Ainda a recuperar os danos que a pandemia trouxe, a fabricante de facas ICEL – Indústria de Cutelarias da Estremadura está a dar continuidade ao investimento de 2,2 milhões de euros iniciado em 2020, e revela à Lusa que este ano “estão calendarizados 1,7 milhões de euros” para a área de automação, acrescentando “tecnologia e capacidade de produção, sem perda de empregos”.
“Tudo o que podemos automatizar e robotizar e em que se prevê que há mais constância da qualidade, nós fazemos”, afirma Nuno Radamanto, reforçando a importância da mão de obra para o “nível de qualidade no acabamento” dos produtos fabricados. “Tirando um tipo de facas puramente injectadas, todas as outras têm à mesma operação manuais de aperfeiçoamento e de acabamento associadas”, explica ainda.
A pandemia de COVID-19 afectou a empresa ao nível do sector da hotelaria e restauração, que parou, e com o qual se encontra “intimamente ligada”, tendo tido um impacto inicial “muito significativo”, especialmente nos primeiros dois a três meses.
Uma das primeiras apostas da empresa durante a pandemia foi direccionar as vendas para os clientes que vendiam ao consumidor final e não para os que vendiam para a hotelaria e restauração, pois as pessoas encontravam-se confinadas em casa e o consumo doméstico de facas teria de aumentar, tanto a nível interno como externo.
A empresa lançou-se nos mercados externos em 1973, exportando hoje para 80 países, e revelou à fonte que está a olhar para estes mercados à procura de crescer, o que se verificou uma boa aposta, pois com o aumento das dificuldades logísticas causado pelo aumento dos preços dos transportes levou a que mais clientes que começaram a subcontratar na Ásia voltassem a procurar produção europeia.
Apesar de a Europa ser o segundo mercado mais difícil do mundo, depois do norte-americano, a ICEL tem exportado muito para este, e aposta em “prosseguir este ano”. “As empresas europeias subiam os preços repetida e insistentemente, mesmo quando a matéria-prima não o justificava”, comenta Nuno Radamanto à fonte, o que abriu a oportunidade para que alguns dos maiores grupos de processamento europeus “começassem a considerar usar outros produtos” que “não só as facas alemãs ou suíças”.
Aproveitando esta oportunidade, a ICEL fez um trabalho de investigação e desenvolvimento durante cerca de três anos, sobretudo com um distribuidor holandês, o grupo Vion, que tem a maior parte dos matadouros da Alemanha, tendo isto permitido à empresa ter a faca de desossar “mais usada no processamento”.
Ao mesmo tempo, olharam para mercados “menos maduros que se estão a desenvolver rapidamente”, no Leste da Europa, como a Bulgária, Hungria e Polónia.
A ICEL também está a abordar directamente mercados como a Colômbia, Panamá e México, bem como todos os países da América Central que “começam a aparecer” na esfera da ICEL.
Para Espanha e América Latina, as vendas eram feitas através de uma parceria com a Buenos Hermanos, e a ICEL tem vindo a recuperar “o direito de voltar a actuar directamente em alguns desses países”, revela a empresa.
No caso dos mercados mais difíceis, no caso do Canadá o responsável admite que tem de ser visto numa perspectiva de “mudança de paradigma” num futuro próximo, e no dos EUA a ICEL mantém o foco neste mercado, apesar do atraso causado pela pandemia, e admite que o plano possa passar por “uma base logística” através de um parceiro.
A empresa também pensa num possível parceiro para a distribuição no Canadá, tendo já em tempos produzido com a marca Canada Cutlery, empresa com a qual tinha uma parceria, mas não exclui a possibilidade de o fazer directamente.