Portugal mantém-se à frente de Espanha e Itália no mais recente Ranking de Competitividade Mundial do IMD 2025, ocupando a 37.ª posição entre 69 economias avaliadas. Os dados, divulgados em parceria com a Porto Business School (PBS), mostram um desempenho relativamente estável num contexto internacional desafiante, marcado por tensões geopolíticas, incerteza económica e pressões estruturais sobre as cadeias de abastecimento.
Apesar de ter caído uma posição face a 2024, Portugal continua a destacar-se pelas suas infraestruturas (25.º lugar) e pela eficiência governativa (35.º), dois pilares estratégicos para a atratividade logística e industrial do país. À sua frente, o ranking é liderado pela Suíça, seguida por Singapura e Hong Kong, países que se distinguem pela capacidade de inovação e dinamismo económico.
Infraestruturas: o grande ativo
No domínio das infraestruturas, Portugal subiu várias posições, impulsionado pelo reforço nas componentes básicas (16.º lugar) e científicas (26.º), bem como pela valorização da educação (21.º) e pela elevada taxa de escolarização no ensino secundário (2.º). Esta melhoria reflete-se diretamente na capacidade do país em oferecer condições sólidas para o desenvolvimento de operações logísticas, industriais e de transporte.
Com a concentração das exportações no 3.º lugar mundial e receitas turísticas no top 10 (7.º), o país mostra dinamismo nos fluxos internacionais, o que reforça a importância de dispor de hubs logísticos eficientes, resilientes e tecnologicamente preparados para suportar o crescimento.
Confiança política, mas pressão fiscal
Portugal sobe também no indicador de eficiência governativa, evidenciando progressos na gestão das finanças públicas, quadro institucional e legislação empresarial. A confiança dos investidores estrangeiros e o facto de contar com um governo democraticamente eleito colocam o país no topo mundial nestes domínios – um sinal positivo para quem procura estabilidade regulatória e previsibilidade.
Contudo, persistem constrangimentos relevantes: a carga fiscal sobre as pessoas (66.º) e a lentidão do sistema de justiça (59.º) são frequentemente apontados como fatores dissuasores do investimento e da capacidade de inovação empresarial.
Mercado de trabalho e fuga de talento: alerta vermelho
O ranking evidencia ainda fragilidades na eficiência empresarial, com destaque para a descida na produtividade e o mau desempenho dos mercados financeiros. Apesar de pontos fortes como a participação feminina na força de trabalho (8.º) e a cultura nacional de adaptabilidade (11.º), há entraves sérios à competitividade: a insuficiente formação contínua dos trabalhadores (61.º) e a elevada fuga de talentos (também 61.º) são dois dos indicadores mais preocupantes para o futuro da indústria e da logística em Portugal.
Estas limitações são agravadas por um desempenho económico global em queda, com destaque negativo para a economia doméstica (54.º) e o PIB real per capita (62.º). O desemprego jovem permanece elevado (58.º), sinalizando dificuldades estruturais em captar e reter gerações qualificadas.
Desafios estratégicos: o que falta para subir no ranking
Segundo a análise da PBS, Portugal enfrenta cinco desafios estratégicos nos próximos anos:
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Diversificar a economia, reduzindo a dependência do turismo;
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Reforçar a formação e qualificação em gestão, tecnologias digitais e transição verde;
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Reformar serviços públicos, sobretudo nas áreas da saúde, justiça e educação;
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Combater o declínio demográfico através de políticas de natalidade e imigração integradora;
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Atualizar as leis de falência e reestruturação empresarial, tornando o ecossistema mais ágil e competitivo.
Competitividade com impacto na supply chain
Numa altura em que as cadeias de abastecimento enfrentam exigências crescentes de eficiência, sustentabilidade e adaptabilidade, o posicionamento competitivo de Portugal torna-se uma variável estratégica. A atratividade de um país como plataforma logística e produtiva depende não apenas de localização e infraestruturas, mas também da qualidade institucional, capacidade de inovação e talento disponível.
Com uma base sólida em alguns desses pilares, mas desafios persistentes noutros, Portugal terá de agir de forma coordenada para consolidar e expandir a sua posição enquanto nó competitivo nas redes globais de valor.
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