Após um ano desde a invasão russa à Ucrânia, celebrado no passado dia 24 de fevereiro, o impacto económico ainda se sente a nível global, e mantém-se em ascensão. Segundo apontou o Crédito y Caución, apesar de estes dois países representarem um valor inferior a 2% do PIB mundial, “são atores-chave no bom funcionamento do comércio mundial”.

O impacto mais significativo sentiu-se no abastecimento de petróleo e gás, em que a Rússia tinha um importante papel, em especial na Europa, sendo que desde o início da guerra o seu abastecimento caiu em cerca de 80%.

Como resposta às sanções aplicadas à Rússia por parte da União Europeia, que proibiu as importações russas de petróleo e carvão, e a eliminar cada vez mais as de gás, foi necessário recorrer a abastecimentos alternativos no Médio Oriente e nos Estados Unidos, o que trouxe maiores custos associados. Para além disso, “embora os preços do gás na Europa tenham retrocedido desde o seu máximo em 2022, quadruplicam os preços anteriores à guerra”, explica a Crédito y Caución.

Em 2023 espera-se que a interrupção do fornecimento de gás russo se mantenha, e que seja parcialmente compensada por outro países, segundo apontam economistas da Atradius, e que as importações europeias de GNL aumentem em 60%, pois “embora os países europeus estejam a investir em infraestruturas tais como novos terminais, as suas necessidades excedem a capacidade de exportação disponível noutras partes do mundo e encher os depósitos de gás antes do próximo inverno será um desafio”, aponta a seguradora.

Um dos impactos indiretos dos aumentos dos preços energéticos prende-se com os custos de produção de alimentos, que faz com que se agrave a escassez de determinados produtos. “Em conjunto, Rússia e Ucrânia representavam antes da guerra cerca de 30% das exportações mundiais de trigo, 20% das exportações de milho e de cevada e cerca de 13% das exportações de fertilizantes”, explica a empresa, acrescentando que “a escassez de fertilizantes será uma limitação importante para o fornecimento mundial de alimentos em 2023”, afetando especialmente as colheitas da Europa e de África.

Ao nível das matérias-primas, ambos os países são fornecedores de importantes componentes. Se por um lado a Rússia é um fornecedor-chave de níquel, minério utilizado no fabrico de baterias, a Ucrânia pré-conflito produzia 50% do néon refinado do mundo, importante para o fabrico de semicondutores, que se já se encontravam em dificuldades de produção devido à pandemia e ao retorno repentino das produções em elevadas quantidades, com a questão da guerra ainda ficaram mais impactados.

Theo Smid, economista principal da Atradius, aponta ainda que ao nível das rotas globais, “partes do Mar Negro e do Mar de Azov não são transitáveis e as companhias marítimas fecharam rotas para evitar o espaço aéreo e os portos russos. Este desvio das rotas de carga aumenta os custos”.

“Se a guerra se prolongar, a economia mundial continuará a ser abalada pelas suas consequências diretas e indiretas”, defende a Crédito y Caución, e considera que a Europa será a mais afetada: “as previsões atuais sugerem que o crescimento do PIB da Zona Euro aumentará uns modestos 0,4% em 2023, face aos 2,7% previstos antes da guerra. Ao mesmo tempo, a inflação na região duplicou a sua taxa em 2022 face às previsões anteriores”.

Apesar de se prever um abrandamento da inflação, a seguradora espera que os preços continuem a subir quase 5%, e que pela proximidade à guerra, e dependências destes países, a Europa sofra um impacto significativo. “A guerra provocou fortes subidas dos preços da energia e dos alimentos, que diminuíram as receitas das famílias, reduziram a procura e aumentaram os custos de produção, tanto nas economias avançadas como nas emergentes”, conclui ainda a economista da Atradius, Dana Bodnar.