Relatório global revela que metade das empresas está atrasada na redução das emissões Scope 3. A Capgemini defende que a transformação das cadeias de abastecimento é urgente para cumprir o Acordo de Paris e garantir competitividade.

A indústria é responsável por mais de 35% das emissões globais de gases com efeito de estufa e cerca de 70% deste impacto provém das emissões indiretas da cadeia de valor (Scope 3). A conclusão é do mais recente relatório da Capgemini, Building Sustainable Value Chains, que alerta para o risco de um aumento da temperatura global entre 4,1 ºC e 4,8 ºC até 2100, caso não sejam tomadas medidas de descarbonização mais ambiciosas.

Apesar da urgência, os desafios são claros: 50% das empresas admitem estar atrasadas na redução de emissões Scope 3 e 67% não acreditam ter capacidade para desenvolver planos de descarbonização completos. Entre as barreiras mais referidas estão a dificuldade em justificar investimentos, a complexidade na medição e reporte das emissões e a baixa escalabilidade das tecnologias de baixo carbono.

Ainda assim, a Capgemini sublinha que a sustentabilidade deve ser encarada como uma oportunidade de negócio. A redução de consumos energéticos, a mitigação de taxas de carbono e a otimização de operações podem traduzir-se em ganhos financeiros significativos. O relatório destaca casos concretos, como a redução da pegada de embalagens de 10 kgCO₂e para 3 kgCO₂e, ou projetos na indústria automóvel que cortaram 27% das emissões Scope 1 e 13% das Scope 2 em múltiplas fábricas.

O estudo identifica três pilares para acelerar a transformação: design sustentável de produto, manufatura sustentável e supply chains responsáveis e transparentes. Estes devem ser apoiados por tecnologias como gémeos digitais, inteligência artificial e sistemas de rastreio de carbono, já aplicados por fabricantes que monitorizam redes com milhares de fornecedores e centenas de milhares de produtos.

“A transformação digital e a IA são uma oportunidade para acelerar a descarbonização, melhorar a tomada de decisão e tornar as cadeias de abastecimento mais flexíveis”, afirmam Cyril Garcia, Group Executive Board Member e Head of Sustainability, e Charlotte Pierron-Perlès, Global Head of Intelligent Industry, da Capgemini.

Para a consultora, a construção de cadeias de valor sustentáveis vai muito além da conformidade regulatória: representa uma oportunidade de crescimento, resiliência e diferenciação competitiva para as empresas que liderarem a transição.

Imagem: Freepik