É em Paredes de Coura que se irá instalar uma fábrica para produzir a vacina contra a COVID-19, da farmacêutica Zendal. O secretário de estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, explicou ao Jornal Público, os contactos realizados pelo governo com as empresas farmacêuticas.

Esta unidade estará concluída em Dezembro de 2021, segundo a Zendal, e iniciará a produção de vacinas a partir dessa altura. “Nesta fase, é uma decisão de investimento muito interessante e muito importante para Portugal, colocando o país pela primeira vez em muitos anos como um exportador de vacinas, coisa que não éramos até esta decisão de investimento”, adianta Eurico Brilhante Dias.

A Zendal tem um acordo com a Novavax que tem actualmente uma vacina para a COVID-19 em ensaios clínicos, mas esta é uma das entidades que já tem pré-contrato com a União Europeia, aspecto considerado muito positivo pelo secretário de estado. No entanto, Portugal recebe também as vacinas da Pfizer, Moderna e AstraZeneca, entidades que “temos vindo a contactar, não só numa lógica de mostrar Portugal como um território de investimento, mas também para que empresas portuguesas possam vir, no quadro que for entendido, a participar nas cadeias de valor dessas entidades”, refere. A possibilidade de cooperação entre Portugal e estas empresas está a ser estudada e prevê-se desenvolvimentos nesta matéria entre 2021 e 2022.

Além disto, estão em curso outras negociações com vários países que vão além das vacinas contra a COVID-19, “apesar de a pandemia ter sido uma oportunidade para poder mostrar as competências que temos. Acho que, muitas vezes, não valorizamos o que já fizemos”, confessa, dando três exemplos: a empresa portuguesa do sector farmacêutico, GenIbet, que colaborou com a Moderna para o desenvolvimento da vacina; a Medinfar que desenvolveu um teste serológico que permitirá fazer, ao longo do tempo, a avaliação do nível de imunidade da população; e uma empresa logística do Norte, a APP Thermal, que desenvolveu, com a Pfizer, soluções de transporte para vacinas que precisam de uma temperatura de -70º. “O nosso contributo vai muito além das vacinas. Diria que estamos presentes em muitas fases diferentes da cadeia de valor: na de investigação e desenvolvimento, na da logística, estaremos no enchimento de vacinas com a Zendal, estamos nos testes serológicos, nos medicamentos”, afirma Eurico Brilhante Dias.

O secretário de estado acredita que se o investimento da Zendal se concretizar, a produção de vacinas em Portugal é um objectivo concreto. “Portugal não tinha qualquer unidade que estivesse no processo de produção de vacinas em massa como é este projecto. Se no fim do ano Portugal tiver esta concretização, passou a estar dentro da cadeia de produção de vacinas”, refere.

O objectivo prende-se também por manter o investimento no pós-COVID-19. “Felizmente, a COVID-19 não será o princípio, nem sequer o fim, do nosso cluster da indústria da saúde e da farmacêutica”, indica. Para isso tem em conta o trabalho realizado nos últimos anos e o que ainda falta fazer. Para Eurico Brilhante Dias é de valorizar “o facto de Portugal passar a estar dentro do processo depois do investimento da Zendal. Mas temos de ir para além disso, o futuro é podermos ter maior produção de produtos farmacêuticos em Portuga, esse é o objectivo”.

Em relação ao problema com o abastecimento de vacinas em toda a União Europeia, o secretário de Estado acredita que, com algumas adaptações, Portugal poderia apresentar-se como uma solução do ponto de vista da capacidade de preenchimento. Contudo considera que a questão principal se prende com o acesso a matéria-prima, “essa capacidade de ter matérias-primas muito específicas para a produção destas vacinas, é uma questão em que é preciso desenvolver competências muito próprias”, explica. Para aumentar a escala de produção no futuro estas empresas terão de equacionar duramente as cadeias de abastecimento, segundo Eurico Brilhante Dias.