No setor logístico, onde a volatilidade é a única constante e a pressão por eficiência é diária, o networking deixou de ser um gesto social para se afirmar como uma ferramenta crítica de competitividade, especialmente no procurement. Quem compra bem, compra com informação, com relações e com timing. E nada disso se constrói sozinho.

Durante anos, o procurement foi visto como uma função centrada no preço. Hoje, esse modelo já não chega. As empresas procuram parceiros capazes de garantir disponibilidade, flexibilidade, transparência e alinhamento com a estratégia do negócio. O networking é o que permite identificar, nutrir e testar essas relações muito antes de existir uma necessidade formal ou um contrato em cima da mesa.

Um Cargo Manager com uma rede ativa e diversificada desde companhias aéreas e marítimas a transitários e operadores logísticos não só recebe informação antecipada sobre capacidade, prioridades e tarifas, como acede a soluções alternativas em momentos críticos, como picos sazonais, restrições de capacidade ou disrupções como as que têm marcado os últimos anos (Mar Vermelho, congestão portuária, fenómenos climáticos, greves…).

O networking funciona também como uma poderosa fonte de inteligência operacional e estratégica. Muitas vezes, uma conversa num evento, num fórum ou numa reunião técnica revela tendências, pressões regulatórias ou mudanças de mercado que ainda não chegaram aos canais oficiais. Essa vantagem informacional pode ser determinante na revisão de estratégias, na preparação de cenários ou na negociação de contratos.

Dou-vos um exemplo. Em 2023, num evento da SCM, foi-me apresentada uma colega da área, de uma empresa dedicada a um segmento rodoviário internacional. Em conversa durante o coffee break apresentei-lhe um problema que estava a ter com um transporte de 4 camiões dedicados para o aeroporto internacional de Bruxelas, que transportaram carga para um charter muito urgente para a Nigéria. Horários de recolha complicados, tempos de trânsito limitados e horários nada flexíveis de chegada estavam a comprometer a eficiência do negócio, apesar de todo o projeto ter sido efetuado com o maior profissionalismo e com a maior transparência. Na altura um problema que não teria uma solução imediata foi resolvido em apenas algumas horas com um café na mão. De salientar que ainda hoje trabalhamos em parceria e assim iremos continuar.

Há algo que o setor conhece melhor do que ninguém: em logística, tempo é dinheiro. E confiança é ouro. Relações sólidas aceleram decisões, reduzem fricção, aumentam a transparência e promovem uma resolução de conflitos mais colaborativa. A verdadeira resiliência constrói-se antes da crise, não durante esta.

As empresas que investem seriamente em networking corporativo estão melhor posicionadas para antecipar riscos e oportunidades, negociar com mais visão e construir cadeias de abastecimento mais robustas, ágeis e preparadas para a incerteza.

No final, networking já não é apenas criar contactos. É criar contexto, informação e vantagem. Na logística, onde cada minuto conta, quem cultiva boas relações não reage ao mercado: antecipa-o. E é aí que começa o verdadeiro poder do procurement moderno.

Bernardo Guinea, Air Freight Manager | Codognotto