta que houve uma necessidade de preparação a vários níveis, chegando a envolver farmácias e hospitais. Comenta que não houve um impacto directo nos utentes através da directiva e que não nos podemos esquecer que o propósito da mesma é detectar medicamentos falsificados no circuito.

Por fim, Carla Ana Santos explica que a adaptação para a nova tecnologia passou por adquirir novos scanners para a casa-mãe, em Espanha, e que foi fácil, e revela que os próximos desafios passarão pela aplicação da serialização nos dispositivos médicos e continuar a apostar na rastreabilidade.

Reveja alguns momentos percorrendo a galeria do Pharma Supply Chain.