Análise, resiliência e adaptação. Estas são três valências que um profissional de procurement deve reunir, na ótica do diretor de Materials Management da The Navigator Company, José António Rodrigues. Quanto ao maior desafio, identifica o equilíbrio entre o abastecimento ao negócio e o controlo de custos, garantindo a qualidade e o serviço.
O que levou a escolher esta profissão?
Foi uma evolução natural dentro da empresa. Eu liderava uma equipa responsável pelo abastecimento de materiais de embalagem e fui desafiado para ser o gestor de categoria desses produtos. Conhecia os produtos e os fornecedores e decidi avançar, num período em que a The Navigator Company investia na criação de uma equipa de procurement com gestores de categoria especializados para as maiores rubricas de despesa da empresa. O investimento da Navigator foi considerável e direcionado para a formação da equipa. Foram reformulados os métodos de trabalho e criadas as bases para os processos que ainda hoje são seguidos. Desde então, motiva-me a forma como o procurement cria valor real para a organização.
Qual o maior desafio para uma equipa de procurement dentro da organização?
Dentro de uma organização, o procurement tem, desde logo, um equilíbrio difícil e diário entre assegurar o abastecimento ao negócio e o controlo de custos, garantindo sempre as especificações de qualidade e serviço.
São estes os três pilares fundamentais, que podem variar em importância relativa consoante o contexto em que decorrem os processos de aquisição de contratualização ou outros. Primeiro, para garantir o abastecimento estável, sustentado e consistente ao longo do tempo, é necessário planear, pensar de forma estratégica e estruturada para mitigar riscos. Exemplo deste desafio foi o período da Covid-19, que colocou todas as áreas à prova e o procurement não foi exceção. Conhecíamos os riscos e a necessidade de proteger o negócio. Tínhamos trabalhado no sentido da diversificação das fontes de fornecimento e essa estratégia relevou-se fundamental. Foi uma experiência limite de resiliência, dedicação e trabalho em equipa.
O segundo pilar é o controlo de custos. Organizações como a Navigator competem no mercado global, mas com uma estratégia sólida de sustentabilidade. É fundamental otimizar todos os custos para assegurar a continuidade do negócio, mas sempre com integral respeito pelas melhores práticas sociais, ambientais e de governance. É uma preocupação diária da equipa e cada colega sabe o quanto os seus contributos são importantes para os resultados da empresa. É a forma como o procurement cria valor.
O terceiro pilar resulta da constante necessidade de otimizar e desafiar as especificações internas de qualidade e de serviço. Requer um trabalho de equipa com os clientes internos, é cooperação, mas também discussão, diálogo e argumentação, para que, no final, se atinja um ponto que seja o melhor para a companhia.
Quais as três competências-chave que mais valoriza ou considera fundamentais num profissional de compras e procurement?
É essencial a capacidade de análise. Um profissional de procurement analisa de forma racional os mercados, os fornecedores, os consumos e as especificações. Deve encontrar nos dados e na informação que recolhe de diferentes fontes, as alavancas para as negociações. Prepara as negociações, dispõe de dados e antecipa questões. Deve ver oportunidades para a sua empresa, mas também para os fornecedores.
A segunda característica é a resiliência, deve ser capaz de lidar com a tensão e o insucesso uma e outra vez, tentar de novo, lidar com a adversidade e entendê-la como parte da sua função.
Por último, mas não menos importante, é a capacidade de adaptação. A diversidade de situações que são colocadas no dia a dia a um profissional de procurement não é compatível com rigidez de abordagens, metodologias estanques ou conformismos. Terá de ser um profissional pronto e motivado para reagir e alterar a abordagem de forma célere sempre que necessário.



