A MOVIT nasceu esta semana, mas o caminho que a trouxe até aqui começou muito antes. Numa fase em que o mercado logístico atravessa um ciclo de forte pressão e consolidação, a antiga Portir Transitários conseguiu crescer em sentido contrário, expandindo operações, reforçando talento e preparando a entrada num novo patamar competitivo. À boleia do rebranding, conversámos com Nuno Fonseca, Managing Partner da MOVIT, para perceber o que explica este salto e como é que a empresa se está a preparar para o futuro.

Num período em que o mercado logístico europeu enfrenta um ambiente mais desafiante, com margens sob pressão, instabilidade geopolítica e novas exigências regulatórias, a trajetória da MOVIT destaca-se pela inversão da tendência. Enquanto muitas empresas recuaram ou consolidaram posições, a antiga Portir acelerou: multiplicou por sete a faturação, expandiu para Espanha, reforçou a equipa e reposicionou-se com uma nova identidade visual e estratégica. É neste contexto de transformação que a Supply Chain Magazine entrevistou Nuno Fonseca, Managing Partner da MOVIT.

SCM – O Nuno chegou à Portir em julho de 2023. O que o atraiu no projeto e que missão assumiu ao entrar?

Nuno Fonseca – Quando chegámos à Portir, percebemos rapidamente o potencial de transformação que a empresa tinha. Havia uma base sólida, uma operação com mais de duas décadas de experiência, mas também uma enorme vontade de crescer, modernizar e internacionalizar a empresa.
O desafio era precisamente esse: transformar uma excelente pequena empresa num player ibérico com ambição global, mantendo a proximidade e a agilidade que sempre a distinguiram. A missão foi, desde o primeiro dia, preparar a organização para esse salto: estruturar equipas, investir em tecnologia e criar uma cultura capaz de sustentar o crescimento que queríamos alcançar.

O percurso da empresa é impressionante: passaram de 6 para 45 milhões de euros, de 1 para 6 escritórios, de 8 para 100 pessoas. O que foi determinante para este salto? E o que mais o surpreendeu?

O crescimento foi o resultado de uma conjugação de fatores: foco, investimento e pessoas. Estruturámos uma estratégia clara, investimos onde era necessário, nomeadamente em tecnologia e nas nossas equipas e, sobretudo, acreditámos na capacidade de executar. Em dois anos, passámos de 8 para 100 colaboradores e de 6 para cerca de 45 milhões de euros de faturação. O que mais me surpreendeu foi a capacidade da equipa em adaptar-se a um ritmo de crescimento tão acelerado, mantendo a qualidade de serviço e a proximidade com o cliente.

 

Ainda sobre o crescimento, que pilares — talento, especialização, investimento tecnológico… — explicam essa evolução?

Os três pilares fundamentais foram o talento, a especialização e a tecnologia. Investimos fortemente em atrair e reter profissionais qualificados, o que não é fácil num setor onde “contratar bem” é cada vez mais difícil, reforçámos a especialização das equipas por setor e apostámos em ferramentas que nos permitem integrar dados e melhorar a eficiência operacional. Esta combinação é o que nos permite oferecer soluções verdadeiramente personalizadas e competitivas.

 

Quando uma empresa cresce tão rápido, o desafio deixa de ser apenas crescer e passa a ser consolidar. Onde é que foca atualmente as suas prioridades?

Estamos a atravessar uma fase de consolidação. O foco agora é reforçar a estrutura interna, estabilizar processos e continuar a investir em tecnologia para ganhar eficiência e capacidade analítica. Ao mesmo tempo, estamos a preparar a expansão internacional com solidez financeira, trabalhamos exclusivamente com capitais próprios, não temos dívidas, o que nos dá liberdade estratégica e resiliência num contexto económico mais desafiante.

