A Comissão Europeia anunciou um novo “Pacote de Mobilidade Militar”, que prevê um investimento de 17 mil milhões de euros em infraestruturas de transporte. O objetivo é garantir rapidez e eficácia no movimento de equipamento militar, sobretudo em direção às fronteiras a leste da União Europeia, mas o plano terá também benefícios diretos para o setor logístico e para a economia.
A iniciativa surge num contexto de crescente preocupação com a segurança europeia. Tal como recorda John Manners-Bell, analista da Ti Insight, líderes europeus como Charles Michel já tinham alertado em 2024 para a necessidade de colocar a economia da UE “em pé de guerra” face à ameaça russa, que pode materializar-se até 2030.
Segundo a Comissão Europeia, o pacote irá identificar infraestruturas críticas, reforçar a sua resiliência e criar um quadro regulatório harmonizado para permitir movimentos militares “sem fricção” em todo o continente. O plano inclui revisão da legislação de transporte e articulação com outras políticas comunitárias, como energia e fiscalidade.
O investimento, de 17 mil milhões de euros, incidirá em novas pontes, estradas e linhas ferroviárias, bem como na modernização e alargamento de infraestruturas já existentes. Apostolos Tzitzikostas, responsável pela Direção-Geral de Transportes da Comissão, sublinhou que atualmente o transporte de equipamento pesado da Europa Ocidental para a fronteira oriental pode demorar semanas ou até meses, devido às limitações físicas das vias.
Para além da dimensão militar, o pacote terá um claro efeito de “dupla utilização”, uma vez que o reforço da capacidade portuária, rodoviária e ferroviária eliminará estrangulamentos também sentidos pelo setor privado. Ainda assim, associações como a CLECAT (que representa transitários e operadores logísticos europeus) defendem que é essencial uma coordenação transparente e a definição de corredores prioritários.
Outros desafios destacados incluem a flexibilidade das regras laborais para motoristas em contexto de emergência, a interoperabilidade ferroviária entre fronteiras (ainda muito limitada), assim como a articulação entre forças armadas, governos e operadores privados. Como sublinha Josef Doppelbauer, diretor-executivo da Agência Ferroviária da União Europeia, “mesmo os corredores principais da Europa continuam a sofrer com falta de interoperabilidade técnica”.
A análise completa foi publicada por John Manners-Bell no portal Ti Insight, que destaca que a eficácia desta estratégia dependerá da capacidade da UE em alinhar infraestruturas, regulamentação e setor privado para responder a cenários de crise.



