Inserida na conferência da GS1 Portugal na Logipack — “A revolução na codificação dos bens de grande consumo: as oportunidades e desafios da codificação bidimensional” — a mesa redonda “Sustentabilidade, circularidade e legislação europeia: a longa vida dos materiais de embalagem” juntou Marta Résio (moderadora e diretora de Sustentabilidade da GS1 Portugal), Anabela Ponte (Sociedade Ponto Verde), Márcia Damas (Eletrão), Pedro Simões (Novo Verde) e Pedro Lago (SDR Portugal). Em discussão, o novo quadro regulatório europeu, a operacionalização da circularidade e o papel habilitador dos códigos 2D ao longo de toda a cadeia.
Abrindo a conversa, Marta Résio enquadrou a transição regulatória e a urgência operacional: PPWR (Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagem), ecodesign, ecomodulação e responsabilidade alargada do produtor. “O objetivo comum é claro: dar mais vidas à embalagem, com sistemas interoperáveis e informação fiável para todos os intervenientes.”
Para Márcia Damas (Eletrão), o balanço dos últimos anos é positivo, mas insuficiente face às metas:
“Há progresso, mas não podemos festejar. Persistem falhas na separação e o espaço disponível em aterro está a esgotar. Precisamos de medidas estruturantes — mais articulação na cadeia, inovação tecnológica na triagem e liberdade para redes de recolha complementares.”
Esta responsável defendeu ainda ecomodulação mais inteligente:
“O ecovalor não pode ser cego. Uma embalagem que inviabiliza a reciclagem não deve pagar o mesmo que outra bem desenhada. É assim que orientamos o mercado.”
Anabela Ponte (Sociedade Ponto Verde) sublinhou a importância do ecodesign “a montante”:
“A decisão de projeto dita a circularidade. Apoiamo-la com ferramentas como o Ponto Verde Lab e o Pack for Sustain, que avaliam o grau de circularidade e apontam melhorias concretas, desde materiais a rótulos e tampas.”
Sobre o futuro próximo:
“A ecomodulação harmonizada traz um sinal financeiro claro a partir de 2026. Quem desenhar melhor, paga menos. E os códigos 2D GS1 podem alimentar estas plataformas com dados fiáveis de produto.”
Da teoria à prática: dados, rastreio e passaporte digital
Pedro Simões (Novo Verde) pediu foco em dados acionáveis e matérias-primas secundárias:
“Sem mercados de reciclado robustos não há incorporação possível. O Passaporte Digital do Produto pode ser o elo: composição, reciclabilidade, conteúdo reciclado e instruções de deposição — tudo legível por código 2D e reportável aos sistemas de responsabilidade do produtor.”
Exemplificou com iniciativas setoriais e a criação de um observatório dos plásticos para medir produção, reciclagem e incorporação: “Decidir sem medir é avançar às cegas.”
Pedro Lago (SDR Portugal) apresentou o Sistema de Depósito e Reembolso como acelerador de circularidade:
“Vamos operar 2.500 pontos automáticos, 8.000 manuais e ~50 quiosques de alta capacidade. O sistema será conveniente, simples e rápido. A meta é >90% de reciclagem de embalagens de bebidas em três anos.”
E deixou o ponto-chave comportamental:
“Ao monetizar o depósito, o cidadão percebe o valor da embalagem no fim de vida. É a faísca que faltava para mudar o paradigma.”
Onde entram os códigos 2D?
A convergência técnica e regulatória tem um enabler comum:
-
Na indústria/retalho: um único código 2D transporta GTIN + lote + validade + origem e integra regras de descontos dinâmicos e bloqueio de vendas fora de prazo, reduzindo desperdício.
-
Na gestão de resíduos: instruções de reciclagem por material, rastreio unitário para SDR, prova de circularidade e conteúdo reciclado.
-
No compliance: alimentação do Passaporte Digital e simplificação do reporte declarativo (RAP/ecomodulação).
-
Para o consumidor: informação clara e orientação de deposição “no bolso”, via smartphone.
Consensos e próximos passos
-
Mais ecodesign e ecomodulação para alinhar incentivos.
-
Digitalização com códigos 2D GS1 para garantir dados confiáveis ao longo do ciclo.
-
Infraestruturas de recolha (SDR e redes complementares) para captar volume com qualidade.
-
Transparência e medição (observatórios setoriais) para orientar investimento.
-
Cidadão no centro, com conveniência e informação simples.
Em síntese: a “longa vida” das embalagens nasce no design, ganha tração nos dados (via 2D GS1), escala na recolha (SDR e canais complementares) e fecha o ciclo com mercados de reciclado confiáveis. O resto é execução. E colaboração.



