O vento não se pode parar com as mãos, mas pode-se tirar partido dele através da evolução tecnológica. Desde sempre o soubemos, que o digam os antigos velejadores que cruzavam as águas contra as correntes.
Da mesma forma a evolução do Procurement e de todos os temas a si associados está e vai, ainda mais no futuro, beneficiar com a evolução tecnológica.

A digitalização é imparável, seja ao nível da nossa experiência como consumidores de serviços, seja ao nível das empresas com a sua necessidade por inovar e ser eficiente, assim como também da própria administração pública com a modernização crescente das sociedades.

O processo evolui como um todo, naturalmente com algumas entidades a tomar a dianteira nalgumas iniciativas e, com os resultados obtidos, a conseguir criar a motivação para se ir mais além e a que outros também façam o seu próprio caminho. No final do dia se os clientes dos nossos próprios clientes mudam e evoluem nas suas necessidades então é evidente que para sobrevivermos como organizações modernas nós próprios também teremos de nos adaptar constantemente a esta dinâmica.

Quem obtém vantagens competitivas e melhor floresce são as empresas que tomam a iniciativa e que investem, arriscando ponderadamente em determinadas ações de transformação do seu próprio modelo operativo, algo que é particularmente pertinente para aquelas que advêm de indústrias do séc. XX e não nasceram por conseguinte já neste novo mundo com o paradigma da desmaterialização digital.

Não é aqui exceção o sector da Logística e de forma abrangente toda a temática do Supply-Chain, nem tão pouco qualquer área de Procurement de uma empresa que lute pela sua competitividade no imediato e pela sua sustentabilidade a prazo.

No Supply-Chain é já completamente evidente a transformação do sector com as novas tecnologias e a entrada de múltiplos intervenientes na cadeia de valor, que foi enormemente desfragmentada para muitos mercados com acesso direto ao cliente final. Hoje é prática já normal fazer-se “online” uma pesquisa, encomenda e respetivo pagamento, com oferta de múltiplas opções de escolha quase instantânea, com capacidade de facultar track&trace ao longo da cadeia com uma fiabilidade em tempo real anteriormente inimaginável.

No segmento empresarial existe enorme valor em utilizar a tecnologia para finalidades com valor acrescentado que vão além do controlo e eficiência operacional, da garantia da qualidade, pois também é fundamental a transformação dos modelos operacionais e de negócio, tornando a empresa mais ágil e atrativa em linha com a tendência da Indústria 4.0, focada na satisfação dos clientes e na melhoria do seu cash-flow operacional.

O que neste âmbito há uns anos atrás seria uma tarefa hercúlea implementar numa empresa, hoje com a digitalização dos processos e com o IoT no ambiente industrial abrem-se imensas possibilidades que podem ser executadas de forma automática, garantindo-se a monitorização do conjunto de indicadores de desempenho considerados relevantes sem grande dificuldade.

E o próximo passo está já aí à porta, ou seja, a automatização ou robotização de um conjunto de processos que prometem potenciar não só a eficiência mas também o surgimento de um novo nível de serviços em tempo real e com acrescida conveniência.

No Procurement também aparecerá uma “Alexa” a automatizar pedidos de proposta de “commodities”, a executar decisões e adjudicações, a fazer a monitorização tipo “blockchain” da logística e até a assegurar a respetiva gestão contratual. E ainda se calhar a fazer a pré-qualificação das empresas proponentes, não apenas através do seu scoring como fornecedores habituais mas também através dos seus relatórios financeiros, análise de risco, da sua reputação nos “social-media”, etc.

Neste cenário os profissionais de Procurement terão de se posicionar numa cadeia de conhecimento superior, assegurando um conjunto de temas com muito maior valor acrescentado e mais estratégico. A arte de negociação, tal como a ancestral da guerra, requer sabedoria e tem requisitos e estratégias que um profissional experiente pode alavancar de forma a assim capturar valor superior, presente e futuro. No final muitos negócios também se fazem entre e com pessoas, que são exigentes e responsáveis, que se conhecem e garantem a integridade de aspetos importantes como confiança e valores como ética e reputação.

Ventos de mudança se aproximam, fortes e imparáveis, mas controláveis por quem os souber interpretar e aproveitar, sendo por isso capazes de trazer valor acrescentado aos indivíduos, às organizações e finalmente às próprias sociedades. Somos também atores dessa mudança.


Carlos Lourenço | Presidente da APCADEC