A Medway prepara-se para uma nova etapa, três anos depois da compra da antiga CP Carga, segundo avançou o “Dinheiro Vivo”.

A empresa de transporte ferroviário de mercadorias do grupo MSC, Medway, está a fechar um novo plano de investimento para o próximo ano.  A construção de um novo terminal seco, em Famalicão, e o regresso do “comboio Autoeuropa”, entre Portugal e Alemanha, serão algumas das apostas da Medway para 2019.

Em entrevista ao “Dinheiro Vivo”, o presidente, Carlos Vasconcelos, fala ainda sobre as limitações da rede ferroviária nacional e do aumento da procura no transporte de contentores na sequência da greve dos estivadores em Lisboa e Setúbal.

“Vamos ter um novo terminal seco no Norte, que implica um investimento de 25 milhões de euros. Este terminal será em Famalicão por causa do potencial que existe nesta zona e a necessidade que o mercado coloca, na questão operacional, para corresponder melhor à procura. Quanto mais perto estivermos da procura mais fácil será o trabalho para os clientes”, anuncia o presidente do conselho de administração da Medway. As obras deverão “arrancar no início de 2019”, após a aprovação da câmara e da IP – Infra-estruturas de Portugal. O novo terminal ficará em Lousado e deverá servir empresas como a Continental/Mabor e a Leica. O espaço também ficará próximo da área industrial de Ribeirão, onde está a fábrica da Salsa. O novo terminal será uma alternativa ao transporte rodoviário na cidade.

O regresso do “comboio Autoeuropa” será outra das grandes apostas da Medway para o próximo ano. “Constitui um objectivo para 2019 relançar o comboio da Autoeuropa, com ligação ao centro da Alemanha, que permite à fábrica receber as suas peças e outros fornecedores receberem outras peças. Estamos em contactos com potenciais clientes e parceiros para montar este negócio, tendo em conta que existe procura para este serviço.” Com esta ligação à Alemanha, a fábrica de Palmela consegue enviar e receber peças “com menores emissões poluentes e maior economia”. Esta será a segunda oportunidade para a ligação ferroviária de mercadorias entre Portugal e Alemanha. Em 2012, um acordo entre as empresas de comboios de Portugal, Espanha e Alemanha permitiu esta ligação. Só que o projecto durou pouco mais de um ano “porque França boicotou o projecto, ao criar dificuldades na circulação deste comboio”. Seis anos depois, os obstáculos deverão ser superados, porque existe um centro europeu de coordenação de tráfego ferroviário, “que torna mais difíceis quaisquer limitações impostas pelas redes nacionais”, acrescentou Carlos Vasconcelos ao Dinheiro Vivo.

A greve dos estivadores em Lisboa e Setúbal tem ajudado a Medway a conquistar novos clientes, com os armadores a reforçarem os contentores transportados em cada comboio. A principal limitação é o estado da ferrovia em Portugal. “Temos uma linha férrea degradada, que não corresponde às necessidades do mercado. Com outra via, faríamos muito mais comboios, a custos muito mais baixos para os clientes”, esclareceu Carlos Vasconcelos. O plano Ferrovia 2020, avaliado em mais de dois mil milhões de euros, aposta sobretudo nos corredores sul e norte e pretende melhorar a ligação a Espanha dos comboios de mercadorias. “Dadas as limitações do país e do financiamento europeu, o que está planeado é aquilo que nós gostaríamos de ter”. O líder da Medway recorda que “o país abandonou a linha férrea há mais de 40 anos. É evidente que em três anos não se pode recuperar 50 anos de investimento que deveria ter sido feito”.

A Medway opera 15 comboios por dia em Portugal, onde conta com uma quota de mercado de 90% – os restantes 10% pertencem à Takargo, do grupo Mota-Engil. Mas a empresa do grupo MSC tem crescido ao longo deste ano no estrangeiro, graças ao arranque dos serviços de transporte de contentores em Espanha. “Temos um comboio diário entre o porto de Valência e Madrid, onde usamos meios próprios, e ainda um serviço entre Sevilha e Sines, com quatro ligações por semana”, realizadas em parceria com a Renfe Mercancías, unidade de mercadorias da empresa espanhola de comboios. Só com esta aposta, a Medway conta com uma quota de mercado de 25% na Península Ibérica. E não ficará por aqui. “Estamos a trabalhar em alguns projectos, com parceiros locais, para podermos aumentar o número de serviços.”