 

O comércio internacional vive um momento de grande instabilidade — tensões geopolíticas, custos de transporte voláteis, novas exigências regulatórias. De que forma este contexto global influencia a vossa estratégia e o dia a dia da operação?

O abrandamento da economia europeia e a desaceleração do comércio internacional têm naturalmente impacto direto no negócio. Ainda assim, encaramos este contexto como uma oportunidade para otimizar e diferenciar. A nossa estratégia é de prudência, mas também de avanço: queremos continuar a crescer com base em decisões sustentáveis e em investimento próprio. Sendo certo que nestes momentos em que o contexto é um pouco mais duro, também o processo de seleção das espécies é mais agressivo e os mais ágeis e adaptáveis serão aqueles que sobrevivem e terão sucesso.

 

Como se mantém a cultura e a energia de uma equipa que cresceu dez vezes num tão curto intervalo de tempo?

Com muita comunicação e proximidade. Mantemos uma cultura muito centrada nas pessoas, trabalhamos lado a lado, partilhamos objetivos e celebramos resultados. Acreditamos que o crescimento só faz sentido se for acompanhado por uma cultura sólida, onde todos se sintam parte do projeto. Desenvolvemos a nossa organização interna e canais de comunicação que ajudam a manter essa coesão, mesmo com equipas distribuídas por várias cidades e países.

 

Insistem muito na ideia de soluções personalizadas e equipas especializadas por setor: automóvel, energias renováveis, farmacêutico, alimentar… Porquê esta aposta e que valor traz ao cliente?

A logística é uma área onde o detalhe faz toda a diferença. Cada setor tem as suas particularidades e exigências, seja na gestão de prazos, certificações, armazenamento ou transporte. Ao termos equipas especializadas por setor, conseguimos compreender melhor o negócio do cliente e oferecer-lhe soluções ajustadas às suas necessidades. Esta personalização traduz-se em eficiência, fiabilidade e numa relação de confiança duradoura.

 

Que importância tem a tecnologia na estratégia da empresa? É eficiência ou também proximidade com o cliente?

Ambas. A tecnologia é o motor que nos permite ser mais eficientes, mas também mais próximos. Temos previsto investir 500 mil euros em tecnologia ao longo de 2026, com vários projectos orientados à eficiência, proximidade ao cliente e melhoria da estrutura de dados, já com alguma inteligência artificial envolvida. Queremos que a informação flua entre todos os atores da cadeia logística de forma eficiente e integrada.

 

Num case study com a Cargofive, lê-se que reduziram em 40% o tempo de resposta a cotações. O que foi preciso mudar internamente para chegar aí? Foi mais difícil mudar a tecnologia ou a mentalidade das equipas?

Foi preciso mudar ambas, mas o mais desafiante é sempre o fator humano. A tecnologia dá-nos as ferramentas, mas é a mentalidade das equipas que garante a transformação.

 

O rebranding surge como um novo capítulo na história da empresa. O que simboliza a nova identidade e o que quer comunicar ao mercado? O que espera que os clientes sintam ao vê-la?

O rebranding para MOVIT simboliza o que nos tornámos: uma marca sólida, dinâmica e global. O nome vem da expressão inglesa move it movimento, ação, energia e reflete exatamente o que queremos comunicar: que estamos sempre em movimento, a aproximar pessoas e a encurtar distâncias. A nova identidade visual conjuga confiança, proximidade e ambição. Queremos que os clientes sintam que, mais do que uma mudança estética, é uma evolução natural da empresa e do serviço que prestamos.

 

O que mais o entusiasma e desafia todos os dias neste projeto?

O que mais me entusiasma é a possibilidade de construir algo com impacto. Uma marca portuguesa que está a ganhar escala internacional, sustentada em pessoas e valores sólidos. O desafio é manter o ritmo sem perder a essência: continuar a crescer, mas com responsabilidade, proximidade aos clientes e parceiros, qualidade, mas sempre com pessoas felizes. Crescer por crescer não nos atrai.