A CLECAT, associação europeia que representa os transitários e operadores logísticos, deixou um alerta claro durante o Port Strategy Dialogue, encontro promovido pelo Comissário Europeu Apostolos Tzitzikostas em Bruxelas: os portos da União Europeia não podem perder competitividade face a alternativas extracomunitárias, sob pena de comprometerem a sustentabilidade das cadeias logísticas europeias.

O encontro, que reuniu decisores políticos e representantes da indústria, insere-se no processo de elaboração da nova Estratégia Europeia para os Portos, que deverá ser apresentada pela Comissão até ao final do ano. Em discussão estiveram prioridades como o reforço da competitividade, a transição energética e digital, a segurança, a inovação e a escassez de mão de obra no setor portuário.

A CLECAT aproveitou a ocasião para reforçar a urgência de uma abordagem estruturada à digitalização, com plena interoperabilidade de dados entre empresas, bem como para exigir respostas concretas à crescente falta de trabalhadores qualificados, nomeadamente através de programas de formação e requalificação. Dimitri Sérafimoff, presidente da CLECAT, defendeu no encontro a necessidade de garantir acesso justo e transparente aos serviços portuários, apelando a uma estratégia que vá além da infraestrutura física e considere os portos como nós logísticos críticos e não meros pontos de entrada.

Transição ecológica sem efeitos perversos

Na frente ambiental, a associação reiterou o apoio às metas climáticas da UE, mas sublinhou a necessidade de uma implementação “inteligente” de instrumentos como o EU ETS para o transporte marítimo e o FuelEU Maritime. Caso contrário, advertiu Sérafimoff, existe o risco de se verificar “carbon leakage” e desvio de tráfego para portos não sujeitos às mesmas exigências ambientais, nomeadamente fora da União Europeia.

Outro dos temas destacados pela CLECAT foi a resiliência e segurança portuária. A associação defendeu uma maior coordenação nos controlos fronteiriços e aduaneiros, medidas robustas de cibersegurança e o reforço da cooperação público–privada, por exemplo através da European Ports Alliance.

A intervenção da CLECAT surge num momento em que os portos europeus enfrentam múltiplos desafios: concorrência externa crescente, pressões regulatórias, necessidade de investimento na descarbonização e riscos crescentes ligados à cibersegurança e instabilidade geopolítica. A nova estratégia europeia pretende responder a este quadro complexo, reposicionando os portos como ativos estratégicos para o futuro da economia e da mobilidade europeias.

Entretanto, a Comissão Europeia já lançou a consulta pública sobre a futura Estratégia Portuária da UE, convidando todas as partes interessadas a contribuir para o documento estratégico que deverá nortear a política portuária nos próximos anos. A CLECAT deverá formalizar a sua posição após uma reunião interna com os seus membros, agendada para a próxima semana.