Alinhar estratégia com execução é o que move a diretora de Compras do Grupo Hoti Hotéis, Raquel Vidal, que acredita na importância de o procurement estar alinhado com as diferentes áreas de negócio, deixando de ser reativo e passando a ser um parceiro proativo e gerador de valor.
O que a levou a escolher esta profissão?
A minha carreira desenvolveu-se na interseção entre a logística, a gestão operacional e comercial e a análise estratégica. Durante quase duas décadas estive ligada à indústria de bens de grande consumo, atuei em contextos altamente exigentes e competitivos, com forte orientação para o cliente, para a eficiência e para a inovação nos processos de distribuição e abordagem ao mercado. Foi nesse ambiente que fui acumulando experiência em várias frentes do negócio, o que me deu uma visão integrada da cadeia de valor. O procurement surgiu como uma consequência natural desse percurso — uma área em que posso aplicar pensamento crítico, antecipar necessidades e transformar processos em soluções com impacto.
Assumir a Direção de Compras do Grupo Hoti Hotéis representou um novo desafio num setor exigente e dinâmico, em que cada compra pode condicionar a experiência do cliente. O que me move é exatamente isso: alinhar estratégia com execução, garantindo que cada decisão serve o propósito e eleva o serviço.
Qual o maior desafio para uma equipa de procurement dentro da organização?
Numa cadeia hoteleira com unidades tão diversas como o Grupo Hoti Hotéis, o maior desafio é manter o equilíbrio entre centralização estratégica e autonomia operacional. É essencial garantir padronização, compliance e eficiência, mas sem ignorar as especificidades locais — desde o tipo de serviço até à sazonalidade ou ao perfil do cliente.
Outro desafio estrutural é a qualidade da informação disponível. Dados de qualidade e processos integrados são a base para decisões informadas, eficazes e sustentáveis. A isso junta-se a necessidade de alinhamento transversal com equipas operacionais, para que a função de procurement deixe de ser apenas reativa e passe a ser um parceiro proativo e gerador de valor para o negócio.
Acrescenta-se ainda a responsabilidade crescente de integrar critérios de sustentabilidade ambiental e social nas decisões de compra. Hoje, a exigência do mercado — e do próprio setor — demanda uma abordagem consciente e responsável, com impacto a longo prazo.
Quais as três competências-chave que mais valoriza ou considera fundamentais num profissional de compras e procurement?
Valorizo, antes de mais, uma visão estratégica com sensibilidade operacional — a capacidade de perceber o impacto real de cada decisão de compra na operação, nos resultados e no cliente final. Essa visão deve vir acompanhada de uma consciência crítica sobre sustentabilidade, integrando critérios ambientais e sociais desde a origem dos processos.
Considero também essencial a negociação ética e o pensamento colaborativo. O procurement moderno vive de relações duradouras, construídas com base em confiança, qualidade e objetivos partilhados, e não apenas no fator preço. Saber ouvir, entender o contexto do parceiro e procurar soluções win-win é, para mim, uma competência diferenciadora.
Por fim, acredito profundamente num estilo de liderança mobilizadora — aquele que envolve as equipas, constrói pontes entre áreas e transforma complexidade em ação com clareza, agilidade e foco em valor. A liderança em procurement é, cada vez mais, sobre criar alinhamento e gerar confiança à volta de decisões que têm impacto direto no presente e no futuro da organização.