Como farmacêutico formado no Brasil, com mais de uma década de atuação em supply chain hospitalar e experiência internacional em ambientes regulados pela ANVISA e pela União Europeia, aprendi que cada grau de temperatura e cada decisão logística influenciam diretamente a eficácia terapêutica e a segurança do doente. O supply chain na saúde deixou de ser um setor meramente operacional. Hoje é um sistema clínico estratégico, no qual tecnologia e automação asseguram qualidade, rastreabilidade e confiabilidade em cada etapa.
O ciclo inicia-se no planeamento da procura, apoiado por sistemas ERP e Business Intelligence (BI), que permitem previsões mais precisas e redução de ruturas em até 30% (IQVIA, 2022). Na qualificação de fornecedores, as soluções digitais garantem auditorias documentais, monitorização em tempo real e conformidade com as Boas Práticas de Distribuição (GDP) e com a RDC 304/2019 da ANVISA, assegurando que apenas produtos validados integrem a cadeia assistencial.
Na receção e armazenagem, o uso de RFID, endereçamento inteligente e integração ERP/WMS eleva a acurácia de inventário acima de 98% e reduz erros de conferência em 70% (GS1 Healthcare, 2023). Essas tecnologias transformam dados em evidências de qualidade, fundamentais para auditorias e rastreabilidade regulatória.
Durante a distribuição interna, o emprego de dispensários eletrónicos (ADCs) e rastreabilidade digital do lote ao doente reduz erros de medicação em até 40% (ISMP, 2023), fortalecendo a ligação direta entre logística e segurança clínica. Cada movimento é registado, analisado e documentado porque, em saúde, não existe margem para falhas.
O farmacêutico hospitalar é protagonista neste ecossistema. A automação não substitui o olhar clínico, mas amplia a capacidade analítica, permitindo decisões mais seguras e baseadas em evidências. É o profissional que conecta processos, tecnologia e cuidado, atuando como guardião da segurança do doente.
A excelência operacional transforma-se em excelência clínica quando cada processo é planeado, rastreável e automatizado. Nos hospitais inteligentes, tecnologia, ciência e propósito convergem num mesmo objetivo: salvar vidas com segurança e eficiência.
Fontes técnicas: IQVIA (2022), GS1 Healthcare (2023), ISMP (2023), RDC 304/2019 (ANVISA), GDP Guidelines (UE, 2013).
Francisco Holanda, Farmacêutico | Experiência em Supply Chain na Saúde e Segurança do Paciente