A GS1 Portugal revelou os resultados do 13.º Benchmarking Supply Chain. Matudis e Sonae MC lideram um estudo que destaca seis tendências decisivas: digitalização, sustentabilidade, colaboração, novos modelos de negócio e eficiência na cadeia de abastecimento.
A GS1 Portugal apresentou, na LogiPack 2025, os resultados da 13.ª edição do Benchmarking Supply Chain, estudo que, ano após ano, se afirma como uma das principais ferramentas de gestão e análise do desempenho da cadeia de abastecimento em Portugal. Esta edição contou com 27 fornecedores e 10 retalhistas, incluindo pela primeira vez o Lidl e o E.Leclerc, reforçando a abrangência e representatividade do painel de participantes.
“O Benchmarking Supply Chain é mais do que um retrato do setor — é uma ferramenta prática para identificar oportunidades de melhoria e promover uma colaboração mais eficaz entre fornecedores e retalhistas”, afirmou Paulo Gomes, diretor-geral da GS1 Portugal.
“Ao medir e comparar desempenhos, conseguimos transformar dados em ações concretas que aumentam a eficiência, reduzem desperdícios e fortalecem a competitividade da cadeia de abastecimento nacional”, sublinhou.
Matudis e Sonae MC lideram rankings
Nos resultados globais, a Matudis destacou-se entre os fornecedores, seguida da Sumol+Compal, Coca-Cola, Delta Cafés e Primedrinks.
No universo dos retalhistas, o pódio foi ocupado pela Sonae MC, Pingo Doce e Auchan, confirmando a consistência operacional e o investimento na otimização dos fluxos de supply chain.
Os melhor classificados em ambas as categorias foram distinguidos no evento que teve a feira Logipack como pano de fundo. Tanto fornecedores como retalhistas destacaram o valor do estudo como instrumento de colaboração e reconhecimento do desempenho, aproveitando a ocasião para agradecer aos seus parceiros de negócio e sublinhara que o prémio reflete o trabalho das suas equipas. Em paralelo, alguns assumiram também o desafio de manter e reforçar o bom posicionamento nas edições futuras.
O estudo da GS1 Portugal avaliou dimensões que vão desde o cumprimento de prazos de entrega, eficiência administrativa e alinhamento de dados, até à colaboração e comunicação entre equipas. A metodologia assenta em análises cruzadas de questionários, indicadores operacionais (KPI) e entrevistas qualitativas, garantindo uma visão integrada entre as operações, os serviços centrais e as lojas.
Do lado dos retalhistas, a 13.ª edição registou uma descida geral nas importâncias atribuídas às diferentes variáveis em comparação com o ano anterior. Ainda assim, o cumprimento de prazos de entrega e a atualização das bases de dados mantêm-se no topo das prioridades.
Ganhou também destaque o registo de novos produtos e promoções, tema que ascendeu ao Top 10 de importância, e onde as avaliações aos fornecedores foram mais baixas, revelando uma oportunidade concreta de melhoria.
O processo de faturação assumiu maior relevância, impulsionado pela valorização da clareza e conteúdo das faturas e pela necessidade de reduzir erros de quantidades e preços, que continuam a gerar custos administrativos e operacionais significativos.
Fornecedores reforçam aposta na digitalização
Entre os fornecedores, o tempo de espera na recolha da documentação registou a maior subida em importância, passando a ser um tema central na avaliação. Em contrapartida, a construção de relações sólidas com os retalhistas, que em 2024 ocupava a primeira posição, desceu agora para o sexto lugar.
Os fornecedores concentram-se cada vez mais na eficiência dos processos e na automação, valorizando fatores como:
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Atualização e alinhamento de bases de dados;
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Rapidez na descarga de mercadorias;
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Automatização das mensagens EDI (ORDERS, DESADV, RECADV, INVOICE);
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Agilidade no processamento de faturas.
Esta mudança traduz uma maturidade digital crescente e a transição para uma gestão baseada em dados e integração tecnológica, mais do que em relações pessoais ou perceções qualitativas.
Apesar de uma melhoria geral nas avaliações face à edição anterior, o estudo destaca a recorrência de erros entre encomendas pedidas e recebidas como um dos principais fatores críticos.
O indicador mantém-se entre os mais importantes e com avaliação média inferior, evidenciando a necessidade de maior rigor na comunicação de quantidades e prazos, bem como na sincronização entre sistemas de informação de fornecedores e retalhistas.
Seis tendências que vão moldar o futuro da supply chain
A GS1 Portugal identifica seis macrotendências que estão a redefinir a estrutura e a gestão das cadeias de abastecimento, e que se refletem diretamente nas perceções recolhidas no estudo:
- Gestão da Cadeia de Abastecimento
O foco desloca-se da otimização isolada de processos para a orquestração integrada da cadeia, com métricas partilhadas e transparência nos fluxos de informação. A gestão de risco e a capacidade de reação rápida a ruturas ou picos de procura tornam-se fatores diferenciadores. -
Digitalização e Tecnologia
A automação dos processos, a normalização das mensagens EDI e o alinhamento dos ficheiros-mestre ganham preponderância. A tecnologia é vista como alavanca de eficiência, mas também como uma forma de reduzir erros e melhorar a rastreabilidade. A adoção de standards GS1 mantém-se um elemento estruturante nesta transição. -
Modelo de Negócio
A digitalização obriga a repensar o modelo de relação comercial: mais dados, menos burocracia e maior rapidez nas decisões. O estudo mostra que as empresas que melhor se adaptam são aquelas que integram logística, procurement e IT numa mesma estratégia operacional. -
Sustentabilidade
Embora transversal, a sustentabilidade começa a ser traduzida em métricas operacionais: otimização de rotas, embalagens reutilizáveis, eficiência energética e redução de desperdício. A eficiência logística e o cumprimento de prazos deixam de ser apenas metas económicas — passam a ser também metas ambientais. -
Colaboração
A colaboração mantém-se como uma prioridade declarada, mas nem sempre praticada. O estudo revela que as relações sólidas entre fornecedores e retalhistas perderam peso face à eficiência digital — um alerta para o risco de se perder a componente humana da cadeia. A GS1 defende que colaboração e tecnologia devem coexistir, não competir. -
Desafios e Perspetivas Futuras
O setor enfrenta um duplo desafio: a pressão para reduzir custos e emissões e a necessidade de investir em sistemas digitais robustos. O futuro da supply chain passa por cadeias mais conectadas, baseadas em dados, e com capacidade de resposta em tempo real às variações da procura e às disrupções globais.
Em síntese, o 13.º Benchmarking Supply Chain confirma que o setor português de Grande Consumo está num momento de transição estrutural: entre o relacionamento tradicional e a eficiência digital, entre a operação manual e a automação inteligente. A competitividade dependerá, cada vez mais, da integração tecnológica, da qualidade dos dados e da capacidade de colaboração entre todos os elos da cadeia.



