O sector da logística tem registado nos últimos anos uma transformação radical nos seus factores-críticos de sucesso e processos de negócio. Com efeito, o paradigma simplista de “transportar & armazenar” evoluiu rapidamente para modelos mais sofisticados e complexos de supply chain management, em que o foco passa a ser toda a cadeia de valor – englobando ciclos de produção e comercialização. Hoje, mais do que nunca, faz sentido a velha frase de Carl von Clawsewitz, estratega prussiano da arte militar no século XIX, que dizia, com pertinência, “amadores falam sobre estratégia, profissionais falam sobre logística”. Nesta era de acelerada mudança, quatro grandes tendências podem ser identificadas para os próximos anos.

Em primeiro lugar, numa óptica macro, o crescimento e diversificação do comércio internacional. Apesar das tensões originadas pelas guerras comerciais e pelas tentações proteccionistas, são expectáveis crescentes investimentos em rotas comerciais emergentes – de que é exemplo mais emblemático a Iniciativa Cintura e Estrada, da China para a Europa. Tal originará um conjunto de novos acordos comerciais (incrementando escala e rentabilidade e reduzindo os custos), com base em novas rotas e um grande esforço de modernização de infra-estruturas(ferrovias, rodovias, portos, terminais intermodais), já visível em muitas geografias. Maior acessibilidade a novos produtos, tempos de trânsito e entrega mais curtos e aumento da competição e das possibilidades de escolha serão os impactos mais visíveis.

Em segundo lugar, a crescente digitalização do sector, com as tecnologias emergentes. Desde a Internet of Things (IoT), que conectará equipamentos, veículos e sistemas de controlo, passando pela Artificial Intelligence (AI) e Machine Learning, que desenvolverão algoritmos que autonomizarão fluxos sem intervenção humana, aproveitando o conhecimento de Data Analytics e a eficiência flexível e descentralizada de Blockchain/ Distributed Ledger Technology, muitas serão, de facto, as inovações que, numa cadência acelerada, provocam a disrupção e maior fluidez dos projectos logísticos.

Depois, em terceiro, a crescente mudança nos mercados e preferências dos clientes, quer falemos de B2B ou de B2C. Efectivamente, estas tendências estão a ser moldadas por vectores como a cada vez maior prevalência do comércio electrónico e a emergência da economia da partilha. De facto, eficiências de rede com base na cooperação, redução de custos e partilha de recursos entre plataformas online, produtores e transportes/distribuição serão cenários habituais num futuro cada vez mais presente.

O crescente investimento das empresas de e-commerce em logística própria (ex. Amazon), optimizando cadeias de valor, será uma variável que irá também a moldar o sector. Para todos os players, conseguir materializar valores como transparência, conveniência, acessibilidade e rapidez de entrega será mandatório para uma percepção positiva nos consumidores.

Em quarto lugar, a alavancagem provocada pelos equipamentos inteligentes e sustentáveis, com avanços na robótica, nos veículos autónomos (ver, por exemplo, experiências da Volvo Trucks) e na mobilidade eléctrica. Podemos esperar, neste ponto, um incremento na eficiência das entregas e armazenagem e consequentes impactos no cliente final. Numa perspectiva mais de longo prazo, as tecnologias de impressão 3D deverão assumir-se como disruptivas, quer nos segmentos industriais, quer domésticos, eliminando as várias fases de transporte.

Ora numa área em que “tecnicidade” e o processo têm a devida primazia, importa não esquecer a componente humana. Até porque será esta, no final do dia, a marcar a diferença. A complexidade das variáveis logísticas vem exigir equipas com competências reforçadas de análise, gestão, inovação e…liderança. Quer na gestão de topo, (com a devida formulação estratégica, que deverá ter em conta as macro-tendências atrás elencadas), quer nas equipas de gestão intermédias e de base (com os processos de planeamento e organização das operações, no terreno), serão pertinentes competências que impactem níveis de expertise, autonomia e motivação dos profissionais. Não trago aqui uma reflexão exaustiva, mas realço 5 tópicos que, a meu ver, reforçarão a gestão no sector logístico e tornarão a liderança das respectivas organizações mais eficiente e eficaz.

1) Competências de análise prospectiva e de cenários – investir tempo em clarificar os cenários que se perspectivam no negócio e que contêm, em si, a razão e o propósito da mudança; tal permite envolver todos numa auto-consciência colectiva, que estimulará a sua adesão e compromisso (não esquecer: as pessoas não têm aversão à mudança, apenas não gostam de ser mudadas… especialmente, se não percebem porquê);

2) Competências de gestão estratégica e ligação com execução – clarificar a estratégia definida e, em cascata, como as várias tarefas/iniciativas das equipas contribuirão para o resultado global; um modelo cada vez mais integrado de gestão da performance, em tempo real, será essencial;

3) Competências de desenvolvimento… para gerar os líderes do futuro – um líder verdadeiro não cria seguidores, cria futuros líderes; se conseguir criar boas competências de liderança e gestão em vários patamares organizacionais, estará a assegurar maior polivalência e autonomia; há que investir tempo para desenvolver competências, através de feedback e coaching constantes;

4) Networking interno e…externo – um líder não vive isolado; no ecossistema logístico, importará estabelecer pontes com pessoas-chave, de modo a ter processos de trabalho e decisão mais céleres e maiores níveis de cooperação como defende e bem John Maxwell, uma liderança eficaz deve ter um âmbito 360º – com capacidade de incrementar a eficiência de uma rede cada vez mais disseminada e complexa;

5) Cultura de inovação estruturada – o desafio será como atingir um destino, inovando nos caminhos a percorrer; há que trabalhar processos estruturados para passar da criatividade à inovação prática, consolidando o mix de tecnologias ao dispor da logística.

Enfim, dimensões em líderes podem deixar a sua marca… e marcar a diferença!

Carlos Sezões | Partner | Stanton Chase Portugal