À medida que o conflito entre Israel e Irão se intensifica, cresce o receio de que os efeitos deixem de ser regionais para se tornarem globais, sobretudo no que toca às cadeias logísticas e ao transporte marítimo e aéreo. Duas análises recentes, publicadas no blogue More than Shipping, por Atakan Çelik (20 de junho) e Selcuk Koroglu (18 de junho), trazem perspetivas complementares sobre as ameaças potenciais e também sobre as já visíveis para a economia global e para as cadeias de abastecimento.
1. Corredores estratégicos sob tensão
Dois dos corredores marítimos mais críticos do mundo — o Estreito de Ormuz e o Mar Vermelho — estão direta ou indiretamente sob influência do Irão ou de aliados, o que os torna particularmente vulneráveis a perturbações:
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Estreito de Ormuz: Cerca de 20% dos líquidos petrolíferos globais passam por ali. Qualquer ameaça de bloqueio, como já foi sugerido anteriormente pelo Irão, pode ter impacto imediato nos preços do petróleo e nos fluxos de exportação/importação.
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Mar Vermelho: Já alvo de ataques por parte dos Houthis, grupo apoiado pelo Irão, esta rota enfrenta riscos crescentes, especialmente se a escalada do conflito incentivar novos ataques a navios comerciais.
2. Custos a disparar: seguros, fretes e rotas desviadas
O impacto económico já é visível:
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Seguros: Os prémios de risco de guerra aumentaram mais de 60% para os navios que atravessam o Estreito de Ormuz. Para os que se dirigem ao Mediterrâneo Oriental, em particular a portos israelitas como Haifa, os custos triplicaram.
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Rotas alternativas: Muitos armadores estão a evitar as zonas de conflito, optando por contornar o Cabo da Boa Esperança — o que implica mais duas semanas de navegação e um acréscimo superior a 1 milhão de dólares por viagem.
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Fretes: A redução nas reservas de navios-tanque e o aumento dos custos operacionais estão a pressionar os preços de transporte marítimo, que alguns operadores já consideram insustentáveis.
3. Transporte aéreo em disrupção
A par das rotas marítimas, o espaço aéreo da região está também a ser afetado. Países como a Jordânia, o Iraque e várias regiões do Golfo encerraram temporariamente corredores aéreos, obrigando a desviar voos de carga e a alterar rotas críticas para o transporte internacional.
4. Impacto nas cadeias globais de abastecimento
As consequências já se fazem sentir em vários continentes:
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Exportadores da Índia alertam para aumentos de até 50% nos custos logísticos, ameaçando a competitividade face à Europa e Rússia.
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Na Indonésia, o governo já considera que o conflito representa uma ameaça real à estabilidade económica, com potenciais efeitos inflacionários.
5. Volatilidade energética e riscos para o shipping
O conflito ameaça não só a fluidez do transporte, mas também os próprios fundamentos do mercado energético:
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O preço do petróleo subiu mais de 12% nas últimas semanas, com analistas a preverem um cenário de +100 USD por barril caso o Estreito de Ormuz seja efetivamente bloqueado.
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Um aumento generalizado dos custos de combustível teria efeitos em cadeia sobre o transporte marítimo, as cadeias de distribuição e os preços ao consumidor.
6. Para já, tudo continua a fluir, mas…
Como destaca Atakan Çelik, ainda não há evidências de que o shipping global esteja a ser diretamente atacado, mas os sinais de alarme acumulam-se. Os operadores já ponderam a introdução de surcharges de segurança, as seguradoras estão a reagir, e a volatilidade está a forçar ajustamentos logísticos.
7. Uma chamada à resiliência
Como sublinha Selcuk Koroglu, esta crise está a funcionar como um teste à resiliência das cadeias logísticas globais. Empresas e governos começam a rever as suas estratégias, procurando alternativas mais robustas e diversificadas. Para muitos, o atual cenário é o prenúncio de uma nova era do comércio internacional, menos previsível, mais cara e exigente em termos de planeamento.
Fontes: Blogue More than Shipping, Atakan Çelik (20 de junho de 2025) e Selcuk Koroglu (18 de junho de 2025)
Ilustração: Freepik, imagem gerada por Inteligência Artificial